Em um momento que a propagação do coronavírus tem gerado um estresse quase generalizado nos mercados globais, um grupo bastante restrito de ações tem chamado a atenção dos investidores em Wall Street e também no Brasil. São papéis que conseguiram enfrentar a onda de vendas dos ativos justamente por estarem ligados a iniciativas para tratar, conter ou identificar a doença.
Especificamente no Brasil, dizem analistas, redes de farmácia e fabricantes de remédios devem ser parcialmente beneficiadas pelo aumento na demanda de seus produtos, assim como redes de medicina diagnóstica.
Os papéis do Fleury, que lançou há duas semanas o teste para detecção da doença, sobem hoje 4,2%, para R$ 31,02. Na sexta-feira, o papel encerrou o dia com a maior alta do Ibovespa, de 2,7%. As ações da Alliar, que divulgou hoje que os laboratórios da marca CDB iniciaram a coleta domiciliar para o mesmo teste, subiam, há pouco, 7,6%, negociadas a R$ 20,30.
Em relação às redes de farmácia, analistas do UBS deram destaque à Raia Drogasil, apontando um potencial aumento das vendas “mesmas lojas com o avanço na procura por itens de prevenção e de vitaminas. Em relatório divulgado hoje, Pedro Fagundes, da XP Investimentos, diz que os papéis da Raia Drogasil foram resilientes na semana passada, mas que há preocupações com possíveis implicações do vírus na cadeia de abastecimento da indústria farmacêutica.
Na semana passada, a Raia Drogasil e a Fleury tiveram um desempenho relativamente melhor que o Ibovespa num sinal dessa resiliência. As ações das empresas caíram 2,75% e 2,26%, respectivamente, enquanto o Ibovespa cedeu 8,37%. Já a Alliar, que não compõe o índice, acumulou perda de 9,11% na semana passada.
Já em Nova York, que conta com uma variedade maior de segmentos com ações em negociação, o mercado acompanha também os papéis de empresas que têm anunciado esforços para criar tratamentos ou vacinas contra a doença. Esse é o caso da empresa de biotecnologia Gilead Sciences, que iniciou dois estudos de fase 3 de seu tratamento antiviral experimental Remdesivir, que está sendo testado como um tratamento Covid-19 em dois ensaios na província de Hubei, na China, e um nos EUA.
Evidência do desempenho relativamente positivo, as ações da Gilead fecharam praticamente estáveis (-0,49%) na semana passada, em contraste com perda de mais de 10% do índice S&P 500. O movimento contou, inclusive, com uma alta de 6% na quarta-feira. Hoje, em um dia mais calmo nos mercados como um todo, os papéis sobem mais de 6%.
Fora da corrida pela descoberta de tratamentos para a doença, ações de fabricantes de produtos de limpeza, de sabonetes e de máscaras cirúrgicas descartáveis também entraram no radar de investidores pela expectativa de maior demanda dos itens.
A fabricante de água sanitária Clorox, que também compõe o S&P 500, registra valorização desde que o novo vírus começou a assombrar os mercados globais. Apesar da eficácia de produtos de limpeza contra o Covid-19 não ter sido comprovada, investidores acreditam no potencial aumento das vendas já que autoridades recomendam à população desinfetar superfícies frequentemente tocadas.
Na sessão de hoje, os papéis sobem mais de 6% e, no ano, acumulam alta de 10,3%. Desde o dia 17 de janeiro, a última sexta-feira antes do coronavírus começar a afetar as negociações nos maiores mercados, o ganho acumulado é de 7,3%. Vale dizer que, durante boa parte da semana passada, no pior momento de nervosismo dos investidores, as ações da Gilead e da Clorox eram duas das poucas ações a permanecerem em território positivo no S&P 500.
Entre outros pontos de atenção, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, anunciou no fim de semana a compra de mais de 35 milhões de máscaras da 3M. Como resultado, os papéis da companhia sobem hoje 1,65% na Nyse, negociados a US$ 151,70, reduzindo assim a perda de quase 14% registrada desde o início do ano. Também na Bolsa de Nova York, a Colgate-Palmolive, que produz itens como sabonetes e gel antissépticos, tinha alta de 5,8%.