Embora mais de 80% dos casos de Covid-19 sejam leves ou moderados, a infecção pode assumir um curso grave. Nesse contexto, medidas de suporte podem não ser suficientes e as taxas de letalidade são altas.
Um estudo chinês recentemente publicado procurou avaliar características clínicas de pacientes diagnosticados com infecção por SARS-CoV-2 e que desenvolveram pneumonia refratária.
Pneumonia refratária a Covid-19
Trata-se de um estudo retrospectivo, em um único centro, que incluiu todos os pacientes com casos confirmados de Covid-19 internados em um hospital de referência em Wuhan no período de 1° de janeiro a 5 de fevereiro.
Os casos de infecção foram confirmados pela detecção de RNA viral em swabs de orofaringe por meio da técnica de PCR. Pacientes internados foram classificados como tendo caso geral de Covid-19 se apresentassem os seguintes critérios: melhora óbvia dos sintomas respiratórios (como tosse, desconforto torácico e dispneia) depois de tratamento, estar afebril por três dias ou mais sem uso de corticoides ou antipiréticos, melhora de alterações radiológicas em TC ou Rx de tórax depois do tratamento e internação hospitalar por 10 dias ou menos. Caso contrário, os participantes foram classificados como tendo Covid-19 refratária.
Na admissão, doença grave foi definida como a presença de pelo menos um: frequência respiratória ≥ 30 irpm, sO2 ≤ 93% em repouso ou P/F ≤ 300. Casos críticos foram definidos como os que apresentavam pelo menos um dos seguintes: insuficiência respiratória e necessidade de ventilação mecânica, choque ou disfunção orgânica com necessidade de internação em CTI.
Dados clínicos, laboratoriais, radiológicos e sociodemográficos foram retirados dos registros em prontuários eletrônicos. Na análise multivariada, os resultados foram ajustados pela gravidade da doença, ventilação mecânica e transferência para CTI.
Resultados
No total, 155 pacientes foram incluídos no estudo. A média de idade foi de 54 anos e a maioria dos pacientes eram homens (55,5%). Em relação à presença de comorbidades, 45,8% tinham pelo menos uma comorbidade, sendo hipertensão a mais frequente (23,9%), seguida de diabetes (9,7%) e doenças cardiovasculares (9,7%). Os sintomas mais comuns incluíram febre (81,3%), fadiga (73,2%), tosse (62,6%) e mialgia/artralgia (61%). Sintomas gastrointestinais foram raros. À admissão, 55 (35,5%) e 37 pacientes (23,9%) foram categorizados como tendo doença grave ou crítica, respectivamente.
Após internação hospitalar, 70 pacientes (45,2%) obtiveram remissão clínica e radiológica dentro de dez dias. Quando comparados com esses pacientes, os participantes identificados como tendo Covid-19 refratária eram mais velhos (p < 0,001) e mais frequentemente homens (p = 0,011). Da mesma forma, possuíam mais comorbidades (p < 0,001), incluindo diabetes (p = 0,039), doenças cardiovasculares (p = 0,002) e doenças cerebrovasculares (p = 0,039), menor incidência de febre (p = 0,012), maiores temperaturas entre aqueles que fizeram febre (p = 0,005) e maior incidência de dispneia (p = 0,009), anorexia (p = 0,005) e doença grave na admissão (p < 0,001).
À admissão, a maioria dos pacientes apresentava linfopenia e alterações em neutrófilos, plaquetas, transaminases, LDH e marcadores inflamatórios. Alterações radiológicas foram comuns, com 92,3% apresentando pneumonia bilateral e 10,3%, derrame pleural. Pacientes com Covid-19 refratária apresentaram maiores valores de neutrófilos (p = 0,017), TGO (p = 0,004), LDH (p – 0,017) e PCR (p = 0,001), e menores valores de albumina (p = 0,001) e plaquetas (p = 0,049). Além disso, tinham maior incidência de pneumonia bilateral (p = 0,031) e derrame pleural (p = 0,006).
Na análise multivariada, sexo masculino (p = 0,047; OR = 2,206, IC 95% = 1,012 – 4,809) e anorexia na admissão (p = 0,003; OR = 3,921; IC 95% = 1,144 – 13,443) foram encontrados como fatores de risco, enquanto a presença de febre foi fator protetor (p = 0,0039; OR = 0,331; IC 95% = 0,116 – 0,945).
Mensagens práticas
- Os dados corroboram que indivíduos mais velhos apresentam maior risco de doença grave por SARS-CoV-2. Homens idosos e com comorbidades configuram um grupo particular com doença mais grave e mais difícil de tratar;
- Alterações radiológicas bilaterais foram frequentes. Chama a atenção a presença de casos de derrame pleural, pouco descrita em outras séries de casos publicadas até então;
- Da mesma forma, destaca-se a presença de febre como fator protetor de doença refratária. Os autores mencionam que esse resultado sugere que pacientes com resposta lenta ou escassa ao vírus estão sob risco de doença refratária;
- Linfopenia não foi capaz de diferenciar entre os doentes com boa evolução e os que evoluíram com doença refratária. Pacientes refratários apresentaram aumento marcante de LDH e PCR ao longo da evolução.
Fonte:
Portal Pebmed