A miastenia gravis envolve fraqueza muscular episódica e fadiga com facilidade causada pela destruição dos receptores de acetilcolina por anticorpos ou mediada por células. É mais comum em mulheres jovens, mas pode ocorrer em homens ou mulheres de qualquer idade. Os sintomas se agravam com a atividade muscular e melhoram com o repouso. O diagnóstico é feito medindo os níveis de anticorpos do receptor de acetilcolina sérica, eletromiografia e, às vezes, teste do edrofônio IV, que diminui de forma breve a fraqueza. O tratamento inclui drogas anticolinesterase, imunossupressores, corticoides, plasmaférese, IGIV e, possivelmente, timectomia.
A miastenia gravis acomete com mais frequência mulheres entre 20 e 40 anos.
A doença resulta de um ataque autoimune aos receptores de acetilcolina pós-sinápticos, que interrompe a transmissão neuromuscular. O desencadeante da produção de anticorpos é desconhecido, mas a doença está associada a anormalidades no timo, hipertiroidismo e outras doenças autoimunes (p. ex., artrite reumatoide, LES, anemia perniciosa).
O papel do timo na miastenia é incerto, mas 65% dos pacientes apresentam hiperplasia do timo e 10% têm um timoma. Cerca de metade dos timomas é maligna.
Os fatores precipitantes para miastenia grave incluem
- Infecção
- Cirurgia
- Certas drogas (p. ex., aminoglicosídeos, quinina, sulfato de magnésio, procainamida e bloqueadores dos canais de cálcio)
Anticorpos anormais
Somente cerca de 10 a 20% dos pacientes com miastenia generalizada não têm anticorpos contra os receptores de acetilcolina (AChR) no soro; até 50% desses pacientes negativos para anticorpos contra AChR têm anticorpos para tirosinoquinase receptora específica muscular (MuSK), uma enzima de membrana de superfície que ajuda moléculas AChR a se agregarem durante o desenvolvimento da junção neuromuscular. Entretanto, os anticorpos anti-MuSK não ocorrem na maioria dos pacientes com anticorpos AChR ou na forma isolada da miastenia ocular.
O significado clínico dos anticorpos anti-MuSK ainda está sendo estudado, mas esses anticorpos são muito menos propensos a ter uma hiperplasia tímica ou um timoma, podem ser menos responsivos a drogas anticolinesterásicas e podem exigir imunoterapia precoce mais agressiva do que os pacientes com anticorpos para AChR.
Formas raras
A miastenia ocular grave envolve apenas os músculos extraoculares. Representa cerca de 15% dos casos.
A miastenia congênita é uma doença autossômica recessiva rara que começa na infância. Ela não é imune mediada e resulta de anormalidades pré-sinápticas ou pós-sinápticas, incluindo:
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Resíntese reduzida da acetilcolina devido à deficiência de colina acetiltransferase
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Deficiência de acetilcolinesterase da placa terminal
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Anormalidades estruturais no receptor pós-sináptico
Oftalmoplegia é comum.
A miastenia neonatal afeta 12% dos filhos de mães com miastenia grave. Decorre de anticorpos para IgG que atravessam passivamente a placenta. Causa fraqueza muscular generalizada, que melhora em dias a semanas, à medida que os títulos de anticorpos diminuem. Assim, o tratamento costuma ser de suporte.
Sinais e sintomas
Os sintomas mais comuns são ptose, diplopia e fraqueza muscular após o uso do músculo afetado. A fraqueza desaparece quando os músculos afetados repousam, mas volta a ocorrer quando são usados novamente.
Os músculos oculares são afetados inicialmente em 40% dos pacientes e com o tempo em 85%, e são os únicos músculos afetados em 15%. Se houver desenvolvimento da miastenia generalizada depois dos sintomas oculares, ela normalmente ocorre nos três primeiros anos.
O apoio da mão pode alternar entre fraco e normal (apoio da ordenhadeira de leite). Os músculos do pescoço podem enfraquecer. Fraqueza muscular proximal é comum. Alguns pacientes apresentam sintomas bulbares (p. ex., voz alterada, regurgitação nasal, asfixia, disfagia). Sensibilidade e reflexos tendinosos profundos são normais. A intensidade das manifestações oscila de minutos a horas ou dias.
A crise miastênica, uma quadriparesia grave e generalizada ou fraqueza da musculatura respiratória potencialmente fatal, ocorre em cerca de 15 a 20% dos pacientes pelo menos uma vez na vida. Em geral, decorre de infecção intercorrente que reativa o sistema imune. Depois de iniciada a insuficiência respiratória, pode ocorrer rapidamente insuficiência respiratória.
Crise colinérgica é fraqueza muscular que pode resultar quando a dose de drogas anticolinesterase (p. ex., neostigmina, piridostigmina) é excessivamente elevada. Pode ser difícil diferenciar uma crise leve de miastenia que se agrava. Crise colinérgica grave geralmente pode ser diferenciada porque, ao contrário de miastenia gravis, resulta em aumento de lacrimação e salivação, taquicardia e diarreia.
Diagnóstico
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Testes à beira do leito
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Concentrações de anticorpos AChR, EMG ou ambos
O diagnóstico da miastenia gravis é sugerido por sinais e sintomas e confirmado por testes.
Exames à beira do leito
O teste anticolinesterásico tradicional, feito à beira do leito e usando edrofônio de drogas de curta duração (< 5 min), é positivo na maioria dos pacientes que têm miastenia com a fraqueza evidente. Mas esse teste só deve ser feito em pacientes com ptose ou oftalmoparesia óbvia; esses déficits devem estar presentes para que seja possível ver claramente melhoras na força normal e, assim, fornecer evidências objetivas inequívocas de um resultado positivo do teste. Para o teste, os pacientes são solicitados a exercitar o músculo afetado até que ocorra fadiga (p. ex., manter os olhos abertos até ocorrer ptose); então, edrofônio, 2 mg, IV, é administrado. Se não houver reações adversas (p. ex., bradicardia, bloqueio atrioventricular) após 30 segundos, mais 8 mg são adminstrados. Recuperação rápida (< 2 min) da função muscular é um resultado positivo. Entretanto, esse teste não é ideal por seguintes razões:
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Um resultado positivo não é definitivo para a miastenia grave porque essa melhoria pode ocorrer em outras doenças neuromusculares.
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Os resultados podem ser ambíguos, particularmente se o teste é feito em pacientes sem ptose ou oftalmoparesia óbvia.
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Durante o teste, a fraqueza devido à crise colinérgica pode piorar; assim, equipamentos de reanimação e atropina (como um antídoto) devem estar disponíveis durante o teste.
Como a fraqueza devido à miastenia diminui em temperaturas mais baixas, os pacientes com ptose pode ser examinados utilizando o teste da bolsa de gelo. Para esse teste, uma bolsa de gelo é aplicada aos olhos fechados do paciente durante 2 min, então é removida. Um resultado positivo significa desaparecimento total ou parcial da ptose. O teste de bolsa de gelo normalmente não funciona se os pacientes têm oftalmoparesia.
Pacientes com oftalmoparesia podem ser testados utilizando o teste em repouso. Para esse teste, os pacientes são solicitados a deitar calmamente em um ambiente escuro por 5 minutos com os olhos fechados. Se a oftalmoparesia desaparecer após esse repouso, o resultado é positivo.
Teste de anticorpo e eletromiografia
Mesmo que o teste a beira do leito seja inequivocamente positivo, um ou ambos dos seguintes são necessários para confirmar o diagnóstico:
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Níveis de anticorpos séricos para AChR
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Eletromiografia (EMG)
Os anticorpos AChR estão presentes em 80 a 90% dos pacientes com miastenia generalizada, mas em apenas 50% dos pacientes com a forma ocular. As concentrações de anticorpos não se correlacionam com a gravidade da doença. Até 50% dos pacientes sem anticorpos para AChR têm teste de anticorpos anti-MuSK positivo.
EMG utilizando estímulos repetitivos (2 a 3 segundos) mostra uma redução de > 10% na amplitude de resposta do potencial de ação muscular composto em 60% dos pacientes. A EMG de fibra única pode detectar transmissão neuromuscular anormal em > 95%.
Exames adicionais
Depois de a miastenia ser diagnóstica, deve-se realizar TC ou RM do tórax para verificar a presença de hiperplasia e timoma.
Outros exames devem ser feitos para rastrear doenças autoimunes geralmente associadas à miastenia gravis (p. ex., anemia perniciosa, hipertireoidismo autoimune, artrite reumatoide, LES).
Os pacientes com crise miastênica necessitam de avaliação para detecção do desencadeante infeccioso. Provas de função pulmonar à beira do leito (p. ex., capacidade vital forçada) ajudam a detectar falência respiratória iminente.
Tratamento
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Drogas anticolinesterásicas para aliviar os sintomas
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Corticoides, tratamentos imunomoduladores (p. ex., IGIV, plasmaférese), drogas imunossupressoras e timectomia para diminuir a reação autoimune
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Cuidados de suporte
Em pacientes com miastenia congênita, drogas anticolinesterásicas e tratamentos imunomodulatórios não são benéficos e devem ser evitados. Pacientes com insuficiência respiratória exigem entubação e ventilação mecânica.
Tratamento sintomático
Drogas anticolinesterásicas são a base do tratamento sintomático, mas não alteram a evolução da doença de base. Além disso, raramente aliviam todos os sintomas e a miastenia pode se tornar refratária a essas drogas.
Piridostigmina é iniciada na dose de 60 mg, VO, a cada 3 ou 4 h, e titulada até a dose máxima de 120 mg/dose com base nos sintomas. Quando é necessário tratamento parenteral (p. ex., em decorrência de disfagia), pode-se usar neostigmina (1 mg = 60 mg de piridostigmina) em substituição. Drogas anticolinesterásicas podem causar cãibras abdominais e diarreia, que são tratadas com atropina oral, 0,4 a 0,6 mg (administrada com piridostigmina ou neostigmina), ou propantelina, 15 mg, 3 a 4 vezes/dia.
Os pacientes que responderam bem ao tratamento e então se deterioram exigem suporte respiratório porque eles podem ter crise colinérgica e os anticolinesterásicos devem ser interrompidos por vários dias.
Tratamento imunomodulador
Os imunossupressores interrompem a reação autoimune e tornam lenta a evolução da doença, mas não causam alívio rápido da sintomatologia. Depois de ser administrada IGIV, 400 mg/kg, 1 vez/dia, por 5 dias, 70% dos pacientes melhoram em 1 a 2 semanas. Os efeitos podem durar 1 a 2 meses. Troca de plasma (p. ex., 5 trocas de 3 a 5 L de plasma durante 7 a 14 dias) pode ter efeito semelhante.
Os corticoides são necessários como tratamento de manutenção em vários pacientes, mas apresentam pouco efeito imediato na crise miastênica. Mais da metade dos pacientes piora agudamente após o início de altas doses de corticoides. Inicialmente, administra-se prednisona 10 mg, VO 1 vez/dia; a dose é aumentada para 10 mg por semana até 60 mg, que é administrada durante cerca de 2 meses e então reduzida lentamente. A melhora pode demorar vários meses; depois, deve-se reduzir a dose ao mínimo necessário para controle dos sintomas.
Azatioprina, 2,5 a 3,5 mg/kg VO, 1 vez/dia, pode ser tão eficaz quanto os corticoides, embora os benefícios significativos possam não ocorrer por vários meses. Ciclosporina, 2 a 2,5 mg/kg VO, 2 vezes/dia, pode permitir a redução dos corticoides. Essas drogas tornam necessárias as precauções habituais.
Outras drogas que podem ser benéficas são metotrexato, ciclofosfamida e micofenolato de mofetila. Para pacientes com doença refratária, os anticorpos monoclonais (p. ex., rituximabe, eculizumabe) podem ser benéficos, mas são caros.
A timectomia pode ser indicada para pacientes com miastenia generalizada com < 80 anos de idade; deve ser realizada em todos os pacientes com timoma. Subsequentemente, ocorre remissão em 80%, ou a droga de manutenção pode ter sua dosagem reduzida.
Troca de plasma ou IGIV pode ser útil para crise miastênica e, em pacientes não responsivos a drogas, antes da timectomia.
Pontos-chave
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Considerar miastenia grave em pacientes com ptose, diplopia e fraqueza muscular depois da utilização do músculo afetado.
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Para confirmar o diagnóstico, medir os níveis séricos de anticorpos AChR (geralmente presentes na miastenia grave), fazer eletromiografia (EMG), ou ambos.
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Depois de o diagnóstico ser confirmado, testar para hiperplasia tímica, timoma, hipertireoidismo e doenças autoimunes, que geralmente acompanham miastenia grave.
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Para a maioria dos pacientes, usar anticolinesterásicos para aliviar os sintomas e tratamento imunomodulador para retardar a progressão da doença e ajudar a aliviar os sintomas; não usar esses tratamentos em pacientes com miastenia congênita.
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Se os pacientes de repente se deterioram após responderem bem ao tratamento, fornecer suporte respiratório e interromper os anticolinesterásicos por vários dias.
Texto retirado de:
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/dist%C3%BArbios-do-sistema-nervoso-perif%C3%A9rico-e-da-unidade-motora/miastenia-gravis