É muito comum na prática clínica descrevermos se o paciente está febril ou afebril ao toque ao exame físico. No entanto, é válido questionar a precisão deste método, já que obviamente trata-se de uma maneira grosseira de detectar alterações da temperatura corporal. Afinal, o que há de evidência neste assunto?
Um estudo publicado no British Medical Journal publicado em 1998 avaliou esta questão. A percepção de febre ao toque, segundo a percepção de mães e alunos de medicina, foi comparada com a temperatura axilar aferida por um termômetro de mercúrio. Embora a temperatura corporal seja mais precisamente mensurada no reto, e não na axila, é válido considerar esta comparação, já que a temperatura axilar é o método usado na prática brasileira, ao contrário da temperatura retal, que é tipicamente aferida em países anglo-saxões.
O estudo revelou que, pelo toque, a sensibilidade e a especificidade foram 94% e e 44%, respectivamente, para o grupo das mães. Isto significa que o valor preditivo positivo (VPP) foi de 39%, enquanto o valor preditivo negativo (VPN) foi de 95%.
Já o grupo de estudantes apresentou números semelhantes, exceto pela especificidade, que foi um pouco mais elevada. O VPP e o VPN foram de 49% e 97%, respectivamente.
Em outras palavras, com o toque podemos afirmar com segurança na grande maioria dos casos de que o paciente não tem febre, mas caso a nossa impressão seja de que o paciente está febril, a conduta mais racional é mensurar a temperatura corporal, de preferência com um termômetro de mercúrio, pois os termômetros digitais não são tão precisos.
Fonte: Whybrew K, Murray M, Morley C. Diagnosing Fever by Touch: Observational Study. BMJ: British Medical Journal. 1998;317:321-321.
Relacionados
Março 22, 2023