O aleitamento materno é uma das medidas de maior impacto e menor custo na diminuição da mortalidade infantil, cabendo a nós, médicos, o dever de estimular e educar quanto à essa prática. Na realidade, a grande maioria das gestantes, quando questionadas, relatam o desejo de amamentarem seus filhos. Entretanto, muitas delas suspendem o aleitamento exclusivo muito antes do tempo preconizado. Um conceito importante: o estímulo à amamentação já se inicia durante a gestação e deve prolongar-se também para o período pós-parto.
Pediatria: Aleitamento Materno
O aleitamento materno é uma das medidas de maior impacto e menor custo na diminuição da mortalidade infantil, cabendo a nós, médicos, o dever de estimular e educar quanto à essa prática. Na realidade, a grande maioria das gestantes, quando questionadas, relatam o desejo de amamentarem seus filhos. Entretanto, muitas delas suspendem o aleitamento exclusivo muito antes do tempo preconizado. Um conceito importante: o estímulo à amamentação já se inicia durante a gestação e deve prolongar-se também para o período pós-parto.
Madonna Litta. Leornardo da Vinci. 1490.
De acordo com as recomendação da OMS, o aleitamento materno deve ser exclusivo nos primeiros seis meses de vida da criança, sendo, a partir dessa idade, introduzido alimentação complementar; entretanto, o leite materno deve ser mantido, no mínimo, até os dois anos de vida. O aleitamento deve ser iniciado imediatamente após o nascimento, de preferência nas primeiras horas de vida e ainda dentro da sala de parto. O recém-nascido deve ordenhar a mama até esvaziá-la (o leite posterior é o mais rico em gorduras), devendo ser oferecidas sempre as duas mamas em todas as mamadas, alternando o lado que é oferecido primeiro (facilita o esvaziamento adequado de ambas as mamas).
As vantagens de tal prática para o bebê são diversas e muito variadas, como a redução da mortalidade infantil, a diminuição da incidência e gravidade de doenças infecciosas diarreicas, a diminuição da ocorrência de doenças imunoalérgicas e de doenças crônicas, adequado desenvolvimento cognitivo e da cavidade oral. Para as nutrizes, podemos citar a prevenção da hemorragia pós-parto (a ocitocina, eliminada mediante sucção mamilar pelo reflexo de Fergusson, favorece a dequitação placentária e a involução uterina), o papel como método contraceptivo (apenas se aleitamento exclusivo ou predominante e durante os seis primeiros meses) e a redução do risco de câncer de mama e de ovário.
Desse modo, devemos sempre incluir em nosso exame clínico também a avaliação da mamada. Nada de constrangimentos nessa hora, devemos sim observar a forma como a mãe amamenta seu filho! Devemos ficar atentos para os sinais de um posicionamento adequado e uma boa pega. Dividimos na tabela abaixo os principais pontos que devemos observar:
Posicionamento
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Pega
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1. Rosto do bebê de frente para a mama, com o nariz encostado no mamilo;
2. Corpo do bebê mantido num eixo axial único (pescoço não pode estar rodado ou lateralizado);
3. Corpo do bebê próximo ao da mãe, encostando barriga com barriga;
4. Pescoço do bebê levemente extendido;
5. Corpo do bebê bem apoiado pelas mãos da mãe;
6. Mãe deve estar relaxada, confortável e bem apoiada.
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1. Boca do bebê bem aberta, englobando a maior parte da aréola;
2. Lábio inferior evertido;
3. Queixo tocando a mama;
4. Aréola mais visível na parte superior;
5. Deglutição visível e audível.
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Bochechas encovadas durante a sucção, ruídos da língua, mama muito esticada ou deformada durante a mamada e dor à amamentação são sinais de técnica incorreta. A drenagem insuficiente de leite pode ocasionar ingurgitamento mamário, fissuras, dor, mastite e até mesmo pouca produção láctea. Observe as imagens abaixo.
Técnica correta: boca bem aberta, lábios evertidos, queixo tocando a mama e bebê bem apoiado.
Técnica incorreta: lábios não estão evertidos e a boca não está englobando toda a aréola, apenas o mamilo.
As imagens abaixo ilustram as diferentes posições possíveis para amamentar. Lembre-se que, na presença de traumas mamilares (como fissuras), o uso de diferentes posições evita trauma repetitivo em uma mesma região.
(1) Pega Tradicional (2) Pega Invertida (3) Posição Deitada
(4) Pega a Cavaleiro
São contraindicações à amamentação a infeção materna pelos vírus HIV ou HTLV 1 ou 2, a psicose puerperal, durante a fase aguda do herpes simples (se lesões próximas dos mamilos), o uso de algumas drogas, a infecção pelo citomegalovírus se prematuros com idade gestacional menor que 32 semanas e a presença de galactosemia no recém-nascido (devido deficiência da enzima GALT). Observe o quadro abaixo.
Contraindicações ao aleitamento materno
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Doenças da Mãe
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Doenças do RN
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Psicose puerperal;
HIV;
HTLV 1 e 2;
Drogas (ex: amiodarona, drogas antineoplásicas, substâncias radioativas, sais de ouro, fenindiona, ganciclovir, linezolida);
Herpes simples (se vesículas herpéticas localizadas na mama);
CMV (se IG < 32 semanas).
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Galactosemia
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Para finalizar, gostaria de comentar sobre a Iniciativa Hospital Amigo da Criança, um programa da OMS/UNICEF adotado pelo Ministério da Saúde que visa proteger, apoiar e promover o aleitamento materno nos serviços de atendimento materno-infantil através de 10 passos preconizados. São eles:
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Igor Torturella
Referências
1) Nelson Tratado de Pediatria. Editora Elsevier. 18ᵃ edição.
2) MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde da Criança: Nutrição Infantil. Aleitamento materno e alimentação complementar. 2009.