Sempre ouvi que o pediatra é o especialista que adora crianças ou que gosta de trabalhar com crianças. E sempre que recebia esta resposta de meus alunos de porque escolheriam a pediatria, eu devolvia dizendo que poderiam ser melhores professores, pedagogos, cuidadores, pais, psicólogos pediátricos, ou qualquer outra carreira relacionada ao envolvimento emocional ou desenvolvimento de crianças e não necessariamente a pediatria.
Horrorizados, eles me encaravam sem entender e eu tentava explicar que o pediatra não necessariamente ama seus pacientes, como em todas as especialidades. No entanto, adora prevenir, acompanhar, desenvolver, tratar e resolver os problemas ligados à infância. E não necessariamente ter um envolvimento emocional com UM paciente. E que quando tem de definir um determinado tratamento, uma determinada conduta, NÃO ter esta aproximação pode ser a determinante de uma resposta de vida ou morte.
Pensando friamente, isto é um absurdo. Afinal amamos nossa profissão por esta intensa proximidade com o tipo de paciente ou com o tipo de doença que queremos evitar ou tratar. E depois de 40 anos de atividade como pediatra, a minha conduta hoje é bastante diferente… Amo a CRIANÇA OU ADOLESCENTE, pelo que eles são. E nunca mais me deixei levar pelo amor ao tipo de problema, doença, condição clínica rara ou sintoma diferente que poderia levar a uma publicação ou a uma leitura mais aprofundada.
Hoje amo o ser. Amo a resposta, amo o comportamento, os fatores ambientais que geram respostas e geram movimentos e contra movimentos. Aprendi a ouvir mais do que a falar, aprendi a ver mais do que examinar. Aprendi a gostar de fatos, de historias, de relacionamentos com amigos, com escutar os pais, os avós, as babás, cuidadoras, professoras e terapeutas. Mas especialmente aprendi a olhar com o rabo do olho, cada reação da criança ao entrar no consultório… da sonolenta e irritada, ao desconfiado e intranquilo, do agitado e confiado ao alheio…
Por Mauro Fisberg
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