Vivemos uma constante alteração no padrão de distribuição dos médicos e nos números proporcionais entre os profissionais e a população ao longo de todo o território brasileiro. Nesse contexto, nesse texto abordaremos brevemente a questão da demografia médica no Brasil.
Em janeiro de 2018 o Brasil apresentava 452.801 médicos – número correspondente à razão de 2,18 médicos por mil habitantes. Pelo motivo de alguns profissionais possuírem registro em mais de um Conselho Regional ao longo do país, na mesma data, o número de registros de médicos nos Conselhos Regionais de Medicina chegava a 491.468 – sendo a diferença de 38.667 entre os números de médicos e o de registros.
Note que, como o estudo foi realizado ao longo de 2017, alguns dados referiram-se ao quantitativo de médicos disponível no momento da análise. Mostram, portanto, a evolução do número de médicos e da população desde 1920, com intervalos de uma década.
Abaixo, na tabela apontada, no período de 1920 a 2017 o total de registros de médicos no País saltou de 14.031 para 451.777, crescimento de 2.219,8%, ou 32,2 vezes o número inicial de médicos. Nesse período, a população passou de 30.635.605 para 207.660.929 habitantes, aumento de 577,8%, ou 6,8 vezes a população inicial. Quando se compara um crescimento com o outro, vê-se que nesse período de 97 anos o número de médicos cresceu 3,7 vezes mais que o da população.
Verifica-se – em todos os quinquênios – que a proporção de crescimento do número de médicos é no mínimo duas vezes a da população. O ano de 2015, por exemplo, indica a taxa de crescimento de 15,1% dos médicos enquanto a da população de 5,4% em relação a 2010. A diferença nas taxas de crescimento – figura abaixo – leva a um aumento constante na razão médico/habitante.
Conclui-se, portanto, que o ritmo mais lento de crescimento da população geral está relacionado a alterações significativas nos níveis e padrões dos eventos vitais de fecundidade e mortalidade. Em contrapartida, o ritmo mais acelerado do aumento da população de médicos ocorre em períodos seguintes à abertura de novos cursos de Medicina e autorização de mais vagas de graduação sem o devido controle da qualidade dos mesmos – assunto a ser abordado em outra discussão.
Além disso, deve-se atentar para a questão de entrada e de saída de médicos do mercado de trabalho. O crescimento constante no número de médicos se deve à diferença a cada ano entre as entradas de recém-formados e as saídas, por morte, aposentadoria, invalidez, cancelamento ou cassação do registro. A entrada de número expressivo de médicos no mercado de trabalho muito devido ao intenso processo de expansão de cursos de Medicina no Brasil – extremamente maior do que a quantidade de médicos em idade de aposentadoria – somada à característica de longevidade profissional (muitos médicos mantêm-se ativos mesmo em idade avançada) proporcionou grande aumento do contingente de médicos em atividade no contexto da saúde brasileira.
No período entre 2000 e 2016, 220.993 novos médicos registraram-se nos CRMs, enquanto 23.124 cancelaram seu registro, seja por aposentadoria, morte ou outras razões. O saldo, nesse período de 16 anos, foi de 197.869. Considera-se, ainda, uma expectativa de aumento dos números apresentados pelo fato de algumas novas escolas médicas não terem concluído a formação de suas primeiras turmas – fato que provocará maior inserção de novos profissionais nos próximos anos.
Diante de todo o histórico apresentado, pode-se concluir que, dos 414.831 médicos em atividade em 2017, 53,3% – mais da metade deles – entraram no mercado de trabalho depois do ano 2000. A figura acima demonstra as entradas e saídas de médicos entre 2000 e 2016, destacando a evolução do saldo em cada ano. O intervalo entre as linhas indicativas da entrada e saída de médicos – verde e azul respectivamente – representa o quantitativo de profissionais acrescido ao total de médicos em atividade.
Fonte: SCHEFFER, M. et al. Demografia Médica no Brasil 2018. São Paulo, SP: FMUSP, CFM, Cremesp, 2018.
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