onhecido popularmente como derrame, o acidente vascular cerebral (AVC) é a segunda maior causa de mortalidade no Brasil e a principal causa de incapacidade no mundo, com impacto social e econômico importantes. Estudos indicam que uma em cada quatro pessoas terá a doença ao longo da vida e, diante dessa realidade, a Rede Brasil AVC lança a campanha “Combatendo o AVC”, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares e a Academia Brasileira de Neurologia, além do apoio institucional do Conselho Federal de Medicina (CFM).
A Organização Mundial de AVC (WSO, na sigla em inglês), entidade global voltada exclusivamente para o acidente vascular cerebral, apresentou dados preocupantes relacionados à pandemia: a queda global de mais de 60% nos atendimentos por AVC. No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que em 2019 foram registrados 205.070 procedimentos hospitalares relacionados
ao AVC e, em 2020, o número foi de 192.681.
Embora não seja possível afirmar que esses procedimentos dizem respeito a quantidade de pessoas, uma vez que o mesmo paciente pode ter sido submetido ao mesmo procedimento mais de uma vez, os especialistas acreditam que a pandemia reduziu a procura por atendimento.
O neurologista e conselheiro federal pelo estado do Pará, Hideraldo Cabeça, destacou a importância da iniciativa para o combate da doença. “Quanto mais pessoas souberem que é possível prevenir o AVC e que, na fase aguda, o serviço médico deve ser acionado imediatamente, menor o número de pessoas sequeladas”, ressaltou.
Já a presidente da Rede Brasil AVC e presidente-eleita da World Stroke Organization, Sheila Cristina Ouriques Martins, é preciso reforçar o alerta, principalmente durante a pandemia da Covid-19. “Os pronto-atendimentos, hospitais e unidades de saúde estão voltados para o atendimento de pacientes infectados pelo coronavírus, mas o atendimento aos pacientes com AVC está
assegurado nos centros especializados e é urgente esclarecer a população”, disse.
Infraestrutura no SUS – Parceiro na aliança formada por entidades médicas que buscam reforçar a conscientização, orientação e prevenção da doença junto à população, o Conselho Federal de Medicina (CFM) já mostrou, em pesquisa divulgada em 2017, a preocupação com o aumento do número de casos e a infraestrutura disponível na rede pública para atendimento de crises agudas.
Para neurologistas e neurocirurgiões ouvidos pelo CFM a maioria dos hospitais públicos brasileiros (76%) apresentava infraestrutura pouco adequada (39%) ou inadequada (37%) ao atendimento de crises agudas de AVC. Apenas 25% desses estabelecimentos se enquadravam em parâmetros que os tornariam adequados (22%) ou muito adequados (3%) para essa finalidade.
Para os neurologistas e neurocirurgiões consultados, em 87,9% dos hospitais públicos que acolhiam pacientes em crise aguda de AVC faltavam leitos de internação; em 93% não havia ressonância magnética disponível em até 15 minutos; e em 32% inexistia tomografia computadorizada. O grupo ainda relatou ausência de leitos de UTI/ emergência para pacientes com acidente vascular Isquêmico, que precisam usar trombolíticos, em 63,6% dos serviços. De forma geral, essas unidades careciam desse medicamento (52,6%) e de uma triagem para identificar os pacientes com AVC (57,5%).
Sinais de alerta – Existem dois tipos de AVC: o isquêmico, que ocorre quando falta sangue em alguma área do cérebro; e o hemorrágico, quando um vaso intracraniano rompe. Entre os sinais de alerta mais comuns estão fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo; confusão mental, alteração da fala ou compreensão; alteração na visão,
no equilíbrio, na coordenação, no andar, tontura e dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente.
O principal fator de risco para a ocorrência do AVC é a hipertensão arterial. Em seguida, vem a arritmia cardíaca, diabetes, tabagismo, colesterol alto e obesidade. Todos estes são considerados modificáveis. Os não modificáveis são a idade, a raça e a herança genética.
“É preciso alertar que a maioria dos AVC ocorre por fatores modificáveis. Uma alimentação inadequada, com muito sal e açúcar, aliada ao sedentarismo e à obesidade, são hábitos que propiciam o surgimento do AVC”, afirma Hideraldo Cabeça.