O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou recentemente a nova Demografia Médica do Brasil, realizada em colaboração com a Universidade de São Paulo (USP). Agora em sua quinta edição, em 2020 completou 10 anos que a pesquisa é realizada, quando o país atinge um marco histórico ao passar de 500 mil médicos em atuação.
O documento destaca que “a tragédia da pandemia da Covid-19 relembrou aos países e aos sistemas de saúde, em momento de demanda excepcional e de fragilidades na oferta de serviços, o quão fundamentais são os recursos humanos e a existência de médicos em quantidade suficiente, bem distribuídos, valorizados e protegidos, com habilidades e capacidades para atender às necessidades da população de maneira oportuna, eficiente e efetiva”.
Distribuição da força de trabalho
O número atual, de meio milhão de médicos, representa mais do que o dobro de médicos que o Brasil possuía no início deste século. Porém, os problemas de distribuição geográfica destes profissionais continuam sendo um desafio.
A relação de médico por mil habitantes aumentou significativamente nesse período, passando de 1,41 em 2000 para 2,4 em 2020. Essa proporção de médicos por habitantes é superior à do Japão, por exemplo, e se aproxima dos índices dos Estados Unidos (2,6), Canadá (2,7) e Reino Unido (2,8).
Quando observamos a proporção de médicos em cada região, a história é diferente. A região Norte tem uma taxa 43% menor do que a média nacional, com o Pará apresentando uma proporção de apenas 1,07. No Nordeste também se encontra índices baixos, como 1,08 no Maranhão. Já no Sul, a média regional é 2,68. E no Sudeste a melhor taxa é do estado do Rio de Janeiro, com 3,7, e a menor taxa é de Minas Gerais, mas ainda assim com um número acima da média nacional, com 2,66. O Centro-Oeste, apenas de uma média de 2,74, apresenta grandes disparidades, com a taxa do Distrito Federal chegando a 5,11, enquanto o Mato Grosso, por exemplo, apresenta taxa de 1,91.
Alguns desses números exemplificam claramente os problemas de distribuição dos profissionais médicos no território nacional. E além disso, também há a questão da concentração de médicos na iniciativa privada, que oferece melhores condições de trabalho. A rede privada atende apenas 25% da população brasileira, mas a força de trabalho na iniciativa privada é de 78,52%, com 28% dos médicos trabalhando exclusivamente nela. No serviço público, a força de trabalho é de 71,7%.
Com essa situação, o resultado é um acesso à saúde precário no país, pois apesar do elevado número de médicos, a falta de políticas públicas prejudica a distribuição e interiorização.
Mais jovens e mais mulheres
Outro dado interessante da Demografia Médica 2020 é a diminuição observada ano a ano da diferença relacionada a gênero. Os homens ainda são maioria entre os médicos, mas em 2020 eles representavam 53,4% da população médica, e as mulheres, 46,6%. Trinta anos atrás, as mulheres representavam apenas 30,8%.
Nos grupos mais jovens, as mulheres já são maioria em 2020, representando 58,5% entre os médicos de até 29 anos, e 55,3% na faixa etária entre 30 e 34 anos.
A média de idade dos médicos em atuação também revela uma medicina mais jovem, sendo de 45 anos, com desvio padrão igual a 15.
Médicos especialistas e generalistas
Em números absolutos, o Brasil conta com 293.064 médicos especialistas e 184.946 generalistas. O estudo considera especialista o médico titulado através de programa de Residência Médica ou que obteve título emitido por uma sociedade de especialidade médica.
Neste quesito também se encontram algumas disparidades. Dentre as 55 especialidades médicas oficialmente reconhecidas, quatro concentram quase 40% dos especialistas. As especialidades com maior número de médicos são Clínica Médica (11,3% do total de especialistas), Pediatria (10,1%), Cirurgia Geral (8,9%) e Ginecologia e Obstetrícia (7,7%).
As 20 especialidades com maior número de especialistas reúnem 80,7% dos profissionais titulados. Os demais especialistas estão distribuídos em outras 35 especialidades. Seis delas têm menos de mil titulados cada.
A Demografia Médica 2020 explicita as dificuldades que o Brasil ainda enfrenta para oferecer acesso à saúde a todos, apesar do crescente aumento do número de profissionais médicos.
Dessa forma, o futuro da Medicina e da profissão médica será determinado pelos rumos do sistema de saúde, pelas escolhas profissionais, pelo mercado, pelas tecnologias e pelas políticas públicas de recursos humanos, de saúde, de formação e educação médica, que interagem continuamente.
Original: https://www.news.med.br/p/saude/1385810/demografia+medica+2020+brasil+ultrapassa+marca+de+500+mil+medicos.htm