O momento imposto pela rápida disseminação do novo coronavírus (Covid-19) continua a desafiar a todos. Um vírus que não demorou 90 dias entre a sua revelação e o colapso de sistemas de saúde e alto impacto socioeconômico. Todos que estão na linha de frente no combate ao Covid-19 olham para os lados em busca de soluções e do melhor tratamento e cura. A ciência está aí para permitir estudos de fenômenos biológicos em organismos vivos e, por isso mesmo, sabemos que muitas vezes a procura por uma solução mira em um alvo, mas acaba acertando, quase “sem querer”, em outro.
Um bom exemplo são as aplicações da energia acústica (ultrassônica), pesquisada nos anos 1950, nos Estados Unidos, inicialmente na Universidade de Illinois e depois em Indiana, no qual o foco era o cérebro e tumores pélvicos. Não erraram o alvo, mas acertaram outro órgão de grande importância: a próstata.
2.200 homens tratados
A partir daí tiveram início as pesquisas com o HIFU, sigla em inglês para High Intensity Focused Ultrassound (em português, Ultrassom Focalizado de Alta Intensidade). O primeiro estudo para o câncer de próstata humano com HIFU foi concluído em 1994, na Áustria, quando descobriram que o tratamento poderia ser realizado com segurança. No ano seguinte, o grupo liderado pelo Professor Ackermann, da Universidade de Düsseldorf (Alemanha), demonstrou que a próstata poderia ser tratada sem danificar a cápsula ou a parede retal. Hoje temos um conjunto de conhecimentos adquiridos pelo seguimento, por cerca de dez anos, de mais de 2.200 homens tratados com essa técnica. E com robusta evidência científica.
O experimental de ontem é inovador hoje e pode ser obsoleto amanhã. Isso talvez ajude a entender os atos regulatórios, que envolvem procedimentos, vacinas, terapias, mas que, por outro lado, pode não atender o compromisso do médico com o seu paciente, porque nem sempre a estratégia de saúde coletiva se alinha às necessidades prementes do seu específico paciente.
A urgência em salvar vidas é importante, assim como são as questões sociais e econômicas. No entanto, nada mais relevante nesse momento que a ética e a medicina, e suas evidências científicas. Ou então não estaremos praticando medicina de verdade, nem contribuindo para a sua inovação.
Fonte:
Veja – saúde