Pergunta : Lucas ( Universidade Federal do Mato Grosso )
Olá, tudo bem? Gostaria que comentasse mais sobre o dia-a-dia (horas + estresse) e remuneração do profissional infectologista. Além disso, qual a demanda por consultas particulares na área?
Se possível, como estou no último ano e em dúvida entre infectologia, patologia e medicina nuclear, também gostaria de um parâmetro comparativo entre essas áreas e qual delas seria melhor no quesito qualidade de vida e retorno financeiro sendo que pretendo morar em SP capital.
Resposta :
A infectologia foi uma das especialidades que mais progrediu em termos de status nos últimos anos. Anteriormente rotulada como especialidade que tratava somente de doenças raras e crônicas como esquistossomose , calazar e doença de chagas, com o aparecimento da AIDS e novas doenças como Influenza H1N1 e agora o corona vírus evoluiu para um aumento significativo da clientela.
Além disso, desde a morte do presidente Tancredo Neves, vitima de infecção hospitalar, passou a ser exigido dos hospitais a criação das comissões de controle de infecção hospitalar com normas rígidas de funcionamento, abrindo um mercado interessante em termos de consultoria para os profissionais dessa especialidade.
O mercado ainda é carente de profissionais, tanto na área de consultórios como nas solicitações de pareceres em pacientes internados em aptos, enfermarias e unidades de tratamento intensivo.
Esse é o principal mercado em cidades grandes ( consultórios próprios que até independem de convênios porque lida com casos especiais, centros de saúde, pareceres em pacientes internados com infecções resistentes e consultoria na organização e acompanhamento de CCIHs )
No momento, a epidemia de Dengue e Zica em várias cidades tb estimula o mercado de infectologia, além de toda essa confusão atual com o covid-19.
Em cidades do norte do Brasil, o controle de doenças como febre amarela e malária tb é um mercado promissor para esses especialistas na área de saúde publica principalmente.
Pela AIDS, pelas novas doenças infecciosas que vão continuar aparecendo periodicamente, pelas CCIHs e pelo consequente aumento rápido da clientela, a DIP passou a ser uma das melhores especialidades do momento.
Patologia :
A patologia clínica realmente não é uma boa especialidade médica. Além do profissional competir com farmacêuticos e bioquímicos, que normalmente gerenciam esses serviços e ficam enciumados com médicos ocupando o espaço que consideram deles, o mercado de laboratórios está cada vez mais “consolidado”, ou seja está sob o controle dos grandes grupos, que dominando o mercado, colocam os salários dos profissionais bem abaixo do que deveriam.
Não existe mais espaço para laboratórios pequenos e artesanais pois os planos de saúde pagam valores pequenos por exames e os laboratórios pequenos não conseguem ter escala para gerar altos faturamentos e ficam com equipamentos ociosos.
Os fabricantes dos equipamentos laboratoriais mais modernos, que são caros, trabalham em sistema de comodato e exigem compra mínima alta de kits, o que não é possível acompanhar com um laboratório pequeno.
Além disso, o médico especialista nessa área, não tem quase nenhum relacionamento com pacientes, perdendo o encantamento da medicina de se relacionar com pessoas e tratá-las de alguma doença.
A Medicina Legal é vista como especialidade que “cuida de cadáveres”. Entretanto, seu campo é muito mais amplo: ela auxilia a ciência das normas, o Direito, aplicando conhecimentos médico-biológicos, para que a sociedade consiga atingir um bem maior: a justiça. Na prática cotidiana, o especialista em Medicina Legal utiliza a ciência médica para esclarecer fatos que interessam em um processo judicial ou administrativo. Para tanto, ele lança mão de conhecimentos de toda a Medicina, extrapolando, às vezes, para outras áreas das ciências biológicas. Sua área de atuação são as perícias médicas de qualquer natureza, que se constituem em elementos de prova fundamentais quando as normas (penais, civis, administrativas etc) exigem conhecimentos médicos para serem executadas. A formação de um perito médico exige, além de conhecimentos médicos e de adequadas noções de Direito, o aprendizado e o domínio de critérios específicos, que estabelecem a ligação entre os parâmetros médicos e os jurídicos. No Brasil essa formação é deficiente e deformada. O Programa de Residência Médica em Medicina Legal tem como principal objetivo formar profissionais capazes de atuarem nos diversos segmentos que compõe a Medicina Legal, visando resolver problemas da justiça na esfera pericial, como mostra o presente artigo ( informações fornecidas pelo site da Faculdade de Medicina da USP –artigo do dr Dr.Daniel Munoz- titular de Medicina Legal da USP.)
A especialidade é realmente “pesada “, tanto do ponto de vista técnico porque exige grandes conhecimentos de várias áreas da medicina como clinica, cirurgia, ortopedia, neurologia, anatomia, fisiologia…, como também exige profundos conhecimentos da área jurídica. É uma especialidade onde se lida muito com a burocracia, processos volumosos, trabalhos periciais, processos indenizatórios que podem influir fortemente em futuros de famílias inteiras…
Na variada temática objeto da Medicina Legal, pode-se traduzir sua divisão, da seguinte forma:
Antropologia forense – Procede ao estudo da identidade e identificação, como a datiloscopia, papiloscopia, irologia, exame de DNA, etc., estabelecendo critérios para a determinação indubitável e individualizada da identidade de um esqueleto ;
Traumatologia forense – Estudo das lesões e suas causas;
Asfixiologia forense – analisa as formas acidentais ou criminosas, homicídios e autocídios, das asfixias, sob o prisma médico e jurídico (esganadura, estrangulamento, afogamento, soterramento, etc.);
Sexologia forense – Trata da Erotologia, Himenologia e Obstetrícia forense, analisando a sexualidade em seu tríplice aspecto quanto aos efeitos sociais: normalidade, patológico e criminológico;
Tanatologia – Estudo da morte e do morto;
Toxicologia – Estudo das substâncias cáusticas, venenosas e tóxicas, efeitos das mesmas nos organismos. Constitui especialidade própria da Medicina, dada sua evolução.
Psicologia e Psiquiatria forenses – Estudo da vontade, das doenças mentais. Graças a elas determina-se a vontade, as capacidades civil e penal;
Polícia científica – atua na investigação criminal.
Além disso existem ainda as necrópsias, que nem todos os médicos têm facilidade para lidar com elas ( nem todos especialistas em medicina legal são obrigados a fazê-las ). É uma especialidade triste e complexa e o status desses profissionais deixa a desejar. Existe mesmo um preconceito da população em relação aos legistas ( a maioria das mães não gostaria de ver seus filhos casados com uma médica legista; prefeririam que eles casassem com um clínico, um pediatra ou um cirurgião ).
Por outro lado, o mercado de trabalho é bastante bom, desde que vc tenha um bom relacionamento no meio jurídico para que possa ser indicada com frequência para atuar como perita do juiz ou mesmo perita assistente das partes envolvidas em um processo.
Uma pericia simples como de uma lesão corporal média em um acidente automobilístico ( que o perito não vai gastar mais de 2 horas para confeccionar o laudo ) pode render ao perito cerca de R$ 5.000,00, mas uma perícia grande, tipo a de um homicídio, pode render honorários acima de R$ 50.000,00.
A residência médica em Medicina Legal e Perícia tem a duração de 3 anos e são oferecidas em poucos serviços e com um número reduzido de vagas.
Medicina Nuclear :
A Medicina Nuclear é uma especialidade pouco conhecida dos médicos e muitos estudantes nem tem noção do que faz um especialista nessa área. Talvez, por isso, poucos estudantes façam essa escolha. No Brasil temos apenas 438 especialistas em Medicina Nuclear.
A Medicina Nuclear é uma especialidade que usa compostos radioativos para obter informações diagnósticas e para o tratamento de doenças. Seus procedimentos permite a determinação de informação diagnósticas sem que seja necessário, intervenções cirúrgicas, ou de outros testes diagnósticos invasivos. Os procedimentos identificam freqüentemente muito cedo anormalidades na progressão de uma doença ao longo do tempo, ou até mesmo antes da apresentação de sintomas.
Em sua forma mais básica, um estudo em medicina nuclear envolve a administração de pequenas quantidades de compostos, que são marcados com radionuclídeos gama emissores ou pósitron emissores, no organismo. O composto radiomarcado é chamado de radiofármaco, ou geralmente chamado de traçador ou radiotraçador. Existem diversos tipos de radiofármacos disponíveis que são úteis para estudar diferentes partes do corpo.
O conteúdo do programa de residência em Medicina Nuclear, geralmente abrange: Física e Biologia das radiações. Normas de proteção radiológica. Radiofarmácia. Recursos tecnológicos. Anatomia, fisiologia, fisiopatologia, indicações terapêuticas e realização e avaliação dos exames nos diversos sistemas orgânicos.
O concurso para residência médica em Medicina nuclear é classificado como de “acesso direto” e tem a duração de 3 anos, mas se vc já fez residência em clinica médica ou radiologia, esse tempo pode ser encurtado.
A procura não é muito grande. Por exemplo, no Rio de Janeiro, existem em média 6 vagas para um total de 10 candidatos.
O Mercado de trabalho é bom pelo pequeno número de profissionais e além disso permite uma boa qualidade de vida e flexibilidade de horários.
No Rio de Janeiro, onde existem poucos serviços, e todos exigem exclusividade, o salário mensal para uma carga horária de 30 – 40 h semanais, está entre 10 e 15.000,00.
Em Sao Paulo, o salário é mais do dobro desse.
Fora do eixo Rio-São Paulo aparecem ofertas entre 30 a 40.000,00 mensais.