Pergunta: Rodrigo Regis ( Universidade Federal de Pernambuco )
Dr. Mário, estou em dúvida entre Pediatria e Patologia (Anátomo-Patologia). Eu sei, as áreas são bem díspares. Nos tópicos sobre pediatria, notei o pouco entusiasmo ao falar da especialidade e, no único tópico que menciona a Patologia, só descrevia a Patologia Clínica e a Medicina Legal. Com relação à Patologia Cirúrgica e Citopatologia, sua opinião é a mesma? Qual a situação atual do mercado para Anatomopatologia? Desde já, obrigado e parabéns por essa iniciativa.
Resposta :
Na escolha da especialidade um dos aspectos mais importantes a considerar é como será o seu dia a dia naquela especialidade.
Pediatria e Patologia envolvem atividades completamente diferentes. Na pediatria vc vai lidar com vidas, será um “protagonista” no seu cotidiano e na patologia vc lidará com peças e será um “adjuvante “, de grande importância evidentemente, mas sempre um coadjuvante. Isso pode ou não fazer diferença para vc.
Algumas informações sobre essas duas especialidades podem te ajudar, mas de qq modo leve muito em consideração o tipo de cotidiano que vc terá de acordo com sua escolha.:
O Mercado de trabalho para pediatras está com grande carência de profissionais em todo o país, provavelmente porque é uma das especialidades mais desgastantes e com remuneração ruim. Na pediatria, como não existem procedimentos que agreguem valor ao preço das consultas e com os convênios pagando somente cerca de R$ 60,00 por uma consulta no consultório, os pediatras trabalham muito, são muito requisitados em termos de telefonemas feitos pelas mães dos clientes e com isso estão sempre estressados. A qualidade de vida do pediatra é, portanto, ruim e a remuneração é injusta, por isso a maioria dos estudantes tem optado por outras especialidades( isso ocorre no mundo todo ) de melhor qualidade de vida e de melhor remuneração.
Em função da escassez de pediatras, os plantões em emergências de pediatra estão, no momento, remunerando melhor do que os plantões de outras especialidades, mas isso será transitório enquanto houver essa escassez. Além disso a tendência de qualquer especialista é, depois de algum tempo de formado, evitar plantões e dedicar-se ao seu consultório.
Atualmente o salário de um pediatra oscila entre R$ 7.000,00 e 9.000,00 mensais por um plantão de 24 h semanais ( esse valor pode variar de acordo com a cidade ).
Em relação a como melhorar a qualidade de vida do pediatra, por mais que vc oriente seus pacientes a procurarem um serviço de emergência sempre que necessário e não perturbem sua qualidade de vida, isso é quase impossível.
As sub especialidades da pediatria também não são muito boas como escolha, uma vez que o número de crianças que necessita destes especialistas não é muito grande, já que a maioria das doenças infantis são de manuseio do próprio pediatra.
Alergia e Homeopatia são relativamente exceções porque a freqüência de patologias destas sub especialidades é grande e a clientela aumenta com facilidade.
A homeopatia leva vantagem porque independe de convênios e portanto permite um rendimento maior por conta de clientela particular.
A Alergia permite a realização de testes e vacinas no consultório, agregando valor à consulta.
Mas tanto a alergia quanto a homeopatia e mesmo a própria pediatria em geral não permitem uma boa qualidade de vida para o especialista e isso deve sempre ser levado em consideração na escolha da especialidade.
A Gastroenterologia pediátrica permite alguns procedimentos como biópsias, testes de sobrecarga e Phmetria, mas não são muito freqüentes. A maior parte das patologias desta especialidade é resolvida pelos próprios pediatras.
A Hematologia, a Genética, a Endocrinologia, a cardiologia e a Oncologia pediátrica estão carentes de profissionais no mercado, mas também são especialidades tristes e exigem uma estrutura emocional forte desses especialistas.
Além disso, muitos cardiologistas, neurologistas e endocrinologistas atendem também crianças, o que torna o mercado ainda mais restrito.
Em relação à patologia, muitos estudantes não tem noção do real campo de trabalho e o que realmente esses especialistas fazem no seu dia a dia, talvez por isso cada vez seja menor o número de estudantes que façam essa opção como especialidade. Consequentemente existe uma carência muito grande de bons profissionais nessa área ( o que representa boa oportunidade mercadológica ).
O estudante de medicina recém-graduado que desejar fazer a especialidade deverá ingressar em um programa de Residência Médica (RM) em Patologia. Existem numerosas Residências em Patologia na maioria das escolas médicas do país, assim como em grandes complexos hospitalares. Os programas de Residência apresentam duração mínima de 3 anos, envolvendo obrigatoriamente treinamento em patologia cirúrgica, autópsia e citopatologia. Algumas Residências oferecem um ou dois anos complementares de treinamento, em geral dedicados à especialização em técnicas especiais ou em áreas específicas.
Durante o primeiro ano de Residência Médica (R1), o residente deverá, segundo o preconizado pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), perfazer 40%, 20% e 20% da carga horária anual mínima em patologia cirúrgica, autópsia e citopatologia, respectivamente. Estágios obrigatórios como técnicas histológicas, registro, informática e sessões anátomo-clínicas devem perfazer 15% da carga horária anual. No R2, o enfoque é na patologia cirúrgica (50%), sendo que a autopsia preenche 20% e citopatologia 15% da carga horária. Ainda no segundo ano, deverá o residente realizar estágio obrigatório em medicina legal (60 horas) entre outras atividades. No R3, o treinamento em especialidades perfaz 30% da carga horária, a patologia cirúrgica 25% e a realização de necropsias em patologia fetal deverá preencher 15% da carga horária anual. A citopatologia no R3 preenche outros 20% da carga horária. As atividades teóricas complementares da Residência devem perfazer 10% da carga horária total do programa, distribuídos ao longo dos 3 anos da RM.
Ao final da Residência, o Residente deverá se sentir seguro para exercer a especialidade de modo independente e com competência, sendo capaz de resolver a maioria dos casos da rotina de um laboratório de Patologia. Ele deverá ter bem claro até onde vai sua capacidade de resolução diagnóstica e nos casos de dúvidas, não hesitar em consultar um outro patologista. Como em qualquer outra especialidade médica, o bem estar do paciente deverá vir sempre antes do orgulho profissional.
Após a Residência, é comum que o Residente faça o Exame de Título de Especialista que é oferecido pela Sociedade Brasileira de Patologia durante o início de cada ano (geralmente no mês de março). O Título de Especialista não é obrigatório ainda para o exercício da patologia, porém é um atestado da capacitação do profissional, representando ponto precioso no currículo profissional do especialista e defesa importante do profissional em casos de processos judiciais.
Sucesso
Mário Novais