O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou uma nota à imprensa contra a abertura indiscriminada de novos cursos de medicina. Ela é assinada em conjunto com 27 Conselhos Regionais de Medicina.
Segundo a nota, entre 2000 e 2010 foram criadas 80 escolas, sendo que boa parte delas não tem condições de funcionamento por não apresentarem instalações adequadas, possuem ambulatórios e hospitais precários, ou eles não existem, e não oferecem conteúdo pedagógico qualificado aos estudantes.
“O Ministério da Educação, ao não cobrar a obediência às regras que autorizam o funcionamento das escolas, colabora com a abertura de cursos de forma indiscriminada e com a formação de médicos despreparados para atender a população.”
Segundo as entidades que assinam o documento, o Governo – por meio de setores da gestão – e alguns especialistas insistem na simplificação do problema da desassistência no Brasil atribuindo-o a uma suposta falta de médicos. No entanto, os dados do CFM mostram que isso não ocorre. Os números mais recentes indicam que há 347 mil profissionais no Brasil, com a previsão de formar mais 16 mil a cada ano.
Existe uma concentração de 72% nos estados do Sul e Sudeste, alerta a nota, porque faltam políticas públicas para a interiorização da medicina e da assistência.
Essa situação leva a distorções. No interior de Roraima, por exemplo, há um médico para cada 10.306 habitantes, igual a de países com baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). No entanto, a média nacional é de um médico para 578 habitantes.
O CFM e os CRMs apontam a criação de uma carreira de Estado como uma saída para corrigir esse tipo de diferença. Essa solução representa também oferta de melhores honorários e perspectivas de progressão funcional, além de garantir ao médico que trabalha em áreas remotas condições de fazer diagnósticos e tratamentos.
Os Conselhos cobram dos gestores públicos a adoção de outras medidas para contornar o problema, como a garantia de mais recursos para o SUS e qualificar a gestão do sistema, garantindo-lhe infraestrutura adequada ao seu funcionamento.
“A abertura de novos cursos de Medicina não resolverá o caos do atendimento, ao contrário do que defendem alguns. A duplicação do número de escolas médicas – entre 2000 e 2010 – não solucionou a má distribuição dos médicos, mantendo a desassistência, inclusive nos grandes centros urbanos”, afirmam as entidades.
Texto retirado de:
http://www.sbpc.org.br/noticias-e-comunicacao/cfm-alerta-contra-excesso-de-cursos-de-medicina/