Nesta oficina iremos abordar alguns novos casos, aproveitando para relembrar alguns conceitos de patologias específicas e, especialmente, a forma de preencher uma prescrição adequada. Apesar de serem casos pediátricos, os conceitos aqui abordados estão presentes na prática de qualquer especialidade! Então, mãos à obra!
Pediatria: Oficina de Prescrições 2
Nesta oficina iremos abordar alguns novos casos, aproveitando para relembrar alguns conceitos de patologias específicas e, especialmente, a forma de preencher uma prescrição adequada. Apesar de serem casos pediátricos, os conceitos aqui abordados estão presentes na prática de qualquer especialidade! Então, mãos à obra!
Caso 1
Mãe chega com filhinho de 3 anos, José Gabriel da Silva, relatando que o menino estava choroso, irritadiço e queixando-se de dor ao engolir, tendo constatado febre de 38⁰C na noite passada. Nega o uso de medicações e a presença de alergias medicamentosas. Ao examiná-lo, você nota amígdalas hiperemiadas e levemente edemaciadas, sem a presença de placas.
Esse quadro, tão comum na nossa prática, aponta em direção à uma infecção de vias aéreas superiores (IVAS), mais especificamente um faringoamidgalite viral. Vale lembrar que o diagnóstico de IVAS é clínico! Não se justifica o pedido de culturas de orofaringe ou de hemogramas para se diferenciar entre as etiologias viral ou bacteriana, ao menos inicialmente… Alguns achados podem sugerir uma doença bacteriana, como a presença de halitose, linfonodomegalias, petéquias no palato, febre alta, presença de placas, dentro outros. Mas vale ressaltar que a etiologia viral é muito mais frequente! Desse modo, nossa prescrição basear-se-á apenas no uso de analgésicos e antitérmicos. Confira:
José Gabriel da Silva
Uso Interno: 1) Dipirona gotas ——————— 1 frasco
OBS: retornar a esta unidade se piora dos sintomas ou não melhora em 48 horas.
|
Uma dica prática ao se utilizar a dipirona em crianças é subtrair 2 do peso da criança, sendo o valor obtido o número de gotas que serão administradas. Na realidade, a dose preconizada em pediatria é de 10 a 25 mg/kg. Na apresentação usual (500 mg/ml), 1 gota equivale a aproximadamente 25 mg. Ou seja, podemos realizar entre 1/2 e 1 gota por kg.
Lembrem-se: não há indicação formal para o uso de AINES nesses casos, apesar de ser uma prática bem comum nos postos de atendimento… Essa classe de medicamentos possui significativa nefrotoxidade, além de agredir a mucosa gástrica, devendo, por isso, ser administrada com cautela.
Mais um ponto importante: mesmo que nossa principal hipótese seja a infecção viral de vias aéreas, o quadro pode sim significar uma infecção bacteriana em estágio inicial. Além disso, infecções virais podem resultar em quadros bacterianos secundários. Desse modo, sempre oriente as mães a retornarem ao serviço no caso de agravo clínico ou não melhora da sintomatologia, de preferência, deixando essa informação por escrito na receita médica!
Apêndice: Diferenciação entre infecção viral e bacteriana – A ocorrência de surtos epidêmicos é sugestiva de quadros virais. – O padrão da curva térmica: (1) vírus: febre alta que dura de 24 a 72 horas ou picos febris intercalados com períodos afebris; (2) bactérias: febre costuma ser alta e contínua e algum grau de prostação é observado; febre que reaparece após alguns dias de evolução de uma infecção respiratória é sugestiva de complicação bacteriana.
– O exsudato amigdaliano como dado isolado tem pouco valor no diagnóstico. |
Caso 2
A próxima criança que atendemos (Samantha Kelly, 5 anos) chega com um quadro bem semelhante ao anterior, mas apresentando febre alta e amígdalas hiperemiadas e com diversas placas de purulentas; presença de petéquias na úvula. Mãe nega presença de irritação das conjuntivas ou diarreia. Dessa vez, podemos suspeitar com maior força de uma amigdalite estreptocócica.
Vamos relembrar o tratamento de escolha desta infecção:
Samantha Kelly 5 anos, 25 kg, 110 cm
Uso Interno:
1) Penicilina Benzatina 1.200.000 UI ——- 1 frasco Diluente ———————- 3 mL
Aplicar 01 frasco IM profundo.
|
A dose da Penicilina Benzatina que utilizamos depende do peso, sendo 600.000 UI, se menor de 25 kg, ou 1.200.000, se maior ou igual.
Nesse caso, o principal diagnóstico diferencial se faz com a mononucleose infecciosa causada pelo vírus Epstein-Barr. São dados que podem nos ajudar, falando a favor da etiologia viral: linfonodomegalia de grande monta e generalizada, hepatoesplenomegalia, exantema (especialmente se uso prévio de penicilina).
Caso 3
Neste mesmo dia, mais uma criança com quadro de febrícula, dor de garganta e amígdalas hiperemiadas. Durante oroscopia, notamos a presença de pequenas úlceras no palato e na mucosa oral.
Após realizar um exame físico completo, nos deparamos com úlceras rasas também nas mãos e pés de nosso paciente.
Bem, nesse caso, devemos nos lembrar imediatamente da herpangina (também conhecida como síndrome mão-pé-boca), quadro de IVAS causado por etiologia viral (coxsackie A e B), devendo, portanto, possuir tratamento apenas de suporte.
Guilhermylson Santos
Uso Interno: 1) Dipirona gotas ——————— 1 frasco Dar 15 gotas de 6/6 horas em caso de dor ou febre.
|
E não se esqueçam de utilizar palavras condicionais (em caso de, se) nas medicações sintomáticas! Uma boa semana a todos!
Igor Torturella