Os Glicocorticoides na Prática Médica (parte 1)

Os glicocorticoides (GC) são hormônios sintetizados pelo córtex adrenal a partir do colesterol, e atuam, basicamente, no metabolismo intermediário de diversos processos biológicos e na resposta ao estresse. Em medicina, os GC são os mais potentes anti-inflamatórios e imunossupressores conhecidos.

Os Glicocorticoides na Prática Médica (parte 1)

              Os glicocorticoides (GC) são hormônios sintetizados pelo córtex adrenal a partir do colesterol, e atuam, basicamente, no metabolismo intermediário de diversos processos biológicos e na resposta ao estresse. Em medicina, os GC são os mais potentes anti-inflamatórios e imunossupressores conhecidos. Apesar de seus efeitos colaterais, são drogas que modificaram a história natural de muitas doenças, sendo utilizadas numa gama de condições, em diversas especialidades. Vamos conversar um pouco sobre o uso dos GC de maneira geral, com uma abordagem mais prática.

                O efeito dos glicocorticoides sobre o sistema imune é baseado especialmente na inibição à síntese de citocinas. São drogas que afetam todas as células do sistema imune. Seu mecanismo de ação é dito genômico, uma vez que atuam na inibição e indução de genes por meio da ligação com seu receptor citoplasmático.

           Vale lembrar que todos os glicocorticoides exercem um mesmo efeito qualitativo, sendo, na realidade, diferentes entre si basicamente pela intensidade deste efeito. Desse modo, através de uma simples regra de 3, podemos determinar a equivalência de doses (por exemplo: desejamos trocar a prednisona oral por metilprednisolona intravenosa, mas utilizando uma dose equivalente). Observe na tabela abaixo uma comparação entre diversos glicocorticoides de uso comum.

                Perceba que o cortisol é a droga com o qual todos as demais são comparadas, de modo que podemos, analisando os dados acima, ter uma ideia da potência das diferentes substâncias. Além disso, alguns dos compostos utilizados também possuem certa ação mineralocorticoide.

                Outro ponto prático que devemos abordar é a interferência no efeito por alguma condição do paciente. Algumas drogas, como a rifampicina, os barbitúricos e a fenitoína, por indução do citocromo P450, reduzem o efeito dos glicocorticoides. Já drogas como o cetoconazol e a eritromicina, por inibição do citocromo P450, aumentam seu efeito. Outras condições que aumentam o efeito dos glicocorticoides são: idade avançada e hepatopatas (há redução do clearance de GC) e a hipoalbuminemia (aumenta a fração livre, biologicamente ativa). Nessas condições, ajustes de doses podem ser necessárias.

                E as gestantes e nutrizes, podem utilizar glicocorticoides? A placenta possui uma enzima que degrada os glicocorticoides, não permitindo sua passagem para o feto. Uma exceção a essa regra é a dexametasona, sendo utilizada, portanto, quando se objetiva tratar o feto. Desse modo, a administração de glicocorticoides em doses baixas ou intermediárias (exceto a dexametasona) são seguros na gestação. Quanto às nutrizes, apesar de haver pequena passagem para o leite materno, não constitui uma contraindicação ao aleitamento. Aconselha-se que só amamentem cerca de 4 horas após a administração da medicação, a fim de minimizar a exposição do lactente.

                Antes de finalizarmos esta primeira parte de nosso estudo, gostaria de chamar a atenção para o risco de estrongiloidíase disseminada, que pode ser desencadeada pelo uso dos GC, principalmente quando em altas doses. Em pacientes infectados, devido à queda da imunidade celular, as larvas podem invadir a circulação e carrear bactérias consigo. O quadro é multissistêmico, geralmente associado a uma síndrome séptica grave. Dessa forma, devido à alta prevalência de enteroparasitoses em nosso meio, é aconselhável realizarmos tratamento empírico de uma possível estrongiloidíase assintomática antes de iniciar imunossupressão com glicocorticoides. O tratamento se faz com ivermectina 200 mcg/kg em dose única, repetindo-se a dose 2 semanas depois.

                No próximo post (Parte 2) iremos discutir um pouco sobre as doses utilizadas nos tratamentos e nos esquemas de desmame. Espero que este resumão tenha ajudado! Uma boa semana a todos.

Igor Torturella