Pergunta : Vinicius ( Hospital da PUC – Goias )
Olá, Dr.º! Meu sonho sempre foi cirurgia, embora eu não tenha certeza da subespecialidade. Recentemente, notei uma tendência em mim para a área da cirurgia cardiovascular, porém tem muitas dúvidas:
1) Como anda o mercado de trabalho e remuneração? Corro o risco de não ter emprego, ainda mais com o avanço da hemodinâmica?
2) Quais poderão ser minhas áreas de atuação? Estarei restrito à revascularização do miocárdio e implante de marca passo, caso eu não more em grandes centros?
3) Agora que a Cirurgia Cardiovascular tornou-se acesso direto, terei alguma falta de conhecimento/oportunidade de emprego ao não fazer a cirurgia geral?
4) Poderei atuar como cardiologista clínico conjuntamente?
Obrigado!
Resposta :
A mudança dessa residência para acesso direto foi um avanço conseguido pela sociedade científica da especialidade, pois diminui o tempo de formação do profissional sem prejudicar a qualidade técnica, e os cirurgiões cardiovasculares já não realizavam mesmo cirurgias gerais depois da formação especifica.
O Mercado de trabalho do cirurgião cardiovascular, realmente, vem diminuindo, já que vários procedimentos vem sendo disputados por outros especialistas como os hemodinamicistas, radiologistas intervencionistas, cirurgiões vasculares.
A área de atuação deve caminhar para procedimentos menos invasivos e patologias congênitas ou cirurgias vasculares periféricas.
Por outro lado a fuga dos estudantes dessa especialidade, pela lei da oferta e da procura, deve diminuir o número desses profissionais com consequente melhoria do mercado a médio e longo prazo.
Não seria uma boa opção para o cirurgião cardiovascular trabalhar como cardiologista clínico, já que essa é uma outra especialidade e que exige outros conhecimentos técnicos.
Concluindo a tendência do mercado não parece muito favorável paras esses especialistas.
Abaixo transcrevo artigo publicado na folha de são Paulo alguns anos atrás :
“Tradicionalmente considerada especialidade nobre e responsável por salvar muitas vidas, a cirurgia cardiovascular já não é a menina dos olhos dos estudantes de medicina. Dados nacionais de 2008 mostram que, das 321 vagas de residência na especialidade oferecidas pelo governo no país, apenas 53 estavam preenchidas.
O levantamento feito pela Associação Brasileira dos Residentes de Cirurgia Cardiovascular mostra que a procura não atinge seu total nem sequer em importantes centros hospitalares. No Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto havia apenas um residente para 12 vagas oferecidas.
Responsável por cirurgias, colocação de marcapasso e outros exames, o cirurgião cardiovascular perde espaço hoje para especialidades mais “atrativas” como dermatologia, em que há 32 candidatos por vaga de residência.
“A baixa procura está relacionada a uma formação longa e deficiente, contribuindo também para este problema um mercado de trabalho repleto de oportunidades ruins”, diz Anderson Dietrich, presidente da Associação dos Residentes em Cirurgia Cardiovascular.
Entre essas “oportunidades ruins” estão os baixos salários. Um cirurgião cardiovascular pode começar ganhando até R$ 2.500, segundo Gilberto Barbosa, presidente da SBCCV (Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular).
Ele afirma que a queda da procura pela profissão é um fenômeno mundial, ligado em parte à diminuição das operações. “As cirurgias de coronária, por exemplo, diminuíram 70% em razão dos avanços que possibilitaram dilatar as coronárias e colocar stents [espécie de tubo inserido na artéria para impedir o seu entupimento].”
A baixa remuneração acontece também em razão de as operações requererem a presença de equipes grandes.
Há ainda a formação longa: são seis anos de residência, sendo dois em cirurgia geral e quatro em cirurgia cardiovascular. Muitos acabam escolhendo carreiras em que possam começar a receber antes.
Outros acabam optando pela obtenção de título da SBCCV, o que pode ocorrer após quatro anos de treinamento e o cumprimento de uma série de requisitos, como número mínimo de cirurgias realizadas.
A sociedade estima que 20% a mais de cirurgiões se formam hoje por essa via em detrimento da residência.
Falta
A preocupação que surge com os dados da associação é a possível falta de cirurgião cardiovascular no país. Para Gilberto Barbosa, o certo é incentivar a escolha pela especialidade, principalmente das estudantes de medicina, que costumam não escolhê-la. “Em 15 anos haverá falta de cirurgião cardiovascular, já que vivemos em um país com uma população cada vez mais idosa.”
Já Anderson Dietrich diz que as vagas ociosas oferecidas pelo MEC hoje poderiam ser redirecionadas, pois incentivar mais profissionais na área seria criar uma reserva de mercado, contribuindo ainda mais para os baixos salários da carreira.
Segundo o diretor de Hospitais Universitários e Residências em Saúde da SESu (Secretaria de Educação Superior), do MEC, José Rubens Rebelatto, “estão em estudo na secretaria, em conjunto com a Comissão Nacional de Residência Médica, algumas ações para a reformulação das residências médicas com o objetivo de garantir um melhor aproveitamento dos recursos e a otimização da ocupação das bolsas”
Sucesso
Mário Novais
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