Iniciativa inédita do Conselho Federal de Medicina (CFM) reuniu, nesta quarta-feira (16), autoridades em saúde de países latino-americanos que fazem fronteira com o Brasil. Em pauta, a pandemia de Covid-19 e seus impactos nas populações de Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai e Peru.
“Queremos estreitar os laços com países que fazem fronteira conosco, pois há diversas situações importantes enfrentadas por médicos que atuam nessas áreas, como a pandemia de Covid-19, que é o que nos move no momento. O Brasil é o segundo país do mundo em números de infectados, prestes a ser ultrapassado pela Índia e atrás apenas dos Estados Unidos, e esta interação é extremamente relevante por estarmos diante de uma doença altamente transmissível e que afeta toda a sociedade, causando o colapso dos sistemas sanitário e de saúde, mas também o econômico e o financeiro”, destacou o presidente do CFM, Mauro Ribeiro.
Em videoconferência organizada pela Comissão de Integração de Médicos de Fronteira e pelo Departamento de Relações Internacionais (DEPRI) do CFM, o secretário do Colégio Médico do Peru, Edén Gallan, afirmou que aquele país “está enfrentando uma fase dura com dificuldade de acesso a recursos humanos e condições sanitárias, já contabilizando 3761 médicos infectados e 188 falecidos”.
Vivenciando uma curva com oscilação crescente de casos e óbitos, o presidente da Confederación Médica de la República da Argentina, Jorge Coronel, afirmou que o sistema de saúde argentino tende a colapsar no enfrentamento à pandemia.
O ex-ministro da saúde da Bolívia Aníbal Cruz Senzano e o presidente da Asociación Medica Colombiana, Pedro Alfonso Contreras, também participaram do encontro apresentando o panorama da pandemia em seus países. Em curva aparentemente decrescente, a Bolívia tem 128 mil casos e mais de 7 mil mortes enquanto a Colômbia é o terceiro país da América Latina no ranking, com mais 736 mil casos e 23 mil óbitos
Em meio à pandemia, que está atingindo novos picos no Paraguai, a presidente do Colégio de Médicos daquele país, Glória Meza Rojas, destacou também a sensação de medo vivenciada pela população diante do sequestro do ex-presidente Oscar Denis por uma guerrilha.
Brasil – No que tange à realidade nacional, membros da comissão do CFM apresentaram realidades locais e regionais sobre a prevalência de casos confirmados e óbitos por Covid-19.
Chamando a atenção para a incidência do novo coronavírus entre as populações indígenas, o médico Alceu Silva, também indígena, destacou que iniciativas unindo os diversos setores são importantes para melhoria da assistência. Segundo Silva, instituições trabalharam juntas e conseguiram diminuir a mortalidade indígena por Covid-19 no Parque Nacional do Tumucumaqui (AP). “Esse é um ponto positivo no meio de tanta dificuldade”, comemorou.
Aspectos relacionados à reinfecção e imunidade a Covid-19, os impactos positivos gerados pela ação da rede de atenção primária no Acre, as questões que permeiam o novo aumento de casos no Amazonas, o enfrentamento da pandemia no Rio Grande do Sul, que superou 160 mil casos e quatro mil mortes, e a estabilidade da doença no Amapá, com baixa incidência e letalidade desde julho, também foram destaques levantados pela Comissão de Integração de Médicos de Fronteira durante a videoconferência.
Coordenadora-geral do CFM e da Comissão de Integração de Médicos de Fronteira, Dilza Ribeiro afirmou que “a comissão, que completará cinco anos de existência, estuda e desenvolve projetos a partir de temas propostos por médicos que atuam nas fronteiras e até por administradores desses locais, como imunização, saúde indígena e de ribeirinhos.A partir desse trabalho, a comissão e o DEPRI reuniram esforços para trazer todas essas lideranças que atuam na divisa com o Brasil a fim de conquistarmos avanços necessários à medicina de fronteira”.
Jeancarlo Cavalcante, coordenador do DEPRI, destacou a importância da integração entre os países. “Todos os que fazem fronteira com o Brasil foram convidados para este primeiro encontro, que é o início de um projeto a ser construído por todos em benefício da medicina na América Latina”, pontuou. Como encaminhamento, os participantes enviarão propostas de trabalho a serem realizadas em conjunto a fim de melhorar a assistência médica e as condições de trabalho nas fronteiras.
Fonte:
Conselho Federal de Medicina