Hoje daremos continuidade ao nosso estudo sobre os glicocorticoides (confira a Parte 1). Lembrem-se que não é nosso objetivo esgotar o assunto, apenas chamar a atenção para alguns pontos importantes no dia-a-dia do médico. Qualquer dúvida ou sugestão, entre em contato conosco!
Os Glicocorticoides na Prática Médica (parte 2)
Hoje daremos continuidade ao nosso estudo sobre os glicocorticoides (confira a Parte 1). Lembrem-se que não é nosso objetivo esgotar o assunto, apenas chamar a atenção para alguns pontos importantes no dia-a-dia do médico. Qualquer dúvida ou sugestão, entre em contato conosco!
Com relação as doses dos glicocorticoides, consideramos uma dose baixa até 7,5 mg/dia de prednisona; dose intermediária até 30 mg/dia de prednisona, dose alta até 100 mg/dia e dose muito alta valores acima de 100 mg/dia. A pulsoterapia se refere ao uso de doses extremamente altas (acima de 250 mg/dia de prednisona) pela via intravenosa por curtos períodos (2 a 5 dias). (Para se conseguir um efeito anti-inflamatório, bastam 0,5 mg/kg/dia de prednisona. Doses mais elevadas, como 1 a 2 mg/kg/dia almejam a imunossupressão. Quanto ao horário de administração, a corticoterapia oral prolongada deve ser feita, preferencialmente, em dose única diária pela manhã (o pico de corticoide fisiológico ocorre pela manhã).
Outro ponto bastante discutido é com relação à suspensão dos glicocorticoides. Por um mecanismo de feedback negativo, seu uso continuado inibe o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA). Pacientes usuários de doses maiores ou iguais a 7,5 mg de prednisona (ou equivalente)/dia, por mais de 3 semanas, tem chance aumentada de apresentar insuficiência adrenal secundária sintomática, caso o glicocorticoide seja suspenso de forma abrupta. Em tais casos, é recomendável proceder com “desmame” gradual. Com doses e tempo inferiores aos citados o risco não é totalmente desprezível, mas é razoavelmente baixo.
Quanto ao desmame, não existe um método ideal, baseado em evidências. Entretanto, existem alguns esquemas que são tradicionalmente empregados. Observe na tabela a seguir dois esquemas que podemos utilizar:
Esquema 1 |
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Esquema 2 |
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Devido sua gravidade, recomenda-se a suspensão abrupta dos GC em apenas duas condições: (1) ulceração da córnea por herpesvirus e (2) psicose induzida por glicocorticoides.
Uma situação que também necessita de ajuste de doses são as condições de estresse fisiológico, como infecções e cirurgias. Nessas situações, a produção de cortisol endógena aumenta de forma significativa, em um processo fisiológico normal. Desse modo, devido a inibição do eixo HHA, é mandatório realizar o ajuste posológico. A tabela abaixo traz as principais recomendações para pacientes que utilizam cronicamente baixas doses de GC:
Gravidade do Estress |
Conduta |
Intercorrências menores (ex: infecções febris leves) |
Dobrar a dose atual OU Aumentar a dose até 15 mg/dia de prednisona (ou equivalente). |
Grandes cirurgias (esquema tradicional) |
Ataque com 100 mg de hidrocortisona IV na indução anestésica; Manutenção com 25-50 mg de hidrocortisona de 6/6 horas por 3 dias. |
Grandes cirurgias (esquema mais moderno, que visa reduzir a chance de infecção pós-operatória) |
Hidrocortisona 100 mg IV em infusão contínua ao longo de 24 horas, no dia da cirurgia; Manutenção com 25-50 mg de hidrocortisona de 8/8 horas por 2-3 dias. |
Pequenas cirurgias |
Dobrar a dose oral no dia do procedimento ou fazer o equivalente a 15 mg de prednisona; Manter por 2-3 dias. |
Igor Torturella