EBV é um herpes-vírus que infecta 50% das crianças antes dos 5 anos de idade. Mais de 90% dos adultos são soropositivos para EBV. Seus hospedeiros são os seres humanos.
A infecção pelo EBV costuma ser assintomática.
Fisiopatologia
Após a replicação inicial na nasofaringe, o vírus EBV infecta os linfócitos B. Morfologicamente, os linfócitos anormais (atípicos) se desenvolvem, em especial os linfócitos T CD8+ que respondem à infecção.
Após infecção primária, o EBV permanece dentro do hospedeiro, especialmente nos linfócitos B, por toda vida, disseminando-se assintomaticamente de forma intermitente a partir da orofaringe. É detectável em secreções de orofaringe em 15 a 25% dos adultos saudáveis EBV-soropositivos. A disseminação aumenta em frequência e títulos em pacientes imunocomprometidos (p. ex., receptores de órgãos em transplantes, pessoas infectadas pelo HIV).
EBV não é recuperado de fontes ambientais e não é muito contagioso.
Transmissão
A transmissão pode ocorrer por transfusão de derivados de sangue, mas mais frequentemente por meio do beijo entre uma pessoa não infectada e uma pessoa EBV-soropositiva assintomaticamente transmissora do vírus. Somente cerca de 5% dos pacientes adquirem EBV de alguém com infecção aguda.
A transmissão na infância ocorre com mais frequência entre grupos socioeconômicos inferiores e em condições de aglomerações.
Doenças associadas
EBV está estatisticamente associado e provavelmente desempenha um papel causal em
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Linfoma de Burkitt
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Certos tumores de células B em pacientes imunocomprometidos
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Carcinoma nasofaríngeo
O EBV não causa síndrome de fadiga crônica. No entanto, pode ocasionalmente causar uma síndrome da febre, pneumonite intersticial, pancitopenia e uveíte (i.e., EBV ativo crônico).
Sinais e sintomas
Na maioria das crianças pequenas, a infecção primária por EBV é assintomática. Os sintomas da mononucleose infecciosa desenvolvem-se com mais frequência em crianças maiores e adultos.
O período de incubação é de aproximadamente 30 a 50 dias. A fadiga pode durar meses, mas é geralmente máxima nas primeiras 2 a 3 semanas.
A maioria das pacientes tem a tríade de
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Febre
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Faringite
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Adenopatia
A febre normalmente tem pico à tarde ou à noite, com uma temperatura por volta de 39,5°C, embora possa alcançar 40,5°C.
A faringite pode ser intensa, dolorosa e exsudativa e ser semelhante à faringite por estreptococos.
Com frequência, a adenopatia é simétrica e pode envolver qualquer grupo de linfonodos, em particular as cadeias cervicais anteriores e posteriores. A adenopatia pode ser a única manifestação.
Outros sinais e sintomas incluem
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Esplenomegalia
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Hepatomegalia discreta e sensibilidade à percussão hepática
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Edema periorbitário e enantema do palato
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Menos frequentemente erupções maculopapulares
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Raramente icterícia
Esplenomegalia, que ocorre em aproximadamente 50% dos casos, é máxima durante a 2ª e a 3ª semana e, de modo geral, torna apenas uma parte do baço pouco palpável.
Complicações
Embora a recuperação geralmente seja completa, complicações podem ser dramáticas.
Complicações neurológicas são raras, mas podem incluir encefalite, convulsões, síndrome de Guillain-Barré, neuropatia periférica, meningite viral, mielite, paralisa de nervo craniano e psicose. A encefalite pode se apresentar com disfunção cerebelar ou ser global e rapidamente progressiva, semelhante à encefalite por herpes simples, porém, na maioria das vezes, é autolimitada.
Complicações hematológicas em geral são autolimitadas. Incluem
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Granulocitopenia
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Trombocitopenia
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Anemia hemolítica
Granulocitopenia leve e transitória ou trombocitopenia ocorre em aproximadamente 50% dos pacientes; casos graves, associados a infecção bacteriana ou sangramento, ocorrem com menos frequência. A anemia hemolítica é normalmente decorrente de anticorpos aglutininas frias antiespecíficos.
A ruptura do baço pode causar consequências graves. Pode resultar de esplenomegalia e edema capsulares, que alcançam seu nível máximo 10 a 21 dias após sua detecção. Uma história de trauma só está presente em cerca de metade dos casos. A ruptura é normalmente dolorosa, mas às vezes provoca hipotensão indolor.
Complicações respiratórias incluem, raramente, obstrução de vias respiratórias superiores decorrente de linfadenopatia da faringe ou paratraqueal; estas têm probabilidade de responder a corticoides. Infiltrados pulmonares intersticiais clinicamente silenciosos ocorrem em especial em crianças, sendo visíveis, de modo geral, na radiografia.
Complicações hepáticas incluem níveis elevados de aminotransferases (cerca de 2 a 3 vezes o normal, retornando à linha de base após 3 a 4 semanas), que ocorrem em aproximadamente 95% dos casos. Caso ocorram icterícia ou elevações de enzimas mais graves, devem ser investigadas outras causas de hepatite.
A superinfecção por EBV ocorre de forma esporádica, mas pode acometer grupos familiares, em particular com síndrome linfoproliferativa ligada ao cromossomo X. Essas pessoas que sobrevivem à infecção primária por EBV estão sob risco de desenvolver agamaglobulinemia ou linfoma.
Diagnóstico
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Teste para anticorpos heterófilos
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Algumas vezes sorologia de EBV
Deve-se suspeitar de mononucleose infecciosa em pacientes com sinais e sintomas típicos. Faringite exsudativa, linfadenopatia cervical anterior e febre podem ser clinicamente indistinguíveis de sinais e sintomas causados por estreptococos beta-hemolíticos do grupo A. Entretanto, adenopatia cervical posterior ou generalizada ou hepatosplenomegalia sugere mononucleose infecciosa. Além disso, a detecção de estreptococos na orofaringe não exclui mononucleose infecciosa.
Diagnóstico diferencial
A infecção por HIV primária pode produzir um quadro clínico semelhante ao da infecção aguda pelo EBV. Se os pacientes têm fatores de risco de infecção pelo HIV, fazer:
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Carga viral quantitativa de RNA do HIV no sangue
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Imunoensaio de anticorpos de combinação e ensaio do antígneo p24
O ensaio imunoenzimático (ELISA)/Western blot geralmente é negativo na infecção aguda e, assim, não deve ser usado isoladamente para diagnosticar infecção primária pelo HIV. Testes quantitativos do RNA do HIV e detecção do antígeno p24 são mais sensíveis para o diagnóstico da infecção aguda por HIV porque o RNA do HIV e o antígeno p24 estão presentes no sangue antes dos anticorpos anti-HIV serem produzidos
CMV pode produzir uma síndrome semelhante à mononucleose infecciosa, com linfocitose atípica, hepatosplenomegalia e hepatite, mas geralmente sem faringite grave.
Toxoplasmose pode causar uma síndrome semelhante à mononucleose infecciosa com febre e linfadenopatia, mas geralmente sem faringite.
Exames laboratoriais
O diagnóstico laboratorial comumente envolve um hemograma completo e um teste para anticorpos heterófilos. Linfócitos morfologicamente atípicos são responsáveis por até 30% dos leucócitos. Embora linfócitos individuais possam se assemelhar a linfócitos leucêmicos, os linfócitos são heterogêneos, o que é improvável na leucemia. Também pode haver linfócitos atípicos na infecção por HIV ou CMV, hepatite B, influenza B, rubéola ou outras doenças virais, portanto, o diagnóstico requer a sorologia. No entanto, contagens muito elevadas de linfócitos atípicos normalmente são vistas apenas nas infecções primárias por EBV ou CMV.
Dois testes sorológicos são utilizados para diagnosticar a infecção aguda por EBV:
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Teste de anticorpos heterófilos
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Teste de anticorpos específicos contra o EBV
Anticorpos heterófilos são quantificados pelo uso de vários testes de aglutinação em cartão (monospot). Entretanto, os anticorpos estão presentes em somente 50% dos pacientes < 5 anos de idade e em cerca de 80 a 90% dos adolescentes e adultos com infecção primária por EBV com mononucleose infecciosa. Vale ressaltar que o teste de anticorpos heterófilos pode ser falso-positivo em pacientes com infecção grave pelo HIV. O título e a prevalência de anticorpos heterófilos sobem durante a 2ª e a 3ª semanas da doença. Assim, se o diagnóstico for fortemente suspeito, mas o teste de anticorpos heterófilos for negativo, é razoável repetir o teste após 7 a 10 dias do aparecimento dos sintomas.
Se o teste permanecer negativo, devem ser quantificados anticorpos para EBV. A existência de anticorpos IgM contra o antígeno do capsídio viral (VCA) do EBV indica infecção primária por este vírus (estes anticorpos desaparecem 3 meses após a infecção). IgG VCA (EBV VCA-IgG) também se desenvolve no início da infecção primária por EBV, mas esses anticorpos persistem por toda a vida. Anticorpos para antígeno nuclear do EVB (EBNA-IgG) se desenvolvem mais tarde (talvez após 8 semanas) nas infecções agudas por EBV e também persistem por toda a vida. Se os títulos dos anticorpos do EBV forem negativos ou indicarem infecção antiga (i.e., positivo para anticorpos IgG e negativo para anticorpos IgM), outros diagnósticos devem ser considerados (p. ex., infecção grave pelo HIV, infecção por CMV).
Prognóstico
A mononucleose infecciosa é normalmente autolimitada. A duração da doença varia; a fase aguda dura cerca de 2 semanas. Em geral, 20% dos pacientes podem voltar à escola ou ao trabalho em 1 semana e 50%, em 2 semanas. Fadiga pode persistir por várias semanas ou, em até 10% dos casos, por meses.
A morte ocorre em < 1%, principalmente em razão de complicações (p. ex., encefalite, ruptura esplênica, obstrução de via respiratória).
Tratamento
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Cuidados de suporte
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Possivelmente, os corticoides são úteis nas formas graves da doença
O tratamento da mononucleose infecciosa é de suporte. Pacientes são encorajados a descansar durante a fase aguda, mas devem retomar suas atividades rapidamente quando a febre, a faringite e o mal-estar cederem. Para prevenir ruptura de baço, devem ser evitados levantamento de peso e jogos esportivos de contato por 1 mês após o início da doença e até que a esplenomegalia (que pode ser monitorada por ultrassonografia) se resolva.
Embora corticoides acelerem a defervescência e aliviem a faringite, geralmente não devem ser utilizados em doença sem complicação. Corticoides podem ser úteis para tratar complicações como obstrução eminente de vias respiratórias, trombocitopenia grave e anemia hemolítica. Embora o aciclovir oral ou IV diminua a disseminação orofaríngea de EBV, não há qualquer evidência convincente para autorizar seu uso clínico.
Pontos-chave
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Infecção primária por EBV é muito comum; o vírus permanece dentro do hospedeiro por toda a vida e é disseminado de forma intermitente e assintomática a partir da orofaringe.
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Somente cerca de 5% dos pacientes adquirem EBV de alguém com infecção aguda.
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Manifestações típicas são fadiga (às vezes persistindo por semanas ou meses), febre, faringite, esplenomegalia e linfadenopatia.
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Complicações graves pouco frequentes são a encefalite e outras manifestações neurológicas, ruptura do baço, obstrução das vias respiratórias por edema de tonsilas, anemia hemolítica, trombocitopenia e icterícia.
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Fazer testes de anticorpos heterófilos e, às vezes, testes de anticorpos específicos contra o EBV.
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Fornecer tratamento de suporte e recomendar evitar trabalho pesado e esportes de contato; antivirais não são indicados.
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Considerar corticoides para complicações como obstrução eminente das vias respiratórias, trombocitopenia grave e anemia hemolítica.
Fonte:
https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/herpes-v%C3%ADrus/mononucleose-infecciosa