Produtos à base de polipropileno são comumente usados para preparação e armazenamento de alimentos, mas sua capacidade de liberar microplásticos é pouco conhecida. Nesse estudo publicado pela revista Nature Food, John Boland, do Trinity College Dublin, na Irlanda, e seus colegas investigaram a exposição potencial de bebês a microplásticos pelo consumo de fórmulas preparadas em mamadeiras de polipropileno (PP), que estimam representar quase 69% das mamadeiras disponíveis no mercado.
No estudo, para estimar a exposição global potencial para bebês de até 12 meses de idade, eles pesquisaram 48 regiões, encontrando valores que variaram de 14.600 a 4.550.000 partículas per capita por dia, dependendo da região.
Mostrou-se que as mamadeiras de PP liberam uma média de 4 milhões de partículas de microplástico por litro na fórmula para bebês durante o preparo, chegando a valores tão altos quanto 16.200.000 partículas por litro. Estudos de cenário mostraram que a esterilização de mamadeiras de PP e a exposição à água em alta temperatura aumentam significativamente a liberação de microplásticos. Um teste de 21 dias de mamadeiras de PP mostrou flutuações periódicas na liberação de microplásticos. Mas ainda não está claro se a ingestão de microplásticos é prejudicial à saúde infantil.
Os pesquisadores limparam e esterilizaram mamadeiras de polipropileno totalmente novas, deixaram-nas secar e depois colocaram água purificada, que foi aquecida a 70° C, temperatura recomendada pela Organização Mundial de Saúde para o preparo de fórmulas infantis.
Depois de colocar as garrafas em um agitador mecânico por um minuto para simular o processo de mistura da fórmula, Boland e sua equipe filtraram a água e a analisaram ao microscópio. Eles descobriram que as garrafas vazavam em média 4 milhões de partículas microplásticas por litro na água, com uma variação entre 1 e 16 milhões de partículas por litro. Os pesquisadores encontraram resultados semelhantes quando usaram água contendo fórmula para bebês.
“Ficamos surpresos com a quantidade”, diz Boland. “Com base em pesquisas feitas anteriormente para analisar a degradação dos plásticos no meio ambiente, suspeitamos que as quantidades seriam substanciais, mas não acho que alguém esperava os níveis muito altos que encontramos.”
Boland diz que sua equipe também ficou surpresa ao descobrir que a liberação de microplásticos pelas garrafas dependia da temperatura. Quando os pesquisadores repetiram seus experimentos usando água em uma faixa de temperaturas, eles descobriram que a liberação de partículas se acelerava com o aumento da temperatura. Agitar as garrafas também aumentou a liberação de microplásticos.
Os resultados estão de acordo com pesquisas anteriores, incluindo um estudo revelando que os saquinhos de chá de plástico liberam bilhões de partículas microplásticas em cada xícara. Mas ainda não está claro se a ingestão de microplásticos tem algum impacto na saúde humana. “Ainda não sabemos se existem efeitos adversos à saúde decorrentes da exposição a microplásticos”, diz Boland.
“É importante identificar as fontes de partículas de plástico envolvidas na exposição humana”, diz Heather Leslie, da VU Amsterdam, na Holanda. “Atualmente não existe uma norma para a ingestão diária máxima tolerável de partículas de plástico.”
Recomenda-se que as mamadeiras sejam esterilizadas e a fórmula para bebês aquecida para destruir bactérias potencialmente prejudiciais. Quaisquer riscos potenciais que podem ser apresentados aos bebês por microplásticos devem, portanto, ser pesados contra os riscos de exposição a bactérias prejudiciais, diz Ingeborg Kooter, da Organização Holandesa de Pesquisa Científica Aplicada (TNO). “Como esse risco se compara ao risco de infecção por salmonela?”
Se as pessoas estiverem preocupadas, elas podem reduzir o nível de microplásticos gerados durante a preparação da fórmula minimizando a exposição da garrafa de plástico ao calor e agitação, diz Boland. Por exemplo, a fórmula poderia ser preparada em um recipiente não plástico separado e apenas transferida para uma mamadeira de plástico esterilizada depois que a fórmula esfriar, ele sugere.
O estudo demonstrou, portanto, que a exposição infantil a microplásticos é maior do que o anteriormente reconhecido devido à prevalência de produtos à base de PP usados na preparação de fórmulas, destacando a necessidade urgente de avaliar se a exposição a microplásticos nesses níveis representa um risco para a saúde infantil.
Original: https://www.news.med.br/p/medical-journal/1381198/mamadeiras+de+plastico+liberam+milhoes+de+microplasticos+quando+sacudidas+durante+a+preparacao+de+formulas+infantis.htm