O que é
Pancreatite aguda é um processo inflamatório agudo decorrente da autodigestão do pâncreas causado pelas próprias enzimas pancreáticas, podendo ou não envolver subsequentemente outros tecidos regionais, órgãos ou tecidos a distância.
Tipo
Pode ser classificada clinicamente em pancreatite aguda leve ou grave. Na forma leve as alterações clínicas sistémicas e locais são mínimas. Os achados anatomopatológicos apresentam uma pancreatite aguda edematosa.
Em sua forma grave estão presentes os sinais de falência de órgãos como hipotensão arterial, insuficiência respiratória, insuficiência renal e sangramento do trato gastrointestinal. As complicações locais como necrose, abscesso e pseudocisto pancreático estão presentes. Os achados anatomopatológicos caracterizam-se por uma pancreatite aguda necrohemorrágica.
Causas
As principais causas relacionadas a pancreatite aguda são a litíase biliar e o etilismo. Outras causas podem ser hiperlipemias, pancreatite hereditária, hiperparatireodismo, hipercalcemia, anormalidades anatômicas (pâncreas divisum), medicamentos (quimioterápicos, retrovirais), infecções virais (Coxsackie vírus), doenças vasculares, procedimentos cirúrgicos (colangiopancreatografia retrógrada endoscópica, pós – operatório de cirurgias abdominais e cardíacas), trauma abdominal e fibrose cística.
Sintomas
O paciente apresenta dor abdominal difusa, localizada no andar superior do abdômen, em faixa, irradiada para as costas, de intensidade fraca de início, evoluindo (de minutos a horas) para forte intensidade que não melhora com decúbito ou uso de analgésicos e frequentemente é acompanhada por náuseas e vômitos.
Os sinais clínicos presentes podem ser febre, desidratação, taquicardia, hipotensão arterial, dor leve a palpação abdominal até irritação peritoneal e hematoma periumbilical e/ou flancos da parede abdominal.
Incidência
No Brasil e EUA, a incidência média de pancreatite aguda é, respectivamente, de 19 e 65 casos por 100 mil pessoas ao ano. Nos EUA 220 mil internações ao ano são devido a episódios de pancreatite aguda. A incidência é maior com o envelhecimento e em homens.
A incidência de pancreatite aguda relacionada a litíase biliar aumenta com a idade tanto em homens quanto em mulheres, sendo o maior risco em mulheres acima de 60 anos. Pacientes com cálculos biliares menores que 5 mm, microcálculos, “barro” biliar são considerados de alto risco para desenvolverem pancreatite aguda.
Diagnóstico
A presença de história clínica característica de pancreatite aguda associada ao aumento sérico das enzimas pancreáticas amilase e lipase confirmam o diagnóstico clínico-laboratorial. Sinais inflamatórios como leucocitose, aumento de proteína C reativa e procalcitonina podem estar presentes.
A tomografia computadorizada ou a ressonância magnética abdominal podem ser utilizadas para confirmar o diagnóstico, determinar se há complicações presentes, avaliar a evolução da doença e auxiliar no diagnóstico diferencial.
O diagnóstico diferencial compreende cólica biliar, doença péptica, perfuração intestinal, isquemia mesentérica, obstrução intestinal, infarto do miocárdio, aneurisma dissecante de aorta e prenhez ectópica.
Tratamento
Os objetivos do tratamento da pancreatite aguda são o suporte clínico com reposição volêmica (hidratação), analgesia, controle de náuseas/vômitos, realimentação precoce e fornecer suporte às complicações sistêmicas quando presentes (infecção, insuficiência respiratória, insuficiência renal, hipotensão arterial, alterações metabólicas). A realização de procedimentos invasivos, incluindo tratamento cirúrgico, está reservada para indicações específicas conforme etiologia (litíase biliar – colecistectomia) e presença de complicações locais (necrose, abscesso, pseudocisto).
Prognóstico
Dos pacientes internados por pancreatite aguda, 20 a 30% evoluem para a forma grave. A mortalidade geral na pancreatite aguda é estimada em 5%. Entretanto, na forma grave com necrose pancreática estéril a mortalidade aproxima-se a 10%, podendo chegar a 30% quando há necrose pancreática infectada. A mortalidade está aumentada em pacientes mais idosos, com aparecimento precoce de complicações locais/sistêmicas e etiologia idiopática ou traumática.
Por dr. Roberto F. Meirelles Jr., cirurgião do aparelho digestivo do Einstein