Pergunta : Edcleverton Dantas ( Universidade Federal de Sergipe)
Caro Dr. Mário, tenho 38 anos, sou dentista esp. em cirurgia bucomaxilofacial e resolvi cursar medicina. Hj estou no 7p. do curso e tenho dúvidas de que especialidade. Gosto de cirurgia mas a esp. em cabeça e pescoço exige cir. geral antes e eu não gosto de abrir abdome. Pensei em otorrino e expandir para cervicofacial ( fissuras, gland salivares, plastica facial, tireoide) mas aqui no estado os colegas orl e ccp recriminam e acho q ficaria mal visto. Entre as minhas aptidoes, destaco: habilidade manual, objetividade e fluencia verbal. Gosto de radiologia e procedimentos e acho a clinica geral maçante! Fiz o teste duas vezes. Na primeira deu orl, dermato e rádio. Na segunda, rádio, orl e uro. O que busco? Uma vida tranqüila, com cirurgias menos estressantes e inserção rápida no mercado. Ajude-me!
Resposta :
A escolha da especialidade deve ser a mais racional possível, sendo de grande importância, já que implica em cerca de 30 a 40 anos de atividade profissional.
Devemos, acima de tudo, levar em consideração 3 aspectos :
- A qualidade de vida que a especialidade proporciona.
- A remuneração que esta especialidade permite.
- O prazer e conforto de lidar com o tipo de paciente dessa especialidade.
Numa fase inicial, a escolha precisa apenas recair em :
1.Uma especialidade cirúrgica – aí vai ter que passar primeiro na cirurgia geral.
2.Uma especialidade clínica – aí vai precisar, primeiramente, passar pela residência de clínica médica.
3.Uma especialidade de acesso direto- aí precisa conhecer bem essas possibilidades, ou seja quais são as características de : otorrino, oftalmo, ortopedia, radiologia, dermatologia, pediatria, neurocirurgia…
A otorrino continua sendo uma das melhores especialidades.
Apesar dos procedimentos cirúrgicos serem mal remunerados pelos convênios (exceção feita às cirurgias de ouvido interno), é grande a relação de possíveis procedimentos diagnósticos ou terapêuticos na otorrino, o que pode agregar bastante valor ao preço das consultas.
A área de atuação da otorrino abrange cerca de 20 procedimentos diagnósticos e mais de 60 procedimentos cirúrgicos (ver tabela AMB).
É importante para qualquer especialista o encaminhamento feito por outros colegas, mas uma grande parte da clientela do otorrino vem diretamente em função do boca-a-boca de um cliente para outro.
O envelhecimento da população facilita consideravelmente a incidência de deficiências auditivas (o Brasil tem cerca de 4 milhões de deficientes auditivos). Mais de 60 % da população apresenta desvio de septo nasal. É muito grande a frequência de rinites alérgicas. Consequentemente esses fatos permitem um aumento rápido da clientela do otorrino
Além disso, a qualidade de vida desse profissional é boa porque a maior parte das cirurgias é eletiva.
De um modo geral, a especialidade cirurgia de cabeça e e pescoço está ligada aos departamentos de otorrinolaringologia.
A residência médica nessa área tem a duração de 2 anos com pré requisito de 2 anos de cirurgia geral.
A cirurgia de cabeça e pescoço é uma especialidade ímpar que exige dos cirurgiões que a praticam, sólidos conhecimentos em cirurgia geral, plástica reparadora, cirurgia oncológica e ortopédica. Além disso, o fato do câncer do trato aero-digestório superior representar um percentual significativo das doenças da cabeça e pescoço exige, do especialista nesta área, conhecimentos em oncologia clínica e radioterapia. O intercâmbio com os diferentes especialistas da área médica (em especial, neurocirurgia, otorrinolaringologia, cirurgia plástica, cirurgia do aparelho digestório, bucomaxilofacial, anestesiologia e terapia intensiva) é fundamental para a consecução de bons resultados. Também é de fundamental importância à inter-relação com outros profissionais, em especial a enfermagem, fonoaudiologia, psicologia, nutrição, fisioterapia, odontologia e prótese bucomaxilofacial.
Os programas de residência nessa especialidade consitem de participação nos ambulatórios específicos, onde além de aprenderem noções básicas sobre o exame otorrinolaringológico completo, principais afecções de cabeça e pescoço, propedêutica, diagnósticos, diagnósticos diferenciais e tratamentos propostos, discutem casos com os preceptores do dia, fazem procedimentos como biópsia, punção, drenagem de abscessos, troca de cânulas de traqueostomia, além de exames complementares como nasofibrolaringoscopia e laringoscopia direta.
Mais frequentemente nessa especialidade vc vai lidar com:
Oncologia cirúrgica de Cabeça e Pescoço. Tratamento de tumores benignos e malignos da glândula tireóide e das glândulas salivares. Sialoendoscopia. Tratamento de tumores congênitos de Cabeça e Pescoço. Tratamento de tumores de pele. Tratamento dos tumores de base de crânio. Cirurgia robótica de tumores de orofaringe
O Mercado é carente de bons profissionais, que precisam ter uma boa habilidade manual e como alguma cirurgias de cabeça e pescoço são também realizadas por neurocirurgiões, cirurgiões bucp-maxilo e otorrinos, o profissional dessa área leva um tempo maior para se estabelecer na especialidade.
O questionamento entre fazer cirurgia plástica ou otorrino já deve “ser passado para você. A escolha pela otorrino sempre é uma boa escolha porque é uma das melhores especialidades. Tecnicamente, com uma boa residência, vc estará habilitado a realizar as cirurgias básicas de otorrino e também essas citadas por vc, desde que faça uma especialização posterior em cirurgia facial.
Reproduzindo matéria da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial:
“A formação em Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial é uma possibilidade do médico ORL se diferenciar no competitivo mercado de trabalho atual e ampliar significantemente suas atuações como cirurgião. Atualmente, é a única área dentro da ORL que possibilita ter um título de especialista reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina e Associação Médica Brasileira.
Com a resolução de 2002 do Conselho Federal de Medicina, oficializou-se que no Brasil a Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial é uma área de atuação de três especialidades médicas: Otorrinolaringologia, Cirurgia Plástica e Cirurgia de Cabeça e Pescoço.
Antes de qualquer coisa, é importante lembrar que atuar em Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial é atuar em Otorrinolaringologia. “Não se trata de uma área diferente do resto da ORL, é como trabalhar em Otologia, Rinologia ou Cirurgia de Cabeça e Pescoço”, explica o Dr. Anderson Castelo Branco, coordenador da Comissão de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial da ABORL-CCF. Ele diz que nem todos os centros de formação em Otorrinolaringologia são capazes de oferecer uma adequada formação básica durante o período de residência médica. “Felizmente, dispomos de diversos centros de formação em Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial em todo o Brasil, e o melhor, a meu ver, é que o Otorrinolaringologista pode optar por fazer sua capacitação em um centro de Otorrinolaringologia ou de Cirurgia Plástica ou de Cirurgia de Cabeça e Pescoço”, diz Branco. No site da Associação Brasileira de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial (www.abccmf.org.br) estão disponibilizados os atuais Centros de Treinamento oficiais.”
O outro aspecto a considerar (e essa deve ser sua maior dúvida) é como o mercado aceita um especialista em ORL realizar cirurgias faciais.
Ainda vai levar um tempo para o mercado absorver essa área de atuação relativamente nova e a pressão dos cirurgiões plásticos já é, e continuará grande contra isso.
A rinoplastia (reparadora ou estética) já é bem aceita pelo mercado quando feita por ORL. Otoplastia estética ( orelhas de abano), ritidoplastia, blefaroplastia e frontoplastia ainda são mais consideradas como pertencentes à área do cirurgião plástico.
Mas, da mesma maneira que já existem vários oftalmologistas realizando blefaroplastias, acreditamos que o mercado vai aceitar que os ORL também realizem esses procedimentos cirúrgicos. Essa aceitação vai depender muito do marketing que a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cranio-Facial desenvolver para divulgar isso junto à população.
Alguns procedimentos em Medicina já deixaram de pertencer a somente uma área especifica, como, por exemplo, a colonoscopia que pode ser feita por um gastro ou por um procto. Ou a colocação de stent para acidente vascular encefálico que pode ser feito por um neurologista, por um neurocirurgião ou por um radiologista intervencionista.
Se você realmente gosta dessa área, procure se especializar nela e vá desbravando o mercado. Existe espaço para isso.
Concluindo : no seu caso específico a opção pela otorrinolaringologia parece ser a melhor escolha
Sucesso
Mário Novais