A Food and Drug Administration (FDA) concedeu aprovação acelerada ao fam-trastuzumabe deruxtecan-nxki para o tratamento de adultos com câncer de mama irressecável ou metastático positivo para HER2 que receberam pelo menos dois regimes anteriores baseados em anti-HER2 no cenário metastático. O trastuzumabe deruxtecano (Enhertu; AstraZeneca, Daiichi Sankyo) é um novo conjugado anticorpo-medicamento com três componentes:
1) o anticorpo monoclonal humanizado contra HER2 – com a mesma sequência de aminoácidos do Trastuzumabe;
2) o agente citotóxico derivado do exatecano – cuja ação é baseada na inibição da topoisomerase I; e finalmente
3) um tetrapeptídeo com a função de ligar a quimioterapia ao anticorpo.
O Dr. Romualdo Barroso, oncologista clínico do Hospital Sírio-libanês (DF), destaca abaixo, mais detalhes sobre esta aprovação. A aprovação foi baseada nos resultados do estudo DESTINY1-Breast01, que foi apresentado no último San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS 2019) pelo oncologista do Dana-Farber Cancer Institute, Dr. Ian Krop. Este foi um estudo internacional, multicêntrico, fase 2 e aberto que incluiu 253 pacientes com câncer de mama HER2-positivo metastático previamente tratados com Trastuzumabe e T-DM1. A testagem de HER2 foi realizada centralmente.
O DESTINY1-Breast01 apresentou duas fases: na primeira, que incluiu 119 pacientes, a dose de 5,4 mg/Kg foi identificada como a melhor dose terapêutica. Assim, o estudo prosseguiu nessa dose para a análise de eficácia. Na segunda fase, mais 130 pacientes refratários a T-DM1 e outros 4 pacientes intolerantes a essa droga receberam a dose de 5,4 mg/Kg. Todos os pacientes que receberam a dose de 5,4mg/Kg (n = 184) foram incluídos na análise de eficácia. Após um seguimento mediano de 11,1 meses, os principais resultados foram:
– A taxa de resposta objetiva foi de 60,9% (intervalo de confiança 95% 53,4 – 68,0), com duração mediana de resposta de 14,8 meses;
– A sobrevida livre de progressão mediana foi de 16,4 meses;
– A sobrevida global mediana ainda não foi atingida;
– O perfil de efeitos colaterais graus > 3 foram neutropenia (20,7%), anemia (8,7%), e náusea (7,6%);
– Atenção especial deve ser dada ao risco de pneumopatia intersticial, que segundo um comitê independente externo ocorreu em 13,6% dos pacientes avaliados (10,9% graus 1 ou 2; 0,5% graus 3 ou 4; grau 5 – levando ao óbito 2 pacientes (2.2%).
As pacientes participantes do estudo eram politratadas, com uma mediana de 6 linhas prévias de quimioterapia no cenário metastático antes de entrar no estudo. Todas as pacientes já haviam recebido Trastuzumabe e T-DM1, e 66% Pertuzumabe anteriormente. Algumas características farmacológicas dessa molécula podem explicar sua atividade clínica tão significativa, sobretudo:
1) uma maior relação droga/anticorpo (razão 8:1);
2) o quimioterápico é capaz de se difundir pelas membranas celulares atingindo células vizinhas que não necessariamente apresentem o alvo super-expresso;
3) como essa classe de quimioterápico não é comumente utilizada no tratamento do câncer de mama, a droga teria uma menor resistência cruzada.
“Acreditamos que este seja apenas o começo de uma história de sucesso e transformação no tratamento do câncer de mama HER2-positivo. Há também uma boa expectativa para as pacientes com tumores não classificados como HER2-positivo. Isso porque, dados preliminares apontam para uma eficácia significativa nos casos de tumores tipicamente não classificados como HER2-positivo, mas com alguma expressão aumentada (HER2 1+ ou 2+ sem amplificação do FISH). Vários estudos de fase 3 randomizados contra o tratamento padrão estão em andamento. Esperamos que a aprovação da medicação no Brasil seja breve. Um salve à ciência. Que venha o futuro!
Dr. Romualdo Barroso – Oncologista Clínico.
Fonte:
Oncologia Brasil