Este é um assunto difícil para a maioria dos estudantes de medicina, não só pela sua complexidade como também pela “fobia” de grande parte dos médicos pela matemática. E de fato, como é difícil! Para a identificação das acidemias (baixo pH sanguíneo por elevação dos ácidos ou redução das bases) ou alcalemias (alto pH sanguíneo por redução dos ácidos ou elevação das bases) é essencial fazer uma boa interpretação de uma gasometria arterial.
Antes de mais nada, é preciso entender que o pH sanguíneo é mantido numa faixa estreita entre 7,35 e 7,45 graças a capacidade dos pulmões em excretar CO2 e dos rins eliminarem ácidos fixos, principalmente HCO3. Portanto, quando olhamos a gasometria e vemos, por exemplo um pH de 7,30 (acidemia) e CO2 alto, dizemos que estamos diante de uma acidose respiratória, pois a retenção de CO2 pelos pulmões é que é responsável pela acidemia. Por um outro lado, se tivermos o mesmo pH mas com HCO3 baixo, temos também uma acidose só que metabólica já que a excreção renal de bases é a causadora do distúrbio. Também é importante saber que a respiração regula de forma pouca intensa mas instantânea o pH, enquanto é a excreção renal que regula o pH no longo prazo e de forma lenta.
Mas, como tudo nunca é tão simples para os médicos, não é só isso que acontece, pois o organismo de forma sábia busca se contrapor às acidemias e alcalemias. Por isso, quando temos uma alteração de um dos dois parâmetros, PCO2 e HCO3, o outro também se altera da mesma maneira. Por exemplo, se o organismo está retendo HCO3, esta substância está elevada no sangue, tendendo a uma alcalemia, logo a tentativa do corpo de manter o pH normal será reter CO2 reduzindo a frequência respiratória de forma a tamponar o excesso de bases.
Bom, nisso você leitor me pergunta, “Qual a importância disso? Não é meio óbvio que o corpo buscaria manter a normalidade?”. Bem, aí é que está o pulo do gato, pois se a resposta for da forma esperada, ou seja, de intensidade normal, o distúrbio é dito simples. Mas se a resposta for pouco intensa ou demasiadamente intensa, dizemos que o distúrbio é misto podendo levar até mesmo a um pH normal.
Na acidose metabólica, a fórmula para calcular o PCO2 esperado é:
[(1,5 x HCO3) + 8] ± 2 = PCO2
Note que o resultado nos fornece não um valor preciso, mas um intervalo de 4 unidades. Por exemplo: 21 a 25 para 10 de HCO3. Todas as outras fórmulas abaixo utilizam a variação (Δ) da concentração das substâncias.
Para alcalose metabólica:
ΔPCO2 = 0,6 x Δ HCO3
Para acidose respiratória aguda:
ΔHCO3 = 0,1 X Δ PCO2
Para alcalose respiratória aguda, usar a fórmula da acidose e multiplicar o resultado por 2.
Na acidose crônica:
ΔHCO3 = 0,4 X ΔPCO2
Na alcalose crônica:
ΔHCO3 = 0,4 a 0,5 X ΔPCO2
Por hoje chega não é? Mas prepare-se, esta semana ainda falaremos de outros parâmetros como ânion-gap para encerrar o assunto. Se tiverem dúvidas (eu sei que serão muitas), perguntem!
Yan Carvalho