Se perguntarmos para um leigo qual a primeira imagem que lhe vem a cabeça quando ele pensa em um médico ele provavelmente pensará numa pessoa bem vestida, sapatos engraxados, camisa impecavelmente passada, jaleco imaculado e o trato de um erudito, um comportamento sóbrio e incomum, relacionado à sua sabedoria acumulada após muito estudo e experiência.
Isto na verdade, como bem sabemos, está bem longe da realidade, pelo menos quando se trata de jovens médicos. O uniforme do médico atual é tênis de corrida, calça jeans e camiseta. Nos dias especiais, quando se sente mais vaidoso, troca esta última pela camisa polo. O jaleco é puído e o bordado ilegível. A atitude e a aparência também são discrepantes: olheiras do plantão de 24h do dia anterior, barba por fazer, cabelo desgrenhado, antipático, frequentemente interrompe a consulta para responder mensagens no smartphone…
A princípio essas coisas todas obviamente são ruins, mas inócuas. O paciente não reclama pelas suas incessantes paradas para escrever no whatsapp, seu supervisor não vai te criticar pelas suas jeans um tanto curtas que você usa desde seus 16 anos, sua cara de sono não vai fazer o paciente deixar de seguir sua prescrição…
A questão é que existem consequências invisíveis, pelo menos num momento imediato, que só se mostram posteriormente, ou até mesmo nunca serão percebidas. Mais ainda, muitas vezes nem associamos que certas situações desfavoráveis foram influenciadas pela impressão que o(s) médico(s) causou.
Tenha em mente que hoje SER e PARECER são praticamente sinônimos para as pessoas, independente de idade, nível de instrução, poder aquisitivo, etc. A primeira impressão é sempre a mais marcante pois ele provoca nas pessoas sentimentos, e esses sentimentos podem ser bons ou ruins. Geralmente, estes últimos são mais frequentes. Se quando você estiver atendendo um doente você acidentalmente perder um pouco a paciência com ele, não vai adiantar pedir desculpas. Ele não vai querer saber que você se exaltou porque passou a madrugada num plantão de 12 horas direto sem dormir em condições extremamente estressantes.
Sentimentos são lembrados por muito mais tempo do que informações objetivas. Por exemplo: o paciente dificilmente esquecerá a repulsa que sentiu por te achar um desleixado, mas nunca irá lembrar de você comentando que alguém sem querer esbarrou em você e manchou seu jaleco de café no mesmo dia, antes de você chegar no ambulatório.
Arrisco dizer que de todas as carreiras, a profissão médica é ainda a de maior prestígio social, mesmo considerando que muito deste prestígio foi perdido no passado recente e atualmente por diversas questões, principalmente por eventos de grande projeção, como por exemplo negligência médica.
Por isso, troque as jeans por calça social ou de sarja. Aposente os tênis e use sapatos sociais de couro. Ao invés de camisas de manga curta, camisas sociais, sempre dentro das calças. Cinto obrigatório, sempre combinando com o sapato. Dependendo do seu nível de entusiasmo com a idéia, pode até arriscar uma gravata. Paletó ou blazer é desnecessário. Isto para nós pode parecer exagero, mas na Inglaterra e na Austrália é obrigatório desde a graduação que os médicos usem este tipo de traje (ironicamente os jalecos são dispensáveis, sendo usado somente por professors mais respeitados).
Só esta mudança pode ser o diferencial para conquistar novas oportunidades profissionais e sociais. Não se surpreenda caso um médico mais experiente te convide a escrever um artigo com ele, ou ser convidado pro casamento daquele colega que você nem é tão íntimo assim.
Mude também seu comportamento. Celular durante as consultas sempre desligado ou no silencioso, responda as ligações somente entre os atendimentos, não coma ou beba na frente dos pacientes… É tudo uma questão de bom senso e perspectiva: “O que eu pensaria se estivesse do outro lado?”.
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