Os relacionamentos dos médicos de atenção primária (MAPs) com os especialistas impactaram a maneira como seus pacientes experimentaram os encaminhamentos e como foram tratados pelos especialistas, mostrou um estudo publicado no JAMA Internal Medicine.
Os pacientes encaminhados para especialistas com quem seu MAP treinou na mesma instituição por pelo menos 1 ano da faculdade de medicina ou da pós-graduação avaliaram melhor seu atendimento pelo especialista em geral, descobriram J. Michael McWilliams, MD, PhD e Maximilian J. Pany, ambos da Harvard Medical School, em Boston.
Na verdade, a avaliação composta ajustada significativamente mais alta de 9,0 pontos percentuais, em comparação com os encaminhamentos de MAP para especialistas onde não havia sobreposição de educação, estava no mesmo nível do especialista passando do 50º para o 91º percentil de desempenho.
Os especialistas também eram mais propensos a prescrever medicamentos, solicitar um exame de imagem ou ambos para pacientes de médicos com quem estudaram ou fizeram treinamento.
“Este estudo sugere ganhos potencialmente grandes em qualidade ao encorajar e aproveitar as relações entre médicos e seus colegas”.
Os resultados foram “quantitativamente” semelhantes ao observar pacientes que acabaram sendo atendidos por um especialista ao qual seu MAP não os havia indicado, mas com quem havia treinado.
Embora mais medicamentos ou mais exames não sejam automaticamente bons para os pacientes, as descobertas fornecem pistas para programas de melhoria da qualidade, sugeriu Lawrence P. Casalino, MD, PhD, do Weill Cornell Medical College, na cidade de Nova York.
“Pode-se debater se o desejo de atuar profissionalmente aos olhos dos colegas deve ser definido como motivação intrínseca, mas, de qualquer forma, essa motivação – seja lá como for chamada – é, como sugerem os autores, algo que as organizações que fornecem cuidados médicos poderiam usar mais extensivamente para melhorar a qualidade”, escreveu ele em um comentário convidado que acompanhou a publicação do estudo.
No artigo, os pesquisadores contextualizam que as relações entre colegas de profissão podem motivar os médicos a aspirar a altos padrões profissionais, mas esse não têm sido o foco principal dos esforços de melhoria da qualidade.
O objetivo do estudo, portanto, foi determinar se as relações entre médicos de atenção primária (MAPs) e especialistas formadas durante o treinamento motivam a melhoria do cuidado especializado para os pacientes.
Neste estudo quase experimental, a análise de diferenças-em-diferenças foi usada para estimar as diferenças nas experiências com atendimento especializado relatadas por pacientes do mesmo MAP para especialistas que treinaram ou não treinaram junto com o MAP, controlando quaisquer diferenças nas avaliações de pacientes dos mesmos especialistas na ausência de vínculos de treinamento.
Consultas especializadas resultantes de encaminhamentos de MAP de 2016 a 2019 em um grande sistema de saúde foram analisadas, incluindo um subconjunto de encaminhamentos não direcionados nos quais os MAPs não especificaram um especialista. Os dados foram coletados de janeiro de 2016 a dezembro de 2019 e analisados de março de 2020 a outubro de 2022.
A exposição foi sobreposição de MAP-especialista em treinamento (escola de medicina ou pós-graduação médica) na mesma instituição por pelo menos 1 ano (co-treinamento).
O principal desfecho foi a avaliação composta da experiência do paciente em atendimento especializado construída a partir da Pesquisa de Prática Médica de Press Ganey.
De 9.920 consultas com especialistas para 8.655 pacientes (62,9% do sexo feminino; idade média de 57,4 anos) com 502 especialistas em 13 especialidades, 3,1% (306) envolveram díades de especialistas e MAP com um vínculo de co-treinamento.
Vínculos de co-treinamento entre MAPs e especialistas foram associados a uma avaliação composta ajustada do paciente para o atendimento especializado 9,0 pontos percentuais mais alta (IC de 95%, 5,6-12,4 pontos percentuais; P <0,001), análoga à melhora do percentil mediano para o 91º percentil de performance do especialista.
Essa associação foi mais forte para díades de especialistas e MAP com sobreposição temporal total no treinamento (mesma classe ou coorte) e consistentemente forte para 9 de 10 itens de experiência do paciente, incluindo clareza de comunicação e engajamento na tomada de decisão compartilhada.
Em análises secundárias de marcadores objetivos de prática especializada alterada em uma amostra expandida de consultas não limitada pela disponibilidade de dados de experiência do paciente, o co-treinamento foi associado a mudanças na prescrição de medicamentos, sugerindo mudanças comportamentais além da comunicação interpessoal.
As características dos pacientes variaram minimamente pelo status de co-treinamento das díades de especialistas e MAP. Os resultados foram semelhantes nas análises restritas a encaminhamentos não direcionados (nos quais os MAPs não especificaram um especialista).
A concordância entre MAPs e especialistas em idade do médico, sexo, ano de graduação da faculdade de medicina e instituição de treinamento (sem necessidade de sobreposição temporal) não foi associada a melhores experiências de atendimento.
Neste estudo quase experimental, o co-treinamento entre médicos especialistas e o médico de atenção primária provocou mudanças nos cuidados especializados que melhoraram substancialmente as experiências do paciente, sugerindo ganhos potenciais de estratégias que encorajam a formação de relações mais fortes entre médicos e colegas.
Fontes:
https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/fullarticle/2800153
https://www.news.med.br/p/medical-journal/1431635/o+poder+das+relacoes+entre+medicos+pacientes+podem+receber+tratamento+melhor+se+seu+medico+de+atencao+primaria+e+especialistas+estudaram+juntos.htm