Os sintomas de burnout (ou síndrome do esgotamento profissional) entre médicos, incluindo pediatras, aumentaram nos últimos dez anos. O burnout está associado a um comportamento profissional prejudicado, a uma pior qualidade da assistência, a uma menor satisfação com o atendimento e a um pior comportamento perante a saúde pessoal (como, por exemplo, abuso de substâncias e suicídio).
Burnout em residentes
O recente estudo Burnout in Pediatric Residents: Three Years of National Survey Data, de Kemper e colaboradores (2020) publicado na revista Pediatrics da American Academy of Pediatrics (AAP) aborda esse tema. Os autores objetivaram descrever a epidemiologia nacional americana do burnout em residentes de pediatria.
Kemper e colaboradores (2020) realizaram questionários com residentes em 34 programas de residência médica em pediatria em 2016, 43 em 2017 e 49 em 2018. Os itens do questionário incluíam o Maslach Burnout Inventory, dados demográficos, características do programa de residência, qualidades pessoais, experiências e satisfação com suporte, equilíbrio entre vida profissional e ambiente de aprendizagem. As análises incluíram comparações transversais e regressão transversal e longitudinal.
Em 2016, 61% dos 2723 residentes elegíveis de 34 programas participaram; em 2017, foram 66% dos 3273 residentes de 43 programas; e em 2018, 61% dos 3657 residentes de 49 programas colaboraram com o estudo.
Os autores descrevem que mais de 60% dos residentes elegíveis participaram. As taxas de burnout foram superiores a 50% em todos os anos e não foram associadas consistentemente a nenhuma característica demográfica ou da residência.
As associações transversais foram significativas entre burnout e estresse, sonolência, qualidade de vida, atenção plena, autocompaixão, empatia, confiança na prestação de cuidados compassivos, estar em rotatividade de alta acuidade, erro médico grave recente, folga recente, satisfação com o suporte e a escolha de carreira, e atitudes em relação à residência.
Os pesquisadores relatam que, nas análises de regressão logística transversal, os fatores associados a um risco aumentado de burnout foram:
- Estresse;
- Sonolência;
- Insatisfação com o equilíbrio entre vida profissional e pessoal;
- Erro médico recente.
Segundo Kemper e colaboradores (2020), os fatores associados a menor risco foram:
- Empatia;
- Autocompaixão;
- Qualidade de vida;
- Confiança na prestação de cuidados compassivos.
Em análise longitudinal, após controlar o burnout de 2017 e os fatores de risco para 2018, a qualidade de vida de 2017 foi associada ao burnout de 2018. A autocompaixão de 2017 foi associada a menor estresse em 2018. A consciência plena, a empatia, a satisfação com o ambiente de aprendizagem e a escolha de carreira foram associadas a uma confiança na prestação de cuidados compassivos em 2018.
A conclusão desse estudo é que a maioria dos residentes atendeu aos critérios de burnout, sendo que os fatores identificados relacionados ao esgotamento profissional sugerem alvos para intervenções para reduzir o desgaste em estudos futuros.
No Brasil, Oliveira e colaboradores (2019) conduziram um estudo prospectivo, transversal e analítico, de abril a setembro de 2016, almejando determinar a frequência e os fatores associados à síndrome de burnout nos médicos residentes de um hospital universitário de nível terciário em Curitiba, Paraná. Esse estudo foi publicado em 2019 na revista Residência Pediátrica, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
No estudo brasileiro, todos os médicos residentes da instituição foram convidados a responder questionários sociodemográficos. A presença de burnout também foi avaliada pelo Maslach Burnout Inventory.
No estudo de Oliveira e colaboradores (2019), de um total de 370 médicos residentes, 117 (31,6%) participaram.
Original: https://pebmed.com.br/mais-de-50-dos-residentes-em-pediatria-desenvolvem-burnout/?utm_source=meddepre&utm_medium=post&utm_campaign=burnout