O termo “burn-out” foi formulado pela primeira vez na década de 70 pelo psicólogo americano Herbert Freudenberger. O termo se refere às consequências do estresse crônico em profissionais que trabalham principalmente com pessoas. Importante destacar que esta síndrome não é, atualmente, um diagnóstico nosológico psiquiátrico. Sua existência, inclusive, é criticada por muitos pesquisadores, uma vez que isto pode gerar atrasos no diagnóstico e no tratamento de determinadas condições psiquiátricas (como depressão e transtornos de ansiedade) e clínicas (anemia e alterações de tireóide).
Os profissionais de saúde, por lidarem com pessoas em situação de necessidade ou dependência, são um dos principais grupos acometidos por tal condição. Estudantes da área de saúde também não fogem a regra. Um estudo realizado em Sergipe, por exemplo, evidenciou uma prevalência de 10,3% de burnout em estudantes de medicina, enquanto outro trabalho realizado com residentes de pediatria na Bahia apresentou prevalência de 14%.
As discrepâncias de prevalências ocorrem principalmente pelas diferentes amostras avaliadas. Diferentes profissionais de saúde (médico, enfermeiro), locais de trabalho (uti, maternidade), funções exercidas (psiquiatria, pediatria, intensivista), são algumas dessas variáveis. Em um estudo no Rio Grande do Norte observou-se, por exemplo, que técnicos de enfermagem de uma maternidade possuíam maior exaustão emocional do que técnicos de um hospital geral. Já em um hospital oncohematológico infantil em Campinas observou-se taxas de prevalência de burnout diferentes entre técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos (estudo não avaliou se diferença foi estatísticamente significativa).
Apesar de algumas controvérsias, há um consenso de que esta síndrome deve estar associada ao contexto ocupacional e deve apresentar alterações em três áreas centrais: 1) sensação de exaustão ou de perda de energia (exaustão emocional); 2) distanciamento afetivo, ou sensação de negativismo e cinismo relacionado ao trabalho (despersonalização); 3) redução de eficácia e realização profissional. Devido a isto, outros sintomas podem tornar-se presentes, tais como dificuldade no relacionamento social, mau humor, cansaço, ansiedade, alterações de sono e irritabilidade
Além do prejuízo pessoal, tal quadro também gera prejuízos às instituições empregadoras tanto pelas altas taxas de absenteísmo por doença, quanto pela redução da qualidade do serviço prestado por estes funcionários. É importante, portanto, que as próprias instituições adotem medidas que visem a prevenção e o manejo de casos de burnout. Diversas estratégias já se mostraram eficazes na sua prevenção, englobando desde melhorias de condições de trabalho até a presença de suporte médico/psicológico nos serviços.
A síndrome de burnout, portanto, é uma condição clínica que pode trazer um sofrimento importante tanto físico quanto psíquico. Soma-se a isto os prejuízos no âmbito laborativo (frustrações profissionais e demissões), nos relacionamentos sociais (rompimentos de laços afetivos no trabalho) e no âmbito familiar (desestabilização devido a demissões). Sendo assim, o diagnóstico desta condição é de extrema importância para que o tratamento adequado possa ser realizado nesses pacientes.
Referências:
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