No último jogo do Brasil, nesta Copa do Mundo, o jogador Neymar recebeu uma joelhada na coluna, estando fora das competições devido à uma fratura na terceira vértebra lombar (L3), mais especificamente no processo transverso esquerdo. Gostaria de aproveitar estes acontecimentos para revisarmos um pouco sobre a abordagem do trauma toracolombar.
Traumatismos da Coluna Vertebral
No último jogo do Brasil, nesta Copa do Mundo, o jogador Neymar recebeu uma joelhada na coluna, estando fora das competições devido à uma fratura na terceira vértebra lombar (L3), mais especificamente no processo transverso esquerdo. Gostaria de aproveitar estes acontecimentos para revisarmos um pouco sobre a abordagem do trauma toracolombar.
Todo paciente politraumatizado ou que sofreu trauma de alta energia deve ser inicialmente abordado como se tivesse uma lesão vertebral. Desse modo, estas vítimas devem ser manipuladas sempre com colar cervical e prancha longa. Após o ABC do ATLS, um exame neurológico direcionado (corresponde à letra D: disability) deve ser realizado, à procura de sinais de trauma raquimedular.
Uma avaliação inicial da gravidade da lesão medular pode ser obtida pelo exame de função neurológica sacral (flexão do hálux, tônus retal, reflexo cutâneo-anal, reflexo bulbocavernoso, função vesical e retal). A presença de função sacral indica que a lesão medular é incompleta, sendo de melhor prognóstico.
O exame da coluna vertebral também é passo fundamental, mesmo na vítima sem sinais neurológicos. Deve-se palpar toda a coluna após rolar o paciente para decúbito lateral, à procura de dor localizada, deformidades, espaçamento entre processos espinhosos, dentre outros.
As causas mais frequentes de lesão da coluna vertebral, em ordem decrescente, são: acidentes automobilísticos, quedas, esportes e agressão.
As fraturas da coluna podem ser divididas em estáveis e instáveis. Nas fraturas instáveis, há risco iminente do deslocamento dos fragmentos, provocando lesão medular. Estas fraturas, na maioria das vezes, exigem fixação interna. Já o tratamento das fraturas estáveis é, em geral, conservador (imobilização externa).
As fraturas cervicais respondem por menos de 10% das fraturas vertebrais, porém são as mais graves. Já as fraturas toracolombares são as mais frequentes do esqueleto axial (90% das fraturas da coluna). Os segmentos mais afetados são T12, L1 e L2, devido sua maior mobilidade. As fraturas lombares instáveis podem causar a síndrome da cauda equina, caracterizada por paraparesia, anestesia em sela, ausência dos reflexos sacrais e disfunção esfincteriana. Lembre-se que, a partir do segmento L2, já não há segmentos medulares, apenas raízes nervosas (a chamada cauda equina).
Agora, vamos falar um pouco mais especificamente da lesão lombar no jogador Neymar. Observe a figura abaixo e revise alguns conceitos anatômicos:
Anteriormente, a coluna lombar tem cinco corpos vertebrais ligados pelos discos intervertebrais. O canal neural fica centralmente, contendo os nervos periféricos. Dorsalmente, estão localizados as facetas, os processos transversos, os processos articulares e os pedículos.
A fratura isolada do processo transverso tem sido mencionada como lesão menor, geralmente causada por trauma direto (como, por exemplo, uma joelhada…). Entretanto, são geralmente causadas por grandes forças mecânicas, sendo fundamental uma avaliação clínica e radiológica detalhada para afastarmos lesões abdominais, torácicas ou geniturinárias associadas. As radiografias convencionais são insensíveis para a detecção desta lesão, sendo se diagnóstico realizado através da tomografia computadorizada helicoidal. Quando não associadas a déficits neurológicos ou instabilidade estrutural, devem ser tratadas de maneira conservadora.
Igor Torturella
Referências
PEREIRA, CU; SILVA JUNIOR, EB; SANTOS, LPA. Fratura do processo transverso da vértebra lombar: valor diagnóstico. Arq Bras Neurocir 31(3): 160-2. 2012.
DEFINO, HLA; ZARDO, EA. Traumatismos da coluna toracolombar. 2012.
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