A Tuberculose é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. Atinge principalmente os pulmões, mas pode, também, atingir a via hematogênica e chegar a outros órgãos – causando a chamada Tuberculose miliar. Apesar de sua grande magnitude, é uma doença negligenciada. Possui estreita relação com piores condições de vida e desigualdades sociais – sendo os grupos com perfil socioeconômico menos favorecido.
Além do risco ser maior em grupos socioeconômicos mais vulneráveis, os portadores de outras doenças, como HIV, alcoolismo, pulmonares crônicas, câncer, desnutrição e diabetes também são mais propensos à apresentar a doença.
Grande desafio crescente para o controle global da Tuberculose é a alta possibilidade de associação com a Diabetes Mellitus (DM). Pacientes com as duas condições podem ter taxas elevadas de falência do combate ao Bacilo de Koch e maior risco de óbito. Esses indivíduos apresentam probabilidade de insucesso no tratamento da Tuberculose por pertencerem ao grupo de risco para desenvolver resistência às drogas utilizadas nesse tratamento, além dessa pneumonia ser capaz, também, de induzir intolerância à glicose e dificultar o controle glicêmico de indivíduos com Diabetes Mellitus.
A prevalência mundial de DM foi estimada em 8,3% (382 milhões de adultos) em 2013, com projeção de aumento para 8.8% (592 milhões de adultos) em 2035. Estima-se, em 2015, cerca de 5,0 milhões de mortes no mundo em decorrência desta doença que acomete todas as faixas etárias, com predomínio do grupo entre 45 a 64 anos. Apesar de ser uma das doenças crônicas mais comuns em quase todos os países, apenas 50,0% dos individuos acometidos têm consciência do diagnóstico clínico da DM, o que dificulta o seu controle.
De 1998 a 2015, estudos multicêntricos de base populacional no Brasil – conduzido em nove capitais – estimou o aumento da prevalência de DM em adultos em cerca de 7,6% a 10,2% (14,3 milhões de adultos entre 20-79 anos) – ainda com prespectiva de ascenção da epidemia. Estudo sobre os preditores do desfecho do tratamento da tuberculose identificou que a mortalidade por tuberculose foi de 6,1%; desse grupo, os diabéticos apresentaram elevado risco de mortalidade (RR = 3,94).
Esse quadro se soma à elevada endemicidade de Tuberculose no Brasil – ocupa o 16º lugar no ranking dos 22 com maior carga da doença no mundo. Em 2014, foram diagnosticados 67.966 casos novos de Tuberculose, perfazendo um coeficiente de incidência de 33,5/100 mil habitantes. A distribuição é heterogênea entre os estados brasileiros e associada às desigualdades sociais. A Bahia é considerada, pelo Plano Nacional de Controle da Tuberculose, um dos estados prioritários para implementar políticas púbicas destinada ao controle da doença.
Depois da globalização do estilo americano de consumo – principalmente de alimentos – houve crescimento da epidemia da obesidade. Aliado à esse fato, as mudanças no estilo de vida para hábitos sedentários favoreceram o aumento da prevalência da DM, com efeitos na carga de Tuberculose, sendo considerada a existência de epidemias confluentes de DM e Tuberculose nos países em desenvolvimento.
A suscetibilidade a infecções de DM ocorre devido à diminuição da imunidade celular e humoral e pode levar a um ressurgimento da Tuberculose em regiões endêmicas, especialmente nas zonas urbanas, o que acarretaria um risco potencial de expansão com sérias implicações para o controle. No Brasil, pouco se avançou nas investigações sobre o assunto. Apesar de no nosso páis o perfil de morbimortalidade ter mudado – algumas doenças infecciosas, como a Tuberculose, ainda representam problema para a saúde pública.
Atualmente, além dos fatores de risco socioeconômicos e demográficos clássicos para Tuberculose, merece atenção a convergência de problemas de saúde crônicos não infecciosos.
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v50/pt_0034-8910-rsp-S1518-87872016050006374.pdf