Antes de 2020, os transtornos mentais eram as principais causas do fardo global relacionado à saúde, com os transtornos depressivos e de ansiedade sendo os principais contribuintes para esse fardo.
O surgimento da pandemia de COVID-19 criou um ambiente onde muitos determinantes da saúde mental precária são exacerbados. A necessidade de informações atualizadas sobre os impactos da COVID-19 na saúde mental de uma maneira que informe as respostas do sistema de saúde é imperativa.
Neste estudo, publicado pelo The Lancet, objetivou-se quantificar o impacto da pandemia de COVID-19 sobre a prevalência e o fardo do transtorno depressivo maior e dos transtornos de ansiedade globalmente em 2020.
Realizou-se uma revisão sistemática de dados relatando a prevalência de transtorno depressivo maior e transtornos de ansiedade durante a pandemia de COVID-19 e publicados entre 1º de janeiro de 2020 e 29 de janeiro de 2021. Foram pesquisadas as bases de dados PubMed, Google Scholar, servidores de artigos em pré-impressão, fontes de literatura cinzenta e especialistas foram consultados.
Os estudos elegíveis relataram a prevalência de transtornos depressivos ou de ansiedade que eram representativos da população em geral durante a pandemia de COVID-19 e tinham uma linha de base pré-pandêmica.
Usou-se os dados reunidos em uma meta-regressão para estimar a mudança na prevalência de transtorno depressivo maior e transtornos de ansiedade entre pré-pandemia e pandemia média (usando períodos definidos por cada estudo) por meio de indicadores de impacto da COVID-19 (mobilidade humana, taxa de infecção diária por SARS-CoV-2 e taxa de mortalidade excessiva diária).
Em seguida, usou-se esse modelo para estimar a mudança da prevalência pré-pandêmica (estimada usando o Disease Modeling Meta-Regression versão 2.1 [conhecido como DisMod-MR 2.1]) por idade, sexo e localização. Usou-se estimativas finais de prevalência e pesos de deficiência para estimar os anos vividos com deficiência e anos de vida ajustados por deficiência (DALYs) para transtorno depressivo maior e transtornos de ansiedade.
Foram identificadas 5.683 fontes de dados únicas, das quais 48 preencheram os critérios de inclusão (46 estudos preencheram os critérios para transtorno depressivo maior e 27 para transtornos de ansiedade).
Dois indicadores de impacto da COVID-19, especificamente as taxas de infecção diária por SARS-CoV-2 e reduções na mobilidade humana, foram associados ao aumento da prevalência de transtorno depressivo maior (coeficiente de regressão [B] 0,9 [intervalo de incerteza de 95% 0,1 a 1,8; p = 0,029] para a mobilidade humana, 18,1 [7,9 a 28,3; p = 0,0005] para a infecção diária por SARS-CoV-2) e de transtornos de ansiedade (0,9 [0,1 a 1,7; p = 0,022] e 13,8 [10,7 a 17,0; p <0,0001].
As mulheres foram mais afetadas pela pandemia do que os homens (B 0,1 [0,1 a 0,2; p = 0,0001] para transtorno depressivo maior, 0,1 [0,1 a 0,2; p = 0,0001] para transtornos de ansiedade) e os grupos de idade mais jovens foram mais afetados do que os grupos de idade mais avançada (-0,007 [-0,009 a -0,006; p = 0,0001] para transtorno depressivo maior, -0,003 [-0,005 a -0,002; p = 0,0001] para transtornos de ansiedade).
Estima-se que os locais mais afetados pela pandemia em 2020, conforme medido com a diminuição da mobilidade humana e a taxa de infecção diária por SARS-CoV-2, tiveram os maiores aumentos na prevalência de transtorno depressivo maior e de transtornos de ansiedade.
Estima-se um adicional de 53,2 milhões (44,8 a 62,9) de casos de transtorno depressivo maior globalmente (um aumento de 27,6% [25,1 a 30,3]) devido à pandemia de COVID-19, de modo que a prevalência total foi de 3.152,9 casos (2.722,5 a 3.654,5) por 100.000 habitantes.
Também se estima 76,2 milhões (64,3 a 90,6) de casos adicionais de transtornos de ansiedade em todo o mundo (um aumento de 25,6% [23,2 a 28,0]), de modo que a prevalência total foi 4.802,4 casos (4.108,2 a 5.588,6) por 100 000 habitantes.
Ao todo, o transtorno depressivo maior causou 49,4 milhões (33,6 a 68,7) de DALYs e os transtornos de ansiedade causaram 44,5 milhões (30,2 a 62,5) de DALYs globalmente em 2020.
Essa pandemia criou uma urgência cada vez maior para fortalecer os sistemas de saúde mental na maioria dos países. As estratégias de mitigação podem incorporar maneiras de promover o bem-estar mental e objetivar os determinantes de saúde mental precária e intervenções para tratar as pessoas com transtorno mental.
Não tomar medidas para lidar com o fardo do transtorno depressivo maior e dos transtornos de ansiedade não deve ser uma opção.
Fonte: https://www.news.med.br/p/medical-journal/1404355/estudo+identifica+aumento+da+prevalencia+e+do+fardo+global+de+transtornos+depressivos+e+de+ansiedade+devido+a+pandemia+de+covid+19.htm