Longa ‘Eu sinto muito’, de Cristiano Vieira, expõe sintomas da doença. Considerada uma das mais comuns entre transtornos de personalidade, Borderline é difícil de ser identificada.
Você já ouviu falar no Transtorno de Personalidade Borderline? Caracterizado por intensa instabilidade emocional, ele está entre as cerca de 100 doenças mentais classificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e entre os transtornos de personalidade mais comuns no mundo.
No entanto, o diagnóstico é impreciso e tornam a identificação e o tratamento difíceis de alcançar, dizem médicos e pesquisadores (veja detalhes ao final da reportagem).
Em referência ao Dia Mundial da Saúde Mental, comemorado nesta quinta-feira (10), o filme brasiliense “Eu sinto muito” tenta aproximar a população dos sintomas considerados mais comuns.
A estreia do longa-metragem de Cristiano Vieira e Antônio Balbino estava prevista para quinta, mas foi adiada para esta sexta (11). O filme será exibido em Brasília e em outras 19 cidades, e ficará em cartaz por duas semanas.
Na trama, o cineasta Júlio – interpretado por Rocco Pitanga – tenta gravar um documentário sobre o transtorno e acaba por enfrentar marés conturbadas nas tratativas com os entrevistados. Quando ele não está por perto, as câmeras evidenciam as complexidades de quem vive com Borderline.
A história é uma versão ficcional do que poderia ter sido o próprio filme, segundo Vieira. “O Balbino chegou com essa ideia de tema e propôs um documentário, mas os potenciais personagens mudavam muito de humor e preferimos não arriscar, com medo de perder o controle”, explicou o diretor ao G1.
Assim, eles partiram de pesquisas e experiências pessoais para elaborar um roteiro que fosse o mais fiel possível à realidade. “Eu mesmo tive um relacionamento com uma pessoa ‘border’, mas ela não era diagnosticada”, disse Vieira.
“O interessante é que, no processo de gravação, os próprios atores se descobriram ou percebiam que se relacionavam com pessoas assim.”
Diagnóstico difícil
Segundo o médico e professor da Universidade de Brasília (UnB) Raphael Boechat Barros, “nada é preciso” no diagnóstico da doença e, em grande parte dos casos, as pessoas que têm o transtorno “passam a vida acreditando que os sintomas são apenas traços de personalidade”.
“Em geral, os sintomas são bem difíceis de detectar, porque estão atrelados à personalidade da pessoa. Então, ela não encara como transtorno.”
O professor disse ao G1 que, normalmente, as pessoas procuram ajuda quando já tomaram uma série de decisões erradas ou se percebem em situações drásticas, como o fim de um casamento, por exemplo.
De acordo com Barros, as principais características do Transtorno de Personalidade Borderline são:
- Mudança repentina de humor
- Reações exageradas e impulsivas
- Pouca preocupação com as consequências dos atos
- Alta irritabilidade diante de respostas negativas
- Idealização extrema
- Agressividade (às vezes)
Da vida para a tela
São comportamentos como os descritos pelo médico e professor da UnB, Raphael Boechat Barros, que o filme “Eu sinto muito” expõe nas grandes telas. Ao adentrar a vida dos entrevistados para o documentário, o cineasta Júlio busca entender os processos de cada um.
“Fica claro, desde o começo do filme que estamos falando de pessoas que têm alguma anomalia na psique. Com a reflexão do próprio documentarista e o processo dele, você começa a entender os caminhos dos personagens”, explica Cristiano Vieira.
“Lidar com essas pessoas sabendo da síndrome é muito mais fácil. E é isso o que queremos com o filme, levantar essa reflexão a partir de um recorte simplista.”
Do ponto de vista médico, embora a Personalidade Borderline seja de difícil detecção, ela é significativamente distinta do Transtorno Afetivo Bipolar.
“A pessoa bipolar tem, necessariamente, períodos bem definidos de euforia e de depressão. O borderline nunca vai estar com sintomas de depressão, a não ser que ele tenha as duas doenças, mas isso é raro”, explica o professor Raphael Boechat Barros.
Transtornos mentais
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), fatores como genética, estresse, nutrição, infecções perinatais e exposição a perigos ambientais podem contribuir para o surgimento de transtornos mentais.
Ainda de acordo com a OMS, metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada.
Em países de baixa e média renda, entre 76% e 85% das pessoas com estes tipos de transtornos não recebem tratamento. Em países de alta renda, o percentual varia de 35% a 50%.
Onde buscar atendimento
No Distrito Federal, foram realizados 52.538 atendimentos psicossociais de emergência entre janeiro e julho deste ano. A rede pública de saúde da capital dispõe das seguintes frentes de recepção e tratamento de pessoas com transtornos mentais:
- Atenção básica em saúde: Unidades Básicas de Saúde, Consultórios na Rua, NASF-AB e Centros de Convivência e Cultura
- Atenção psicossocial: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
- Atenção de Urgência e Emergência: SAMU 192, Sala de Estabilização, UPA 24 horas, Portas hospitalares de atenção à urgência/pronto socorro em Hospital Geral
- Atenção Hospitalar: Leitos de psiquiatria em hospital geral, Serviço Hospitalar de Referência para Atenção às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas (Leitos de Saúde Mental em Hospital Geral)
‘Eu sinto muito’
O longa “Eu sinto muito” foi produzido e dirigido por Cristiano Vieira, e roteirizado por ele, Antônio Balbino e Tui Segall. Fazem parte do elenco os atores Rocco Pitanga, Juliana Schalch, Carolina Monte Rosa, Wellington Abreu e Marcelo Peluccio.
Agora, Vieira está em processo de gravação do próximo longa, “Cisterna”. O filme aborda o sensacionalismo, as fake news e os impactos dessa relação entre a mídia e a população.
TEXTO RETIRADO DO SITE: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/10/10/filme-brasiliense-sobre-transtorno-borderline-estreia-em-20-cidades-no-dia-mundial-da-saude-mental.ghtml