Neurocientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e da Queen’s University (Canadá) publicaram um artigo, nesta terça-feira (21), indicando que a COVID-19 pode afetar o sistema nervoso central e prejudicar o funcionamento do cérebro a longo prazo. O estudo foi publicado na revista Trends in Neurosciences, do grupo Cell, e tem como objetivo alertar a comunidade médica e científica sobre a importância de acompanhar os pacientes infectados com o novo coronavírus mesmo depois que eles se recuperarem dos sintomas respiratórios.
O pesquisador da UFRJ, Sérgio Ferreira, é um dos autores do artigo. Ele informou que uma pesquisa recente publicada na China indica que 36% dos infectados apresentaram problemas neurológicos. Na França, neurocientistas também identificaram nos pacientes com a COVID-19 sintomas como desorientação, confusão mental, perda de memória e agitação.
O estudo indica que alterações neurológicas e da imagem cerebral, incluindo encefalite, já foram descritas em pacientes internados com a doença, inclusive nos hospitais da Rede D’or. A encefalite é uma inflamação cerebral e segundo os neurocientistas isso pode causar alterações graves no funcionamento do cérebro no futuro. Pesquisas indicam que os efeitos neurológicos do SARS-CoV-2 podem favorecer o desenvolvimento de Alzheimer, Parkinson e outros distúrbios neurodegenerativos ou neurológicos.
“O grande risco é que depois que esses pacientes estejam curados da COVID-19 e retornem a sua vida normal, curados do quadro respiratório agudo, eles passem a desenvolver problemas neurológicos que tenham sido desencadeados pela infecção. Então, há uma importância grande em estudar esses pacientes, acompanhá-los, com vários tipos de exames laboratoriais. E assim detectar o mais precocemente possível se estão surgindo sintomas neurológicos para que sejam tratados e entendidos”, explica Sérgio.
Sérgio Ferreira contou que tipos anteriores do coronavírus causaram danos ao sistema neurológico de pacientes infectados, mas, como a epidemia foi menor, ninguém “deu muita atenção para isso”. O mesmo acontece com vírus como a Zika, que pode causar inclusive perda de memória.
O pesquisador do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF-Ufrj) também confirmou que a perda do olfato, sintoma relatado por muitos pacientes da COVID-19 no Brasil já é um indicador que o vírus atinge o sistema neurológico. O que ainda não se sabe é se esse sintoma é resultado de uma alteração do sistema nervoso central ou periférico.
Fonte:
CNN Brasil