No módulo de hoje aprenderemos sobre o eixo elétrico do coração, além de iniciarmos nossos laudos!
Para iniciarmos nosso módulo atual, gostaria de recordar alguns conceitos já discutidos:
(1) As derivações do plano frontal, quando sobrepostas, ocupam um grande círculo, sendo que cada uma possui uma direção específica, em graus;
(2) Note que as divisões formadas pelas derivações são separadas entre si por ângulos de 30⁰;
(3) Cada derivação enxerga o coração de determinado “ponto de vista”, de forma que uma parte do coração poderá ser melhor interpretada em uma derivação do que em outra.
Observe a figura abaixo:
Podemos perceber que as derivações DII, DIII e aVF “apontam” para a parte inferior do coração; na realidade, essas são conhecidas como derivações inferiores, uma vez que veem mais eficazmente a parede inferior do coração.
Neste mesmo raciocínio, apresentarei agora a parede lateral alta do coração, melhor visualizada por DI e aVL.
Memorize! Parede Inferior: DII, DIII e aVF. Parede Lateral Alta: DI e aVL. |
Agora inicio nosso primeiro passo durante a interpretação de um ECG: observe se o ritmo é sinusal. Muito simples: a presença de onda P positiva nas derivações inferiores (DII, DIII e aVF) confirma que o ritmo cardíaco é sinusal, ou seja, gerado pelo nodo SA.
* A explicação para isso é muito fácil de compreender: imaginemos um impulso elétrico se originando do nodo SA, indo em direção aos ventrículos. Como se trata de uma grandeza vetorial, será um vetor orientado para baixo e para a esquerda. Por ser um vetor no mesmo sentido das derivações em questão, este mostrar-se-á como uma onda positiva no papel de ECG.
Por enquanto, isso será suficiente; mais adiante em nosso curso abordaremos os diferentes tipos de arritmias. Bem, continuando: nosso segundo passo será a determinação da frequência cardíaca. Para isso, basta contar o número de quadrados grandes entre dois complexos QRS consecutivos e, no final, dividir 300 pelo número obtido.
Lembre-se que uma FC acima de 100 bpm é uma taquicardia, enquanto uma FC abaixo de 60 bpm é uma bradicardia.
Nossa próximo passo deverá ser identificar e localizar o chamado Eixo Elétrico do coração. Eis o conceito de Eixo Elétrico: se somarmos todos os vetores da despolarização ventricular, teremos um grande “Vetor Médio do QRS”, que representa a direção geral da despolarização ventricular.
* A origem do vetor médio é sempre o Nódulo AV;
* Normalmente aponta para baixo e para a esquerda (entre 0 e + 90⁰);
* O eixo do coração é o Vetor Médio quando determinado em graus no plano frontal.
Alguns casos especiais: * Em pessoas obesas, o diafragma é empurrado para cima, podendo determinar desvio para a esquerda. * Um ventrículo hipertrofiado tem maior atividade elétrica, deslocando o vetor. * Em uma área de infarto não existe atividade elétrica, de modo que o vetor tende a apontar em direção contrária. |
Uma forma simples de localizar o eixo elétrico é através da observação das derivações DI e aVF (se intercedem em um ângulo reto e dividem o espaço em quatro quadrantes).
Se o QRS for positivo em DI e também positivo em aVF, o vetor da ativação ventricular apontará para baixo e para o lado esquerdo do paciente (variação normal).
Alguns autores ainda consideram uma variação de -30⁰ como normal; neste caso, o QRS seria positivo em DI, negativo em aVF, mas positivo em DII. Utilizamos a derivação DII porque é perpendicular a -30⁰, de forma que um QRS positivo estará para o lado positivo do eixo e, portanto, na faixa de variação normal.
* Com relação ao sinal (+ ou -) da angulação, é simplesmente uma questão de nomenclatura: ângulos “para cima” de DI são negativos, enquanto ângulos “para baixo” são positivos.
Entretanto, quando formos escrever um laudo, é muito importante determinar com maior precisão a orientação do eixo elétrico, utilizando valores em graus. Inicialmente, observe a derivação (lembre-se: sempre no plano frontal!) onde o QRS é “mais isodifásico”, isto é, com projeção positiva e negativa de amplitudes semelhantes (o Vetor será perpendicular a esta derivação); em seguida, procure a derivação em que o QRS “é mais positivo” (o Vetor estará apontando nesta direção, estando mais próximo desde eixo). Observe o exemplo abaixo:
Vamos revisar tudo o que já aprendemos, ok?
1⁰ passo: O ritmo é sinusal?
Sim, uma vez que a onda P é positiva nas derivações inferiores (DII, DIII e aVF).
2⁰ passo: Qual a frequência cardíaca?
90 bpm, uma vez que existem um pouco mais de 3 quadrados grandes entre 2 QRS consecutivos (atenção: podemos sempre aproximar o valor da FC, mas sempre escreva em seu laudo o valor sem expressões como “mais ou menos” ou “aproximadamente”).
3⁰ passo: Qual a direção do eixo elétrico?
Eixo em sua variação normal, já que o QRS é positivo em DI e em aVF. Com maior exatidão, eixo a + 30⁰, uma vez que o QRS é isodifásico em DIII e “mais positivo” em DI.
E agora, nosso laudo:
Ritmo sinusal FC 90 bpm Eixo a +30⁰ ECG normal |
Exercícios
É fundamental praticarmos para que esse novo conhecimento se fixe adequadamente à memória. A seguir, apresentarei alguns traçados de ECG. Escreva um laudo para cada no modelo em que discutimos, sendo que as respostas estarão somente no próximo módulo. Não faça simplesmente de cabeça. Escreva! É uma importante ferramenta para o aprendizado. Qualquer dúvida ou sugestão, deixe seu comentário! Uma boa semana e até segunda que vem!
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