Pergunta : Elvis ( Faculdade de Medicina da UFMG )
Olá!
Tenho acompanhado com bastante entusiasmo os avanços na neurociência, que aceleraram muito nos últimos anos. Sinto-me atraído especialmente pela cada vez maior compreensão da parte cognitiva ou pelo processamento dos estímulos sensórios. Gosto da perspectiva de, em futuro próximo, tais conhecimentos resultem não só em tratamentos mais efetivos para doenças mentais, mas também em tecnologias para pessoas saudáveis, como o uso de equipamentos de interface cérebro-máquina no dia a dia.
Diante dessa nova fase da neurociência, me pergunto se qual especialidade tende a se beneficiar mais desses conhecimentos: a neurologia ou a psiquiatria? Em qual especialidade alguém com esse meu perfil de interesse se adequaria melhor? Com esses avanços, a neurologia tende a tomar para si parte do campo da psiquiatria, com a possível identificação precisa de áreas cerebrais relacionadas a muitas doenças mentais?
Resposta:
Neurociência é a área que se ocupa em estudar o sistema nervoso, visando desvendar seu funcionamento, estrutura, desenvolvimento e eventuais alterações que sofra. Portanto, o objeto de estudo dessa ciência é complexo, sendo constituído por três elementos: o cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos. Ele é responsável por coordenar todas as atividades do nosso corpo, e é de extrema importância para o seu funcionamento como um todo, tanto nas atividades voluntárias, quanto nas involuntárias.
Os estudos da neurociência estão divididos em campos específicos que exploram as áreas do sistema nervoso. São elas:
- Neurofisiologia: investiga as tarefas que cabem às diversas áreas do sistema nervoso.
- Neuroanatomia: dedica-se a compreender a estrutura do sistema nervoso, dividindo cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos externos em partes para nomeá-las e compreender as suas funções.
- Neuropsicologia: foca na interação entre os trabalhos dos nervos e as funções psíquicas.
- Neurociência comportamental: ligada à psicologia comportamental, é a área que estuda o contato do organismo e os seus fatores internos, como pensamentos e emoções, ao meio e aos comportamentos visíveis, como fala, gestos e outros.
- Neurociência cognitiva: estudo voltado à capacidade cognitiva, em que estão inclusos comportamentos ainda mais complexos, como memória e aprendizado.
Os avanços da neurociência irão afetar praticamente todas as especialidades. O conhecimento do perfil genético dos indivíduos permitirão novos tratamentos, novas vacinas, medicamentos personalizados…
Além disso avaliações de imagens cerebrais correlacionadas a comportamentos ou mesmo a patologias já vem sido muito estudadas e são promissoras.
Alguns avanços da medicina serão compartilhados por mais de uma especialidade; assim a neurologia e a psiquiatria serão ambas beneficiadas com os avanços da neurociência.
Doenças neurológicas associadas a determinadas áreas cerebrais e também associadas ao perfil genético do individuo, talvez possam ser diagnosticadas e tratadas com terapias genéticas ou com medicamentos personalizados.
A neurociência talvez explique de maneira mais clara o comportamento psiquiátrico em várias patologias e entendendo melhor essa relação causa e efeito talvez se possa aprimorar o tratamento dos distúrbios psiquiátricos.
Respondendo à sua pergunta mais diretamente, acredito que a psiquiatria vai se beneficiar mais da neurociência.
Não acho que a neurologia, através dos avanços da neurociência, vá tomar parte do campo da psiquiatria, apenas a psiquiatria vai dispor de mais ferramentas para tratamento dos seus pacientes.
Sucesso
Mário Novais