Conceito e classificação
Por muitas décadas o cloranfenicol foi a única droga realmente eficaz no tratamento de salmoneloses, inclusive a S. typhi.
O cloranfenicol se liga à subunidade 50S do ribossomo, inibindo a síntese protéica da bactéria, tendo, assim, ação bacteriostática. Porém, pode ser bactericida contra algumas espécies como S. pneumoniae, H. influenzae e N. meningitidis, através de mecanismo não bem elucidado.
Propriedades farmacológicas
É disponível na forma oral (palmitato), intravenosa (succinato) e tópica. É hidrolisado no trato digestivo antes de ser absorvido, atingindo pico sérico em 1 a 2 horas. Penetra na maioria dos fluidos orgânicos, incluindo os líquidos pleural, peritoneal e sinovial. Atinge no liquor a metade da concentração plasmática na presença ou não de inflamação das meninges. Por ser lipofílico, alcança no parênquima cerebral concentração até 9 vezes maior que a do plasma.
É conjugado no fígado e secretado pelos rins. Somente 10 a 20% da droga ativa é secretada pelos rins. Apenas pequena quantidade da droga ativa é eliminada na bile. Em pacientes com lesão hepática importante há aumento da concentração sérica da droga, com maior probabilidade de ocorrer toxicidade medular, devendo ser ajustada a dose.
Indicações clínicas
- Tem sido usado no tratamento de infecção por enterococos resistentes à vancomicina.
- Pode ser utilizada nas salmoneloses, principalmente na febre tifóide.
- É alternativa no tratamento de meningite bacteriana e epiglotite, artrite séptica e osteomielite por Haemophilus influenzae em pacientes alérgicos aos ß-lactâmicos.
- Indicado no tratamento de ricketsioses ou erlickiose.
Efeitos colaterais
- Reações de hipersensibilidade como erupção macular ou vesicular acompanhada ou não de febre são incomuns.
- Náuseas, vômitos, alteração no paladar, diarréia e irritação anal podem ocorrer durante administração oral.
- A toxicidade hematológica apresenta-se com reticulocitopenia, podendo evoluir com anemia, granulocitopenia e trombocitopenia. Essas alterações são dose-dependentes e reversíveis com a suspensão da droga.
- Também pode apresentar-se como anemia aplástica irreversível, geralmente entre 3 e 12 semanas após a terapia. Embora rara, freqüentemente é fatal e pode ocorrer com qualquer apresentação, mesmo tópica.
- A “Síndrome do bebê cinzento” é outra forma grave de toxicidade, cujos sinais se iniciam após 3 a 4 dias de tratamento, caracterizando-se por vômitos, distensão abdominal, letargia, cianose, hipotensão, respiração irregular, hipotermia e morte. Ocorre pela falta de capacidade do recém-nascido conjugar e eliminar a droga. Como atravessa a placenta e é encontrada no leite, seu uso deve ser evitado em gestantes e lactantes. É contra-indicada no terceiro trimestre de gestação, devido ao risco de “síndrome cinzenta”.
O reconhecimento de efeitos tóxicos com risco de vida (“síndrome do bebê cinzento” e anemia aplástica), e o desenvolvimento de novas drogas mais efetivas e menos tóxicas, restringiu muito o seu uso. Portanto, deve ser utilizado apenas em pacientes graves, em situações específicas.