Queimaduras: Introdução
Queimaduras são lesões em decorrência de trauma de origem térmica. Quanto ao diagnóstico etiológico, podem ser: térmicas, químicas, elétricas, por radiação, por atrito, por outras causas.
Independente da causa, ocorre uma intensa resposta metabólica à injúria provocada. Podemos citar a liberação de substâncias vasoativas, com queda do débito cardíaco (pode ocorrer prejuízo da irrigação de diversos órgãos) e aumento da frequência cardíaca, uma tendência inicial a formação de microtrombos, a isquemia gastroduodenal gerando as úlceras de Curling (daí a importância da profilaxia com inibidores da bomba de prótons), perda da pele como barreira protetora, prejuízo da imunidade humoral e celular, hipermetabolismo, edema intenso, entre outros.
Quanto sua profundidade, as queimaduras podem ser classificadas de acordo com a tabela a seguir:
Grau |
Profundidade |
Sinais |
Primeiro |
Lesões apenas da Epiderme |
Eritema e dor. Exemplo clássico é a queimadura solar. |
Segundo |
Lesões da Epiderme e parte da Derme |
Presença de flictena (bolha), superfície com aparência úmida, muito dolorosa. |
Terceiro |
Lesões da Epiderme e da Derme |
Pode apresentar-se translúcida, escura ou esbranquiçada, aspecto de cera ou de couro; a superfície é indolor e geralmente seca. |
Para o cálculo da superfície corporal queimada, podemos utilizar a Regra dos 9. Na imagem abaixo, o corpo humano é divido em segmentos, sendo os valores apresentados uma estimativa da respectiva área corporal em porcentagem. Os valores são diferentes entre crianças e adultos. Exemplo: uma mulher com queimadura do tronco anterior (9%), abdome (9%) e todo membro superior esquerdo (4,5%) apresentaria uma superfície corporal queimada de aproximadamente 22,5%.
Existem outros mapas corporais, com mais detalhes e variáveis, sendo estes os geralmente usados pelos serviços de referência… Entretanto, a Regra dos 9 é uma forma simples e prática para a aplicação destes conceitos. Outra regra que também podemos citar é a Regra da Palma da Mão, na qual consideramos que a área da palma da mão de um indivíduo corresponde aproximadamente a 1% de sua superfície corporal.
Devemos lembrar que a gravidade da queimadura depende de uma série de fatores: etiologia, profundidade, extensão, localização, idade da vítima e presença comorbidades. Dessa forma, podemos separar o paciente queimado em três grandes grupos, com importante significado prognóstico. O quadro abaixo apresenta os critérios para a classificação.
Pequeno Queimado
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Médio Queimado
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Grande Queimado
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Ou ainda, se presença de:
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Já percebemos que a lesão das vias aéreas pode ser evento muito grave (sua presença já classifica o doente como grande queimado). Com a formação do edema, o paciente pode entrar em insuficiência respiratória… E o pior: o edema dificulta, e muito, o processo de intubação. Dependendo da gravidade do quadro, o tratamento será feito apenas com oxigenioterapia ou, nos casos graves, intubação com ventilação mecânica. Por isso devemos sempre nos atentar para os indicadores de lesões por inalação. São eles:
- Queimaduras faciais e/ou cervicais;
- Chamuscamento dos cílios e das vibrissas nasais;
- Escarro carbonado;
- Rouquidão;
- História de confinamento no local do incêndio;
- História de explosão com queimaduras de cabeça e tronco;
- A presença de estridor é indicação imediata para intubação endotraqueal;
- Em queimaduras circunferenciais do pescoço, opta-se pela intubação precoce (pelo risco da formação de edema).
Edema no grande queimado.
Estes conceitos iniciais serão importantes para nossa próxima discussão: a abordagem inicial do grande queimado. São pacientes extremamente graves e com muitas peculiaridades. Apesar disso, notamos que a maioria dos profissionais não está apta para conduzi-los de forma adequada. Um bom estudo e até a próxima!
Igor Torturella
Bibliografia
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Queimaduras: Diagnóstico e Tratamento Inicial. Projeto Diretrizes. 2008.
Macedo, JLS. Complicações Infecciosas em Pacientes Queimados. Rev. Soc. Bra. Cir. Plást. 2006.