Em pronto-socorro, 90% dos casos de diarreia aguda são de etiologia infecciosa. De forma geral, ocorre por um aumento da secreção intestinal por ação de uma enterotoxina ou por lesão intestinal direta pelos microrganismos ou por uma citotoxina.
Tratamento das Diarreias Agudas
Em pronto-socorro, 90% dos casos de diarreia aguda são de etiologia infecciosa. De forma geral, ocorre por um aumento da secreção intestinal por ação de uma enterotoxina ou por lesão intestinal direta pelos microrganismos ou por uma citotoxina.
Durante a anamnese, devemos sempre nos informar acerca do início do quadro, sua duração, gravidade, assim como avaliar a presença ou ausência de febre, náuseas, vômitos, anorexia, dor abdominal, sangue e pus nas fezes. Não esquecer também de questionar sobre o uso de medicações (laxativos, antibióticos) e se há comorbidades. Na grande maioria dos pacientes, não há necessidade de exames complementares.
Pacientes com diarreia não inflamatória (fezes aquosas, volumosas, sem sangue, muco ou pus), em geral, necessitam apenas de orientação e hidratação via oral. Já pacientes toxemiados, com diarreia sanguinolenta, sintomas gastrointestinais exuberantes, imunossuprimidos e idosos, devem ser atendidos com coleta de exames, análise das fezes, hidratação e antibioticoterapia empírica.
Os distúrbios de fluidos e eletrólitos são as consequências mais graves da diarreia aguda. Desse modo, a reposição hidroeletrolítica é a base do tratamento. O método de escolha na maioria dos casos é a Terapia de Reposição Oral (TRO), sendo que o conceito de repouso alimentar é errado e deve ser abandonado. O soro intravenoso não tem qualquer benefício e não deve ser prescrito em pacientes estáveis. Na realidade, a hidratação parenteral deve ser reservada para os pacientes com hipotensão, taquicardia, desidratação grave, falência da TRO após oito horas ou com vômitos intratáveis.
Nos pacientes com vômitos, evitamos a TRO inicialmente, reiniciando-a após a administração de um antiemético (ex: metoclopramida 10 mg IV) e controle dos vômitos. Para a dor abdominal, a escolha costuma ser a associação hioscina-dipirona (Buscopam composto).
Os medicamentos antissecretores não possuem indicação na grande maioria dos pacientes. Quando usados, objetivam aliviar os sintomas e diminuir a frequência das evacuações. A loperamida (2 mg de 6/6 horas) e a codeína (15 a 30 mg de 6/6 horas) podem ser usadas com esse objetivo. Entretanto, apresentam risco de bacteremia e ruptura de alça intestinal, por diminuírem a motilidade do intestino… Também existe aumento do risco de síndrome hemolítico-urêmica nos casos de infecção por E. coli produtora de shigatoxina e de megacólon tóxico nos casos de enterocolite por Clostridium difficile.
O racecadotril, nome comercial Tiorfan, é um inibidor da encefalinase dos canais de cloro que atua na inibição da secreção de eletrólitos, mas sem alterar a motilidade. Seu uso também não é recomendado de rotina, mas pode ser utilizado em casos selecionados. Pode ser usado na dose de 100 mg de 8/8 horas, até a diarreia cessar.
Os probióticos não são recomendados de rotina em diarreias agudas.
A antibioticoterapia deve ser restrita a pacientes com diarreia mucossanguinolenta e com queda importante do estado geral. O tratamento empírico de eleição é a ciprofloxacina 250 a 500 mg de 12/12 horas, por 3 a 5 dias.
Igor Torturella
Fonte: MARTINS, HS et al. Emergências Clínicas: Abordagem Prática. Baueri, SP: Manole, 2013.