A inteligência emocional é influenciada por uma combinação de traços de personalidade. Níveis mais altos dela são associados com inúmeros benefícios, inclusive relacionados à carreira. Por isso, sua medida, o Quociente Emocional (QE), tem sido considerado como um bom radar para contratações em processos de recrutamento. Alguns especialistas até o colocam à frente do QI (Quociente de Inteligência) em questão da eficiência para determinar um bom profissional.
Atualmente um termo bastante utilizado, “inteligência emocional” foi aplicado pela primeira vez em documentos científicos no ano de 1966, em artigo do psicólogo americano Hanskare Leuner. Porém, sua concepção só foi aprofundada em 1989, primeiro pelo psiquiatra infantil Stanley Greenspan e, posteriormente, em 1990, pelos psicólogos Peter Salovey e John Mayer.
Em sua definição, a dupla Salovey e Mayer explica que IE é “a capacidade de perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros”. Os dois psicólogos dividiram-na em quatro domínios básicos:
- Percepção das emoções: a precisão com que uma pessoa identifica as emoções.
- Raciocínio por meio das emoções: empregar as informações emocionais para facilitar o raciocínio
- Entendimento das emoções: captar variações emocionais nem sempre evidentes e compreender a fundo as emoções (mais sofisticado do que o “identificar” do primeiro domínio)
- Gerenciamento das emoções: aptidão para lidar com os próprios sentimentos
Daniel Goleman e a inteligência emocional
Apesar de não ter introduzido o conceito de IE, Daniel Goleman, psicólogo, escritor e PhD da Universidade de Harvard, é o grande responsável por popularizá-lo. Em 1995, quando atuava como jornalista científico do New York Times, lançou o livro “Inteligência Emocional”, em que traz à tona o embate entre o QE e o QI (Quociente de Inteligência).
Com mais de 5 milhões de cópias vendidas no mundo todo e tradução para 40 idiomas, o best-seller impulsionou a atenção das pessoas pelo tema, tornando o conceito acessível a vários segmentos da sociedade. A partir dele, a mídia e outras entidades acadêmicas começaram a explorar ainda mais o assunto.
Goleman descreve a inteligência emocional como a capacidade de uma pessoa de gerenciar seus sentimentos, de modo que eles sejam expressos de maneira apropriada e eficaz. Segundo o psicólogo, o controle das emoções é essencial para o desenvolvimento da inteligência de um indivíduo. Seu modelo sobre a IE foca em uma série de competências e habilidades que, de acordo com ele, propiciam melhores desempenhos profissionais – inclusive, como líder.
Fundamentos da IE
O modelo de Goleman posiciona a IE como o conjunto de competências e habilidades fundamentadas em cinco pilares:
- Autoconsciência – capacidade de reconhecer as próprias emoções
- Autorregulação – capacidade de lidar com as próprias emoções
- Automotivação – capacidade de se motivar e de se manter motivado
- Empatia – capacidade de enxergar as situações pela perspectiva dos outros
- Habilidades sociais – conjunto de capacidades envolvidas na interação social
Além disso, ele identifica 12 domínios como sendo os principais para desenvolvê-la:
- Autoconhecimentoemocional
- Autocontrole emocional
- Adaptabilidade
- Orientação para realização
- Perspectiva positiva
- Empatia
- Consciência organizacional
- Influência
- Coache mentoria
- Administração de conflitos
- Trabalho em equipe
- Liderança inspiradora
Benefícios da IE, segundo a ciência
Há extensa pesquisa que fundamenta os benefícios de ter um nível alto de IE, inclusive relacionando-a à traços de generosidade. Um estudo mostrou que as pessoas com maior conhecimento sobre regulação emocional têm mais propensão a pensarem no “bem social” quando em face de um dilema.
Além disso, a IE influencia o sentimento de bem-estar. Pesquisadores descobriram, por exemplo, que existem relações inversas entre a capacidade de controle emocional e estresse no ambiente de trabalho.
Ter habilidade de identificar e gerenciar as emoções próprias e dos outros são atributos valiosos também para alcançar sucesso profissional, segundo pesquisadores de Harvard. O estudo, de mais de 20 anos, ainda mostrou que esta habilidade caracteriza mais êxito na vida social.
Empreendedores com bons níveis de IE também são mais resilientes quando enfrentam obstáculos e lidam melhor com seus funcionários e clientes.
E os profissionais são melhores líderes. Uma análise que compreendeu diversos documentos científicos revelou que há uma relação positiva clara entre a IE e a eficácia da liderança nas empresas.
Parte da “automotivação” (um dos pilares da IE, segundo Goleman), a capacidade de ter perspectivas positivas – ou “otimismo” – está associada com maior habilidade de venda e maior taxa de sucesso acadêmico.
Para os estudiosos, a diferença primordial entre os pessimistas e otimistas é que, quando falham, os otimistas tendem a fazer atribuições causais externas, específicas e temporárias, enquanto os outros fazem atribuições internas e permanentes. Ou seja, após contratempos, possuem mais facilidade para se recompor e agir em prol de resultados.
Inteligência emocional tem tanto a ver com saber quando e como expressar emoções quanto com o controle delas – e esta capacidade é valiosa. Pesquisadores da Universidade de Yale descobriram que demonstrar emoções positivas pode beneficiar trabalhos em equipe. De acordo com eles, elas levaram à melhora na cooperação e na performance do grupo, além de maior preocupação com o que é justo.
Embora existam aspectos permanentes que determinam o temperamento e a personalidade – herança genética, por exemplo -, Goleman defende que muitos dos circuitos cerebrais da mente humana são maleáveis e podem ser trabalhados, impactando o nível de inteligência emocional.
Revisar mentalmente as habilidades que ela envolve e perceber em quais precisa trabalhar é o primeiro passo para aumentá-la. O psicólogo defende que o feedback externo também é um ótimo medidor para se orientar e desenvolver a IE.
Fonte:
Na Prática – Fundação Estudar.