Pediatria: Oficina de Prescrições 1
Nesta primeira oficina de prescrições, gostaria de abordar um pouco o preenchimento adequado do receituário médico. Após apresentar pequenas vinhetas clínicas, todas pediátricas, iremos simular uma prescrição.
Todo documento médico deve ser preenchido com muito zelo e cuidado. Em especial nos receituários, faz-se fundamental ser compreendido, de modo que a construção das informações deve ser direcionada para aquele que irá interpretá-la. Se pessoas de uma capacidade cognitiva menor, devemos evitar abreviações e buscar descrever detalhadamente todas as informações e orientações. Além disso, devemos nos atentar de maneira especial para nossa caligrafia! Uma receita mal feita e ilegível é um péssimo cartão de visitas para qualquer profissional.
Caso 1. Este é o João Mateus Moraes. Tem 8 meses, 9,8 kg e 65 cm. Apresenta quadro de diarreia aquosa com 4-5 episódios/dia de início há 2 dia. Ausência de vômitos, febre ou queda do estado geral. Criança brinca normalmente e interage com o meio. Ao exame físico, não apresentou sinais ou sintomas de desidratação.
Como nossa ênfase é para a prescrição, os comentários a respeito das entidades clínicas serão breves. Notamos uma criança em bom estado geral e sem sinais ou sintomas de desidratação grave. O objetivo, neste caso, é prevenir a desidratação, sendo indicado líquidos e sais de reidratação oral (SRO) à vontade, em pequenos volumes e curtos intervalos. Um envelope de SRO é diluído em 1 litro de água e deve-se trocá-lo a cada 24 horas. O regime terapêutico não é fixo, sendo indicado oferecer à criança várias vezes ao dia, ou após episódio de diarreia ou vômito. Não está indicada a suspensão da alimentação ou da amamentação. Observe como ficará nosso receituário.
João Mateus Moraes 8m, 9,8kg, 65cm
Uso Interno:
1) Sais para reidratação oral ————————— 1 envelope
Dissolver 1 envelope em 1 litro de água filtrada e fervida e dar meio copo à vontade.
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Em pediatria, aconselhamos sempre indicar nos receituários a idade, o peso e a estatura da criança. Não se esqueça de preencher o uso da medicação (interno, nasal, oral, vaginal, anal, intramuscular). Depois seguimos a sequência: nome do medicamento, apresentação e quantidade. Note como a descrição do uso deve ser simples e fácil de entender. Poderíamos ter optado por indicar uma quantidade de 100ml, mas perceba como a expressão “meio copo” facilita a compreensão e a correta adesão.
Caso 2. Guilherme Henrique da Silva de 4 anos. A mãe nos procura porque seu filho vem apresentando tosse diária e muito “catarro”, tendo o quadro começado há cerca de 1 semana. Quando questionada, nega febre e relata aspecto hialino da secreção nasal.
Muito comum nos ambulatórios de pediatria, a vinheta descrita é a clássica história de uma IVAS viral. Devemos explicar aos pais como estes quadros são comuns na infância e sua benignidade. Não há necessidade de medicação específica e a tosse é um simples mecanismo de defesa do próprio organismo, visando eliminar o excesso de fluídos. A conduta recomendada é: lavagem das narinas com soro fisiológico e analgésicos quando necessário. Outra orientação importante é aumentar a ingesta hídrica, visto que pode dar maior fluidez às secreções. Observe nossa prescrição abaixo.
Guilherme Henrique da Silva 4 anos, 17 kg, 99 cm
Uso Nasal: 1) Soro fisiológico nasal ———————— 1 frasco Lavar as narinas várias vezes ao dia.
Uso Interno: 1) Dipirona gotas ——————————– 1 frasco Dar 8 gotas de 6/6 horas em caso de dor ou febre.
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Gostaria de ressaltar que as medicações sintomáticas devem sempre ser condicionadas (se dor ou febre, por exemplo). Quanto à sequência na receita, damos preferência por iniciar com as medicações mais relevantes, não existindo uma regra fixa quanto à disposição.
Por hoje será isso! Não deixe de acompanhar nossos próximos posts. Atualizações em clínica, informações sobre medicamentos e doenças, resumos de temas relevantes, dicas práticas, e muitos outros temas! E deixe para nós sugestões, comentários ou dúvidas; sua opinião é muito importante para nós!
Igor Torturella