A propagação do vírus em países do hemisfério sul –como o Brasil– indica que condições climáticas mais quentes não contribuem muito para interromper a doença, mas o calor pode modular a intensidade da transmissão, de acordo com os pesquisadores.
Por G1
Um estudo divulgado na revista Science na terça-feira (18) mostra que o clima pode influenciar a intensidade da transmissão do coronavírus, mas não é claro ainda se as variações de estação ou geográficas podem mudar a trajetória da pandemia.
Os pesquisadores que chegaram a essa conclusão são da universidade de Princeton, nos Estados Unidos.
Eles usaram modelos matemáticos para simular o surto de Sars-Cov-2 (coronavírus) em cenários diferentes, usando as informações disponíveis sobre a biologia do patógeno.
Durante o estágio de um patógeno emergente, o clima impulsiona mudanças modestas no tamanho da pandemia. Uma análise preliminar indica que sem medidas de controle, haverá surtos fortes mesmo em climas úmidos e que o clima quente não vai limitar substancialmente o crescimento da pandemia.
Ou seja, com muitas pessoas ainda vulneráveis e a velocidade de transmissão do vírus, o clima quente só consegue reduzir muito pouco a taxa de infecção.
No início da pandemia, o calor não faz diferença, disse Rachel Baker, uma das autoras, segundo o site da Universidade de Princeton.
A velocidade será rápida, ela afirma, mas eles notaram alguma influência do clima no tamanho e no ritmo da pandemia.
A propagação do vírus em países do hemisfério sul –como o Brasil– indica que condições climáticas mais quentes não contribuem muito para interromper a doença, ela afirmou.
“Não parece que o clima está regulando a propagação agora. Claro, não sabemos diretamente como a temperatura e a umidade influenciam a transmissão, mas achamos que é pouco provável que esses fatores possam interromper o contágio baseado no que vimos acontecer com outros vírus.”
Outros coronavírus, como o da gripe comum, dependem de fatores de estação, e têm seu pico no inverno, fora dos trópicos, disse Bryan Grenfell, professor de biologia evolucionária.
De acordo com pesquisadores de Princeton, depois que o pico da pandemia passar, a tendência é que o coronavírus passe a circular permanentemente, e, nessa circunstância, a influência do clima será maior.
“Se, como parece ser o caso, o novo coronavírus também é sazonal, devemos esperar que ele acabe se tornando um vírus de inverno, à medida que ele se torna endêmico na população. O quanto, exatamente, depende de vários fatores para cada local.”
Nos próximos meses, a trajetória da pandemia será influenciada por fatores humanos, como isolamento social, e biológicos –esses, no entanto, são desconhecidos, como qual é a duração da imunidade pós-infecção, de acordo com ele.
Simulações com características de outros vírus
Os pesquisadores fizeram simulações sobre como a pandemia responderia a vários climas em todo o mundo. Eles projetaram três cenários com base no que se sabe sobre o papel que as variações sazonais têm na ocorrência de vírus semelhantes.
Pelo primeiro cenário, assumiram que o Sars-Cov-2 é tão sensível ao clima como o vírus da influenza, baseado em um modelo antigo de estudos que mostram que clima seco propaga a doença.
Nos dois outros cenários, fizeram simulações como se o Sars-Cov-2 tivesse a mesma dependência de clima e duração de imunidade que outros dois coronavírus (OC43 e HKU1, dois dos responsáveis pela gripe comum).
Nos três cenários, o clima é apenas um fator de mitigação quando grande parte da população está imune ou resistente ao vírus.
Quanto mais imunidade na população, mais se espera que o novo coronavírus seja sensível ao clima, disse Baker.
Os pesquisadores também fizeram uma simulação que mostra que quanto mais tempo houver medidas de isolamento social, mais sensível a clima quente o vírus se mostra.
Fonte: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/19/clima-quente-tem-pouca-influencia-sobre-coronavirus-diz-estudo-publicado-na-revista-science.ghtml