A consulta ginecológica, apesar de algumas peculiaridades, não se afasta muito de uma consulta clínica habitual composta por anamnese, exame físico e exames complementares, quando necessário. No post de hoje, iniciaremos a abordagem do exame ginecológico, descrevendo a abordagem inicial da paciente e os passos do exame externo da genitália.
A Consulta Ginecológica: parte 1
A consulta ginecológica, apesar de algumas peculiaridades, não se afasta muito de uma consulta clínica habitual composta por anamnese, exame físico e exames complementares, quando necessário. A queixa trazida pela paciente deve ser amplamente investigada durante a entrevista médica, assim como em qualquer outra especialidade. Dentre os precedentes, faz-se fundamental questionar sobre a história menstrual (desenvolvimento puberal, menarca, tipo menstrual, manifestações da tensão pré-menstrual, presença de dismenorreia), a história sexual (primeira relação, número de parceiros, desejo sexual, presença de dispareunia) e os antecedentes obstétricos (gestações, abortos, tipo de parto, peso dos recém-nascidos, amamentação, puerpério). Vale ressaltar que, independente do estado civil, deve-se sempre orientar para a prevenção de DSTs e o uso de preservativos.
Para a realização do exame físico específico (mamas e ginecológico), devemos solicitar que a paciente urine antes (facilita o toque, confere maior conforto a paciente, impede confusões diagnósticas). O exame das mamas consiste na inspeção (estática e dinâmica) e na palpação das mamas e também das regiões axilar e supra-clavicular, procedimento fundamental para a detecção de linfonodos alterados. Devemos evitar a palpação das mamas no pré-menstruo, uma vez que a ação hormonal intensa pode causar alterações fisiológicas, além de aumentar a sensibilidade das mamas. O exame ginecológico consiste no exame da genitália externa e interna, no exame especular e no toque. As etapas dos exames serão abordadas com mais detalhes posteriormente.
No post de hoje, iniciaremos a abordagem do exame ginecológico, descrevendo a abordagem inicial da paciente e os passos do exame externo da genitália. Para o exame, os braços devem ficar ao lado do corpo ou cruzados, nunca em cima da cabeça (gera enrijecimento da musculatura abdominal); paciente colocada em posição de litotomia. Sempre explique com antecedência cada etapa do exame, sendo sensível ao desconforto da paciente. Frases empáticas como: “Noto que você está tendo dificuldades para relaxar. Isso tem a ver com estar aqui ou você está se sentindo preocupada em relação ao exame? Alguma coisa está preocupando você?” podem facilitar a interação médico-paciente. Lembrem-se: examinadores do sexo masculino são habitualmente auxiliados por assistentes do sexo feminino. Esses são cuidados fundamentais nesta especialidade, visto que muitas ações médicas podem ser interpretadas de maneiras equivocadas.
Ao iniciarmos o exame externo, devemos avaliar a pilificação (ginecoide, androide, tricomizado), o ânus e o sulco interglúteo (avaliar presença de cicatrizes, lesões, verrugas). Em seguida, passamos para a inspeção da genitália externa: o trofismo dos grandes lábios, o estado dos pequenos lábios (escoriações ou maculopápulas pruriginosas sugerem pediculose pubiana), o clitóris (aumento em afecções masculinizantes), o meato uretral (carúncula uretral, prolapso da mucosa), e a abertura ou introito vaginal.
Não se esqueça também de verificar as glândulas de Bartholin, que são glândulas alojadas profundamente na parede vaginal, sendo indolores e geralmente não palpáveis (alterações inflamatórias secundárias à inflamação e à obstrução dos ductos da glândula podem originar cistos e sensibilidade). Quando houver suspeita de uretrite ou inflamação das glândulas parauretrais, introduza o indicador na vagina e ordenhe a uretra de dentro para fora, e também as glândulas parauretrais; observe qualquer secreção oriunda do meato uretral (se presente, enviar para cultura). Muito importante: evite ao máximo tocar no clitóris da paciente examinada!
Para a avaliação das glândulas de Bartholin, busque palpar sua localização (paredes inferiores da vagina) com o indicador e o polegar, num movimento de pinça.
Os quadros abaixo trazem algumas alterações que podemos encontrar:
* Lesões da vulva (1) Cisto epidermóide: pesquise pontos escuros, que assinalam o bloqueio da abertura da glândula. (3) Sífilis secundária: pápulas arredondadas, acinzentadas e achatadas (condiloma lato). (4) Cancro sifilítico: úlcera dura e indolor (sífilis primária). (5) Herpes genital: úlceras rasas, pequenas e dolorosas, assentadas sobre bases eritematosas. (6) Carcinoma da vulva: lesão eritematosa, ulcerada ou elevada. |
* Uretra (1) Carúncula uretral: pequena tumoração benigna situada na parte posterior do meato uretral; principalmente nas mulheres após a menopausa e não costuma causar sintomas; diagnóstico diferencial com carcinoma de uretra (pesquise a presença de espessamento, nodularidade, hipersensibilidade, linfadenopatias inguinais). (2) Prolapso da mucosa uretral: forma um anel de edema e eritema ao redor do meato; costuma ocorrer antes da menarca e após a menopausa.
|
Na parte 2 deste tema abordaremos o exame interno da genitália feminina, incluindo o exame especular. Qualquer dúvida ou sugestão, deixe seu comentário! Uma boa semana a todos!
Igor Torturella
Artigos relacionados
A Consulta Ginecológica: parte 2
A Consulta Ginecológica: parte 3
{jcomments on}