A Glicose-6-fosfato Desidrogenase (G6PD) é uma enzima que catalisa a nicotinamide adenine dinucleotide phosphate (NADP) em sua forma reduzida NADPH na via das pentoses. Os eritrócitos geram NADPH por esta única via, logo são mais suscetíveis do que as outras células a destruição por stress oxidativo. A NADPH protege as células desse stress.
O gene codificante para G6PD localiza-se no cromossomo X (lócus Xq28), sendo que homozigotos e heterozigotos podem ser sintomáticos. As mutações podem causar níveis de deficiência enzimática variados e espectros diferentes de manifestação da doença.
Embora de altíssima prevalência como uma anormalidade genética, as pessoas com deficiência de G6PD, em sua maioria, permanecem clinicamente assintomáticas por toda a vida.
Entre as síndromes clinicas relacionada à deficiência de G6PD incluem-se hiperbilirrubinemia neonatal, hemólise aguda e hemólise crônica.
- Icterícia neonatal:
Há forte associação entre icterícia neonatal e deficiência de G6PD, por razões ainda não completamente entendidas. Caracteristicamente seu pico de incidência de manifestação clínica está entre 2 e 3 dias de vida e raramente está presente ao nascimento. Em poucos casos a anemia é severa, todavia pode haver icterícia grave com risco de kernicterus relacionado à prematuridade, a infecção e/ou fatores ambientais (uso de naftalina nas roupas e cobertas dos recém-nascidos).
- Anemia hemolítica aguda (AHA):
Indivíduos deficientes de G6PD estão sob risco de desenvolver AHA em resposta a três fatores desencadeantes: (i) ingestão de feijão fava, (ii) infecções e (iii) drogas. Tipicamente a hemólise aguda se manifesta com palidez, fraqueza, dor abdominal ou lombar, e num intervalo de horas a 2-3 dias a criança pode desenvolver icterícia e urina escura devido à hemoglobinúria. A anemia é normalmente normocítica e normocrômica, com contagem de reticulócitos aumentada, aumento de DHL (desidrogenase lática) e de bilirrubina indireta.
O início pode ser abrupto, especialmente com favismo em crianças. A hemólise ocorre tipicamente em 24 a 72 horas após exposição ao fator estressor com resolução dentro de 4 a 7 dias. Em geral, pode cessar mesmo se o fator desencadeante se mantenha. Este fato se deve a hemólise inicial dos eritrócitos mais velhos com maior deficiência e os eritrócitos mais jovens e reticulócitos terem níveis mais elevados da atividade enzimática, sendo capazes de sustentar o dano oxidativo sem hemólise.
As drogas e substâncias que podem desencadear crises de hemólise em pessoas deficientes de G6PD estão listadas no item Conduta Preventiva.
2.3 Hemólise crônica (anemia hemolítica crônica não esferocítica):
Trata-se de uma variante genética da deficiência de G6PD que cursa com hemólise crônica. Essa mutação é esporádica e não herdada, por isso é extremamente rara.
Os pacientes são sempre do sexo masculino, quase sempre com antecedente de icterícia neonatal, apresentam esplenomegalia moderada e a severidade da anemia varia entre leve a grave. Raramente podem necessitar de transfusão. Há aumento de reticulócitos (>20%), de DHL e da bilirrubina indireta. Na hemólise crônica causada pela deficiência de G6PD, a hemólise é principalmente extra vascular, que difere da AHA. Os eritrócitos desses pacientes são também vulneráveis ao dano oxidativo agudo e, assim, os mesmos agentes que causam AHA nas pessoas com as variantes comuns poderão causar exacerbações nas pessoas com esta forma mais grave de deficiência de G6PD.(2)
A anemia ferropriva, comum na faixa etária de 6 a 24 meses, deve ser descartada nesses pacientes, pois a ferropenia pode dificultar o diagnóstico da hemólise. A anemia ferropriva caracteriza-se por anemia microcítica e hipocrômica com ferritina e transferrina baixas.
Existem alguns casos da forma grave de deficiência de G6PD onde os granulócitos podem ser afetados e a criança apresentar susceptibilidade aumentada a algumas infecções bacterianas.
A deficiência de G6PD tem alta prevalência na população e está no screening de doenças triadas pelo Programa de Triagem Neonatal do Distrito Federal (PTN-DF) desde 2011. É possível evitar a sintomatologia descrita com medidas profiláticas simples que incluem: evitar administração de drogas indutoras da hemólise e a ingestão de feijão de fava. O diagnóstico precoce realizado pela Triagem Neonatal e o acompanhamento adequado dos pacientes evitam o aparecimento de sequelas e o risco de óbito.
- Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10)
D55.0 – Anemia devida à deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase [G-6-PD]
- Diagnóstico Clínico ou Situacional
O critério utilizado para estabelecer o diagnóstico de deficiência de G6PD em crianças é a determinação quantitativa da enzima pelo método de fluorescência realizada em papel filtro no “teste do pezinho”.
Deve-se descartar a anemia ferropriva na faixa etária de 6 a 24 meses.
Fonte:
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal