A colecistite aguda (inflamação da vesícula biliar) ocorre como complicação de uma colelitíase em 95% dos casos. Se inicia com a implantação de um cálculo no ducto cístico. Entretanto, outro ponto fundamental na patogênese da doença é a liberação de mediadores inflamatórios (com destaque para a lisolecitina).
Colecistite Aguda: Patogênese, Clínica e Diagnóstico
A colecistite aguda (inflamação da vesícula biliar) ocorre como complicação de uma colelitíase em 95% dos casos. Se inicia com a implantação de um cálculo no ducto cístico. Entretanto, outro ponto fundamental na patogênese da doença é a liberação de mediadores inflamatórios (com destaque para a lisolecitina).
A clínica típica é a dor do tipo biliar, mas caracteristicamente de longa duração (> 4-6 horas). Febre, anorexia, náuseas e vômitos também são comuns. Ao exame físico, o sinal de Murphy é positivo em metade dos pacientes, sendo este altamente preditivo de colecistite. Laboratorialmente, espera-se encontrar leucocitose com desvio à esquerda e discreto aumento das bilirrubinas, transaminases e fosfatase alcalina (mas lembre-se: por ser uma obstrução limitada à vesícula, não se espera grandes aumentos dessas enzimas).
O sinal de Murphy consiste na compressão digital do ponto cístico, a projeção cutânea da vesícula biliar (na linha hemiclavicular direita, próximo ao gradil costa). O sinal consiste na parada súbita da inspiração, devido a dor. Entenda: ao inspirar, o diafragma desce e empurra consigo a vesícula que encontra-se hipersensível, daí a dor.
O ultrassom, por sua boa sensibilidade e especificidade, deve sempre ser o primeiro exame a ser solicitado para a investigação das vias biliares. Sinais sugestivos de colecistite incluem: espessamento da parede da vesícula, demonstração de cálculos impactados, presença de líquido vesicular e sinal de Murphy ultrassonográfico positivo.
Entretanto, o exame padrão-ouro é a cintilografia biliar, solicitada somente nos casos duvidosos. Este exame consiste na administração de tecnécio intravenoso, que é então captado pelo fígado e excretado pela bile. A não visualização da vesícula biliar em 1 hora após a administração do contraste indica a presença de colecistite (pense assim: se a vesícula está “entupida” por um cálculo, a bile contendo o radioisótopo não consegue preenche-la!). Observe na imagem abaixo uma cintilografia biliar normal, e atente-se para o preenchimento normal da vesícula.
Outra observação importante: por ser uma obstrução limitada à vesícula, não se espera grandes aumentos das bilirrubinas e das outras enzimas canaliculares e hepáticas. Desse modo, não é de se esperar a presença de icterícia em um quadro de colecistite não complicada. Entretanto, diante de um paciente com colecistite e icterícia, devemos pensar em: (1) associação com coledocolitíase (que justificaria o aumento das bilirrubinas) ou (2) Síndrome de Mirizzi, uma síndrome rara na qual ocorre obstrução do ducto hepático comum causada por compressão de um cálculo grande impactado no ducto cístico (observe a ilustração a seguir).
Em um próximo momento, avançaremos na discussão da colecistite com seu tratamento e suas possíveis complicações. Um bom estudo e uma boa semana!
Igor Torturella
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