A doença trofoblástica gestacional é um tumor originário do trofoblasto, que circunda o blastocisto e se desenvolve em cório e âmnio ( Concepção e desenvolvimento pré-natal : Saco amniótico e placenta). Essa doença pode ocorrer durante ou após uma gestação intrauterina ou ectópica. Se ocorrer durante a gestação, tipicamente ocorre aborto espontâneo, eclâmpsia ou morte fetal; o feto raramente sobrevive.
Algumas formas da doença trofoblástica gestacional são malignas; outras, benignas, mas agressivas.
Patologia
Doença trofoblástica gestacional pode ser classificada como
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Mola hidatidiforme, que pode ser total ou parcial
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A neoplasia trofoblástica gestacional, englobando corioadenoma destrutivo (mola invasiva), coriocarcinoma, tumor trofoblástico de localização placentária (muito raro) e tumor trofoblástico epitelioide (extremamente raro)
Doença trofoblástica gestacional também pode ser classificada morfologicamente:
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Mola hidatidiforme: nessa gestação anormal os vilos se tornam edematosos (hidrópicos) e o tecido trofoblástico prolifera.
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Mola invasiva: o miométrio é invadido localmente por mola hidatidiforme.
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Coriocarcinoma: Esse tumor invasivo, amplamente metastático, é composto de células trofoblásticas malignas e vilo hidrópico ausente; a maioria desses tumores se desenvolve após uma mola hidatidiforme.
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Tumor trofoblástico de localização placentária: esse tumor raro consiste em células trofoblásticas intermediárias que persistem após o fim da gestação; ele podem invadir os tecidos adjacentes ou metastatizar.
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Tumor trofoblástico epitelioide: essa variante rara do tumor trofoblástico de localização placentária consiste em células trofoblásticas intermediarias. Como os tumores trofoblásticos de localização placentária, pode invadir tecidos adjacentes ou metastatizar.
As molas hidatidiformes são as mais comuns em mulheres com < 17 anos ou > 35 anos e naquelas que tiveram doença gestacional trofoblástica. Ocorrem em 1/2.000 gestações nos EUA. Por motivos desconhecidos, a incidência em países da Ásia aproxima-se de 1/200.
A maioria (> 80%) das molas hidatidiformes são benignas. O restante pode persistir, tendendo a se tornar invasivo; 2 a 3% das molas hidatidiformes são seguidas por coriocarcionoma.
Sinais e sintomas
As manifestações iniciais de uma mola hidatidiforme sugerem início de gestação, mas o útero geralmente se torna maior do que o esperado em 10 a 16 semanas de gestação. Com frequência, o teste de gestação é positivo e as mulheres têm sangramento vaginal e vômitos graves, bem como movimento fetal e o som dos batimentos cardíacos do feto estão ausentes. A eliminação de tecido semelhante à uva sugere fortemente o diagnóstico.
Complicações, como a seguir, podem ocorrer durante a gestação precoce:
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Infecção uterina
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Sepse
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Choque hemorrágico
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Pré-eclâmpsia
Os tumores trofoblásticos de localização placentária costumam causar sangramento.
O coriocarcinoma em geral se manifesta com sintomas devido a metástases.
A doença trofoblástica gestacional não prejudica a fertilidade nem predispõe a complicações pré-natais ou perinatais (p. ex., malformações congênitas, abortamentos espontâneos).
Diagnóstico
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Normalmente, subunidade beta sérica da gonadotropina coriônica humana (beta-hCG)
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Ultrassonografia pélvica
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Biópsia
Existe a suspeita de doença trofoblástica gestacional em mulheres com teste de gestação positivo e em qualquer das situações seguintes:
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Tamanho do útero muito maior do que o esperado para a época
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Sintomas ou sinais de pré-eclâmpsia
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Eliminação de tecido semelhante à uva
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Achados sugestivos (p. ex., massa contendo múltiplos cistos, ausência de liquído aminiótico ou de um feto) vistos durante a ultrassonografia realizada para avaliar a gestação
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Metástases inexplicadas em mulheres em idade fértil
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Níveis inesperadamente altos de beta-hCG detectados durante o teste de gravidez (exceto para tumor trofoblástico de localização placentária e tumor trofoblástico epitelioide, que resultam em níveis baixos de beta-hCG)
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Inexplicáveis complicações da gestação
Se existir a suspeita de doença trofoblástica gestacional, os testes incluem medida de beta-hCG sérico e, se ainda não tiver sido feita, ultrassonografia pélvica. Os resultados (p. ex., níveis altos de beta-hCG, resultados clássicos de ultrassonografia) podem sugerir o diagnóstico, mas a biópsia é necessária.
Suspeita-se de mola invasiva e coriocarcinoma se os resultados da biópsia sugerem doença invasiva ou se os níveis de beta-hCG permanecem mais altos do que os esperados após o tratamento para mola hidatidiforme (ver abaixo).
Estadiamento
The International Federation of Gynecology and Obstetrics (FIGO) desenvolveu um sistema de estadiamento para neoplasia trofoblástica gestacional ( Estadiamento anatômico da FIGO da neoplasia trofoblástica gestacional).
Prognóstico
Na doença metastática, o sistema de pontuação prognóstica da OMS para doença trofoblástica gestacional metastática pode ajudar a prever o prognóstico, incluindo o risco de morte ( Sistema de pontuação da OMS na doença trofoblástica metastática gestacional*).
O prognóstico ruim também é indicado pelo seguinte [critérios do National Institutes of Health (NIH)]:
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Excreção urinária de hCG > 100.000 UI em 24 h
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Duração da doença > 4 meses (desde a gestação anterior)
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Metástases no cérebro ou fígado
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Doença após gestação completa
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hCG sérica > 40.000 mUI/mL
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Fracasso da quimioterapia anterior
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Pontuação da OMS ≥ 7
Tratamento
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Remoção do tumor por curetagem de sucção ou histerectomia
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Avaliação adicional para doença persistente e propagação do tumor
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Quimioterapia para doença persistente
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Contracepção pós-tratamento para a doença persistente
Mola hidatidiforme, mola invasiva, tumor trofoblástico de localização placentária e tumor trofoblástico epitelioide são evacuados por curetagem de sucção. Alternativamente, se a gestação não estiver planejada, poderá ser realizada histerectomia.
Após a remoção do tumor, a doença trofoblástica gestacional é classificada clinicamente para determinar se um tratamento adicional é necessário. O sistema clínico de classificação não corresponde à classificação morfológica do sistema. A mola invasiva e o coriocarcinoma são classificados clinicamente como doenças persistentes. Usa-se a classificação clínica porque mola invasiva e coriocarcinoma são tratados de modo semelhante e porque um diagnóstico histológico exato pode requerer histerectomia.
Realiza-se radiografia de tórax e mede-se beta-hCG sérico. Se o nível do beta-hCG não se normalizar em 10 semanas, classifica-se a doença como persistente. A doença persistente requer TC do cérebro, tórax, abdome e pelve. Os resultados ditam se a doença é classificada como não metastática ou metastática.
A doença persistente é em geral tratada com quimioterapia. Considera-se o tratamento bem-sucedido se pelo menos 3 medições consecutivas do beta-hCG em intervalos de 1 semana forem normais. Deve-se evitar a gestação por 6 meses após o tratamento porque ela aumentaria os níveis de beta-hCG, dificultando determinar se o tratamento foi bem-sucedido. Comumente, administram-se contraceptivos orais (qualquer um é aceitável) por 6 meses; alternativamente, pode-se usar qualquer método contraceptivo eficaz.
A doença não metastática pode ser tratada com um único fármaco quimioterápico (metotrexato ou dactinomicina). Alternativamente, a histerectomia é considerada para pacientes com > 40 anos ou para aquelas que desejam a esterilização e pode ser necessária para aquelas com infecção grave ou sangramento descontrolado. Se a quimioterapia com administração de apenas um fármaco for ineficaz, indica-se histerectomia ou quimioterapia com múltiplas. Praticamente 100% das pacientes com doença não metastática podem ser curadas.
A doença metastática de baixo risco pode ser tratada com quimioterapia com uma ou vários fármacos. Na doença metastática de alto risco pode ser necessária uma agressiva quimioterapia com múltiplos fármacos. A taxa de cura é de 90 a 95% para doença de baixo risco e de 60 a 80% para a de alto risco.
A mola hidatidiforme recorre em aproximadamente 1% das gestações subsequentes. As pacientes que apresentaram uma mola requerem ultrassonografia no início das gestações subsequentes, e a placenta deve ser encaminhada para avaliação patológica.
Pontos-chave
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Suspeitar de doença trofoblástica gestacional se o tamanho do útero é muito maior do que o esperado para a idade, as mulheres têm sinais ou sintomas de pré-eclâmpsia, os níveis de beta-hCG são inesperadamente altos durante a gestação precoce ou se resultados ultrassonográficos sugerirem doença trofoblástica gestacional.
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Medir o nível de beta-hCG, fazer ultrassonografia pélvica e, se os resultados sugerem doença trofoblástica gestacional, confirmar o diagnóstico por biópsia.
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Remover o tumor (p. ex., curetagem por sucção), então classificar o tumor com base em critérios clínicos.
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Se a doença é persistente, tratar as pacientes com quimioterapia e prescrever contracepção pós-tratamento por 6 meses.
Fonte:
Manual MSD