Pergunta : Raquel ( Universidade do Sul – Santa Catarina )
Olá dr! Mais uma vez venho requisitar sua opinião! Gostaria de saber o que o senhor poderia me dizer sobre a situação financeira do médico legal fora do âmbito de concursos públicos, com formação na usp (residentes saem com título de médico do tráfego, médico do trabalho e perícia médica). Pretendo voltar para SC após a residência. Grata!!
Resposta :
A abrangência é muito grande para essa especialidade e vc precisará se definir em que área específica vai querer trabalhar.
A escolha, inclusive, pode depender de algumas características próprias da cidade onde vai estar e também que tipo de atividade vai te fazer mais confortável.
Algumas informações abaixo podem te fazer conhecer melhor essas áreas da especialidade.
MEDICINA DO TRÁFEGO
A especialidade Medicina do Tráfego ainda é pouco conhecida. Algumas informações retiradas da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego podem te esclarecer ( ver abaixo), mas o especialista dessa área deve ter bons conhecimentos de trauma, de emergências e também de planejamento, já que além do desempenho como médico socorrista, ele vai precisar atuar em programas de prevenção de acidentes de tráfego.
O Programa de Residência Médica em Medicina de Tráfego será de acesso direto, sem áreas de pré-requisitos e se desenvolverá em 2 anos.
A Instituição mantenedora do programa de Residência Médica deverá estar estruturada para atendimento de trauma.
Os preceptores deverão estar capacitados, treinados e familiarizados com as diretrizes da Especialidade.
- Objetivos do primeiro ano de residência:
- A- Objetivos Gerais:
- 1- Abordar as questões decorrentes dos acidentes de tráfego e atender as necessidades dos setores públicos e privados na resolução da problemática situação atual, tornando mais produtivas e eficientes as ações médicas sistemáticas de educação, prevenção, assistência, perícia e planejamento.
- 2- Orientar, analisar, realizar pesquisas e contribuir na organização educacional do trânsito. Identificar os fatores etiológicos, definir os grupos de alto risco para acidentes de trânsito e estabelecer programas de prevenção.
- 3- Atuar em empresas (públicas, privadas, autarquias ou sindicatos) de transporte terrestre, marítimo ou aéreo, na área de segurança de tráfego e saúde ocupacional.
B- Objetivos Específicos:
- B- Objetivos Específicos:
- 1- Cuidar da prevenção das doenças dos motoristas profissionais, como a perda auditiva, surdez, zumbido, problemas respiratórios, doenças osteomusculares, neuroses e distúrbios comportamentais entre outros.
- 2- Cuidar dos aspectos ergonômicos no exercício da profissão de motorista.
- 3- Atuar nas condições inseguras do tráfego e nos procedimentos médicos a serem implementados por ocasião dos exames admissionais, periódicos e demissionais de motoristas.
- 4- Orientar o planejamento de viagens.
- 5- Identificar as doenças infecto-contagiosas e os acidentes com animais peçonhentos prevalentes no percurso ou destino de interesse do viajante.
- 6- Orientar a imunização para o viajante nas viagens dentro do território nacional e para outros países, diagnosticar e tratar patologias relacionadas com o meio de transporte e com as mudanças geográficas como a altitude e o clima.
- 7- Realizar perícias, avaliações e colaborar com o Poder Público na concepção, elaboração e aplicação de uma legislação adequada e eficiente relativa à medicina e à segurança de tráfego.
- 8- Realizar o exame de aptidão física e mental para condutores e candidatos a condutores exigido pelo Código de Trânsito Brasileiro.
- 9- Realizar exames para avaliação de aptidão médica de candidatos a obtenção de licença para vôo ou exames periódicos para Renovação da Habilitação.
- 10- Realizar exames para a obtenção da habilitação certificada pelo representante da autoridade marítima para Segurança do Tráfego Aquaviário para operar embarcações de esporte e/ou recreio, em caráter não profissional.
Objetivos do Segundo ano de residencia :
- A- Objetivos Gerais:
- 1- Cuidar do atendimento no local do acidente (APH) e do transporte da vítima para o hospital (Resgate). Prestar atendimento e/ou transporte adequado a um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao Sistema Único de Saúde.
- B- Objetivos Específicos:
- 1- Realizar a avaliação primária e secundária de um paciente no APH.
- 2- Acionar sistemas de urgência e unidades de emergência.
- 3- Realizar técnicas de controle das vias aéreas e ventilação no trauma.
- 4- Realizar reanimação cardiorrespiratória.
- 5- Realizar controle de hemorragias externas e choque
- 6- Atuar em trauma de crânio, tórax; abdome e extremidades.
- 7- Atuar em trauma da coluna e da medula.
- 8- Proceder a avaliação inicial da gestante
- 9- Atuar em trauma na criança
- 10- Atuar no atendimento do queimado
Abaixo transcrevo artigo interessante sobre o assunto :
Rev Med (São Paulo). 2012 jan.-mar.;91(1):14-5.
Medicina de Tráfego
Flávio Adura1, Daniele Gianvecchio2, Daniel Romero Muñoz3
Medicina de Tráfego é o ramo da ciência médica que trata da manutenção do bem estar físico, psíquico e social do ser humano que se
desloca, qualquer que seja o meio que propicie a sua mobilidade. Estuda as causas do acidente de tráfego a fim de preveni-lo ou mitigar suas consequências, além de contribuir com subsídios técnicos para a elaboração do ordenamento legal e modificação do comportamento do usuário do sistema de circulação viária.
Áreas de Atuação
Suas principais áreas de atuação são: Medicina de Tráfego Preventiva, Curativa, Legal, Ocupacional, Securitária, Medicina do Viajante, Medicina de Tráfego Aeroespacial, Aquaviário, Ferroviário e Rodoviário.
A Medicina de Tráfego Preventiva identifica os fatores etiológicos dos acidentes; define os grupos de alto risco; caracteriza e divulga periodicamente índices de morbidade, mortalidade e o número de incapacidades produzidas pelos acidentes de trânsito; difunde o tema na comunidade, incluindo nos programas de prevenção e campanhas educativas as opiniões e experiências dos especialistas.
No contexto da Medicina de Tráfego Preventiva, o Exame de Aptidão Física e Mental é de grande importância, já que a adequada avaliação médica
permite o afastamento temporário ou definitivo do condutor de veículo, ou candidato a condutor, portador de doença de risco para a segurança de trânsito.
A Medicina de Tráfego Legal realiza perícias, avaliações e colabora com o Poder Público na concepção, elaboração e aplicação de uma legislação adequada e eficiente relativa à medicina e segurança de trânsito. Resoluções do Conselho Nacional de Trânsito tiveram ampla colaboração dos especialistas da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET).
A Medicina de Tráfego Curativa cuida do atendimento no local do acidente (Atendimento Pré- Hospitalar) e do transporte da vítima para o hospital. Um atendimento imediato e correto pode salvar muitas vítimas de acidentes de trânsito.
A Medicina de Tráfego Ocupacional cuida da prevenção das doenças dos motoristas profissionais, como perda auditiva, surdez, zumbido, problemas respiratórios, doenças osteomusculares, neuroses, fobias e distúrbios comportamentais. Preocupa-se com o stress físico e psíquico, riscos físico, químico, biológico e de acidente e com os aspectos ergonômicos do exercício da profissão de motorista. Estuda as condições inseguras do tráfego e a normatização dos exames a que devem ser submetidos os motoristas que dirigem profissionalmente, em acordo com os riscos a que estejam expostos, sugerindo
- Professor do Departamento de Medicina Preventiva da UNIFESP. Diretor Científico da Associação Brasileira de Medicina no Tráfego (ABRAMET).
- Graduação em Medicina pela Universidade de Mogi das Cruzes, especialização em Medicina Legal – Perícias Médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
- Professor Titular de Medicina Legal, Medicina do Trabalho e Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Endereço para correspondência: Daniel Romero Muñoz. Instituto Oscar Freire – FMUSP. Av. Dr. Arnaldo, 455, São Paulo, SP.
procedimentos médicos a serem implementados por ocasião dos exames admissionais, periódicos e demissionais.
A Medicina do Viajante estuda, entre outros, o planejamento da viagem, as doenças infecto- contagiosas prevalentes no percurso e destino do viajante, a imunização recomendada nas viagens dentro do território nacional e para outros países, as patologias relacionadas com o meio de transporte, com as mudanças geográficas como altitude e clima, os seguros de viagem e o ecoturismo.
A Medicina de Tráfego Aeroespacial especiali- za médicos para trabalhar em empresas aéreas, no transporte aéreo de doentes, nos aeroportos, nas inspeções de saúde dos trabalhadores das atividades aéreas e na orientação das pessoas que desejam via- jar. Com o avanço dos estudos de fatores de estresse na atividade aérea e suas conseqüências sobre o passageiro (paciente) e tripulantes é necessário que a equipe médica tenha profundo conhecimento da fisiologia aeroespacial e efeito dos fatores de estresse, para minimizá-los, e dos limites e normas de segurança durante o vôo.
A Medicina de Tráfego Securitária avalia danos físicos causados pelos acidentes de tráfego para efeito de recebimento de seguros pessoais.
Outros tipos de tráfego como o aquaviário, o ferroviário e o rodoviário também necessitam, da parte médica, de melhor atenção no estudo e atendimento de suas questões do que vêm sendo observado até então em nosso país.
A Medicina de Tráfego Aquaviário deverá avaliar a condição médica de candidatos a obtenção de habilitação para embarcações na categoria amador (esporte e/ou lazer), regulamentada pelo Anexo III da Portaria 0026/94 da Diretoria de Saúde da Marinha. A Medicina de Tráfego Ferroviário estuda as causas e as conseqüências dos acidentes ferroviários para contribuir na prevenção e no atendimento pré- hospitalar.
Formação Acadêmica em Medicina de Tráfego
Em 2003 a Comissão Nacional de Residência Médica aprovou o Programa de Residência em Medicina de Tráfego, que é desenvolvido em dois anos.
A formação também pode ser feita através de curso de especialização em Medicina de Tráfego, que confere ao pós-graduado treinamento e formação para atender todos os tipos de exigências da
especialidade.
Mercado de Trabalho do Especialista em Medicina de Tráfego
O campo de atuação do Médico de Tráfego é amplo e tanto a residência médica quanto os cursos de especialização têm como objetivo a capacitar médicos para:
-realizar o Exame de Aptidão Física e Mental para condutores e candidatos a condutores exigido pelo Código de Trânsito Brasileiro;
-atuar no atendimento pré-hospitalar de vítimas de acidentes de tráfego;
-atuar em empresas (públicas, privadas, autarquias ou sindicatos) de transporte terrestre, marítimo ou aéreo, na área de segurança de tráfego e saúde ocupacional;
-atuar como orientadores de viagens;
-atuar em perícias securitárias de vítimas de acidentes de trânsito;
-orientar, analisar, realizar pesquisas e contribuir na organização educacional e legal do trânsito.
O nível de remuneração em Medicina de Tráfego é variável, uma vez que o médico pode ser funcionário público, empregado de uma grande empresa ou profissional liberal. Ele pode ter, por exemplo, uma clínica credenciada pelo DETRAN para fazer exames de aptidão física e mental para condutores ou candidatos a condutores de veículos automotores. Em São Paulo as clínicas recebem R$ 60,00 (sessenta reais) por exame realizado. O médico pode, porém, fazer esse tipo de exame como plantonista do “Poupa Tempo”, recebendo o mesmo valor por exame efetuado. Ele atende, em média, 20 a 40 condutores ou candidatos a condutores em cada plantão de seis horas. Ele pode também trabalhar para a Prefeitura Municipal de São Paulo no Atendimento ao Suporte Avançado de Vida do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), recebendo salário mensal de R$ 7.000,00 (sete mil reais), tendo como obrigação fazer um plantão semanal.
REFERÊNCIAS
- Adura FE. Medicina de tráfego. São Paulo: CLR Balieiro; 2011.
- Alves Junior DR. Manual de saúde do motorista profissional. São Paulo: Ed. do autor; 2009.
MEDICINA DO TRABALHO
A Medicina do Trabalho é uma especialidade restrita ( são pouquissimos locais de residência e poucas vagas) e o mercado ficou ainda mais restrito porque apareceram várias empresas de prestação de serviços médicos que terceirizam serviços para indústrias ou outras empresas ( que deveriam ter um médico do trabalho contratado).
Com isso diminui o mercado para profissionais dessa área, que poderiam ser contratados diretamente pelas empresas com melhores salários.
A residência em Medicina do Trabalho tem duração de 2 anos.
O perfil do profissional dessa área abrange : profissionais interessados em organizar, administrar e participar de serviços de medicina do trabalho, planejar e executar o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), além das medidas de saúde preventiva ocupacional e de proteção ambiental em áreas industriais. São aptos também para planejar e participar do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e conhecem a legislação pertinente à medicina do trabalho
Se vc for contratado diretamente por uma empresa ou indústria , poderá ter bons salarios (conforme a cidade, cêrca de R$ 10.000,00 por 20 h de trabalho).
Mas se vc, como médico do trabalho, simplesmente prestar serviços para empresas que são contratadas como terceirização de Medicina de trabalho, receberá valores pequenos como R$ 10,00 por exame admissional ou demissional que realizar.
Alguns médicos dessa especialidade conseguem auferir bons rendimentos realizando perícias médicas em relação a acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.
MEDICINA LEGAL E PERÍCIA MÉDICA
A Medicina Legal é vista como especialidade que “cuida de cadáveres”. Entretanto, seu campo é muito mais amplo: ela auxilia a ciência das normas, o Direito, aplicando conhecimentos médico-biológicos, para que a sociedade consiga atingir um bem maior: a justiça. Na prática cotidiana, o especialista em Medicina Legal utiliza a ciência médica para esclarecer fatos que interessam em um processo judicial ou administrativo. Para tanto, ele lança mão de conhecimentos de toda a Medicina, extrapolando, às vezes, para outras áreas das ciências biológicas. Sua área de atuação são as perícias médicas de qualquer natureza, que se constituem em elementos de prova fundamentais quando as normas (penais, civis, administrativas etc) exigem conhecimentos médicos para serem executadas. A formação de um perito médico exige, além de conhecimentos médicos e de adequadas noções de Direito, o aprendizado e o domínio de critérios específicos, que estabelecem a ligação entre os parâmetros médicos e os jurídicos. No Brasil essa formação é deficiente e deformada. O Programa de Residência Médica em Medicina Legal tem como principal objetivo formar profissionais capazes de atuarem nos diversos segmentos que compõe a Medicina Legal, visando resolver problemas da justiça na esfera pericial, como mostra o presente artigo ( informações fornecidas pelo site da Faculdade de Medicina da USP –artigo do dr Dr.Daniel Munoz- titular de Medicina Legal da USP.)
A especialidade é realmente “pesada “, tanto do ponto de vista técnico porque exige grandes conhecimentos de várias áreas da medicina como clinica, cirurgia, ortopedia, neurologia, anatomia, fisiologia…, como também exige profundos conhecimentos da área jurídica. É uma especialidade onde se lida muito com a burocracia, processos volumosos, trabalhos periciais, processos indenizatórios que podem influir fortemente em futuros de famílias inteiras…
Na variada temática objeto da Medicina Legal, pode-se traduzir sua divisão, da seguinte forma:
Antropologia forense – Procede ao estudo da identidade e identificação, como a datiloscopia, papiloscopia, irologia, exame de DNA, etc., estabelecendo critérios para a determinação indubitável e individualizada da identidade de um esqueleto ;
Traumatologia forense – Estudo das lesões e suas causas;
Asfixiologia forense – analisa as formas acidentais ou criminosas, homicídios e autocídios, das asfixias, sob o prisma médico e jurídico (esganadura, estrangulamento, afogamento, soterramento, etc.);
Sexologia forense – Trata da Erotologia, Himenologia e Obstetrícia forense, analisando a sexualidade em seu tríplice aspecto quanto aos efeitos sociais: normalidade, patológico e criminológico;
Tanatologia – Estudo da morte e do morto;
Toxicologia – Estudo das substâncias cáusticas, venenosas e tóxicas, efeitos das mesmas nos organismos. Constitui especialidade própria da Medicina, dada sua evolução.
Psicologia e Psiquiatria forenses – Estudo da vontade, das doenças mentais. Graças a elas determina-se a vontade, as capacidades civil e penal;
Polícia científica – atua na investigação criminal.
Além disso existem ainda as necrópsias, que nem todos os médicos têm facilidade para lidar com elas ( nem todos especialistas em medicina legal são obrigados a fazê-las ). É uma especialidade triste e complexa e o status desses profissionais deixa a desejar. Existe mesmo um preconceito da população em relação aos legistas ( a maioria das mães não gostaria de ver seus filhos casados com uma médica legista; prefeririam que eles casassem com um clínico, um pediatra ou um cirurgião ).
Por outro lado, o mercado de trabalho é bastante bom, desde que vc tenha um bom relacionamento no meio jurídico para que possa ser indicada com frequência para atuar como perita do juiz ou mesmo perita assistente das partes envolvidas em um processo.
Uma pericia simples como de uma lesão corporal média em um acidente automobilístico ( que o perito não vai gastar mais de 2 horas para confeccionar o laudo ) pode render ao perito cerca de R$ 5.000,00, mas uma perícia grande, tipo a de um homicídio, pode render honorários acima de R$ 50.000,00.
A residência médica em Medicina Legal e Perícia tem a duração de 3 anos e são oferecidas em poucos serviços e com um número reduzido de vagas.
Sucesso
Mário Novais