A capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente é elemento básico da atividade mental.
Aprenda a reconhecer as alterações da Orientação e suas causas mais frequentes.
Manual Básico de Psiquiatria
Psicopatologia 3: Alterações da Orientação
Orientação
A capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente é elemento básico da atividade mental. Pequenos rebaixamentos no nível da consciência são suficientes para comprometer a orientação de um paciente quanto ao tempo e ao espaço. Por isso, uma pessoa aparentemente vigil pode ter suas alterações detectadas pelo exame da sua capacidade de orientação.
A capacidade de orientar-se requer a integração das capacidades de atenção, percepção e memória. A orientação também é excepcionalmente vulnerável aos efeitos da disfunção ou do dano cerebral.
A capacidade de orientar-se é classificada em:
1) Orientação Autopsíquica
Orientação do indivíduo em relação a si mesmo.
Revela se o sujeito sabe quem é: nome, idade, data de nascimento, profissão, estado civil, etc.
2) Orientação Alopsíquica
Capacidade de orientar-se em relação ao mundo. Subdivide-se em:
a) Orientação espacial
O lugar onde o paciente se encontra: nome da instituição, andar do prédio, bairro, cidade, estado e país. Pode-se perguntar a distância do local da entrevista até a residência do paciente (em quilômetros ou horas).
b) Orientação temporal
Pode-se aferir “do mais fácil para o mais difícil”: em que ano estamos? qual o mês? que dia da semana? que dia do mês?
Também pode-se avaliar a noção que o paciente tem da duração dos eventos: a quanto tempo a senhora está internada? quando se alimentou pela última vez?
É importante lembrar que a orientação temporal é adquirida mais tardiamente que a autopsíquica e a espacial na evolução neuropsicológica. Por isso, crianças com menos de 7 anos podem ter dificuldade em responder a essas perguntas sem que isso signifique, necessariamente, uma disfunção.
Por fim, os tipos de desorientação podem ser distinguidos de acordo com a alteração de base que os condiciona:
– Desorientação por redução do nível de consciência: também chamada desorientação torporosa ou confusa. O rebaixamento do nível de consciência altera a atenção, a concentração e a capacidade de perceber e reter os estímulos ambientais. É a forma mais comum de desorientação.
– Desorientação por déficit de memória imediata e recente: também denominada desorientação amnéstica. O indivíduo não consegue reter as informações ambientais (apesar de percebê-las adequadamente).
– Desorientação demencial: é muito próxima da amnéstica. Em acréscimo à perda da memória de fixação, há agnosia (déficit de reconhecimento ambiental) e perda/desorganização global das funções cognitivas. Ocorre nos diversos quadros demenciais (Doença de Alzheimer, demências vasculares, etc.).
– Desorientação apática ou abúlica: a pessoa se torna desorientada devido a uma marcante alteração do humor e da volição, comumente em quadro depressivo.
– Desorientação delirante: ocorre em indivíduos em profundo estado delirante, crendo com convicção plena que estão “habitando” o lugar e/ou o tempo de seus delírios. Pode ocorrer dupla orientação, em que o paciente ora reconhece estar no hospital sendo assistido por enfermeiros, ora afirma que está numa penitenciária cercado de carcereiros, por exemplo.
– Desorientação por déficit intelectual: em indivíduos com deficiência ou retardo mental grave ou moderado. Há incapacidade ou dificuldade em compreender o ambiente e interpretar as convenções sociais (horários, calendários, etc.) que padronizam a orientação do indivíduo no mundo.
– Desorientação por dissociação ou histérica: normalmente acompanhada de alterações da identidade pessoal e alterações da consciência secundárias à dissociação histérica.
– Desorientação por desagregação: em pacientes psicóticos, geralmente esquizofrênicos em estado crônico e avançado. A desagregação profunda do pensamento pode impedi-los de orientar-se adequadamente quanto ao ambiente e quanto a si mesmos.
– Desorientação quanto à própria idade: definida como uma discrepância de cinco anos ou mais entre a idade real e aquela que paciente diz ter. Acredita-se ser um bom indicativo clínico de déficit cognitivo na esquizofrenia.
Na próxima parte do Manual Básico de Psiquiatria, vamos falar da capacidade de Percepção do Tempo e suas alterações. Até lá!
Adaptado de:
Dalgalarrolo, Paulo. Psicopatologia dos transtornos mentais. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Leia mais:
Manual Básico de Psiquiatria – Introdução: as Funções Psíquicas Elementares
Manual Básico de Psiquiatria. Psicopatologia – Parte 1: Alterações da Consciência
Manual Básico de Psiquiatria. Psicopatologia – Parte 2: Alterações da Atenção
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