Não se trata apenas de Neurologia. Criança não é um adulto em miniatura, e é aí que o papel da Neurologia Pediátrica faz toda a diferença. Ela vai tratar de olhar pra doenças neurológicas em neonatos, lactentes, crianças e até adolescentes, uma vez que esses pacientes exigem um manejo diferenciado devido às características singulares de cada faixa etária.
O neuropediatra, como é chamado o médico especialista nesta área, é aquele profissional de extrema importância no tratamento de problemas no sistema nervoso e sistema muscular, quando, por exemplo, é necessário avaliar a defasagem no desenvolvimento motor, cognitivo e de linguagem manifestados em pacientes crianças e adolescentes.
O que é a Neurologia Pediátrica?
A atuação da Neuropediatria está intimamente ligada à atuação de outras especialidades médicas, em destaque a Pediatria. Isso porque a Neurologia Infantil vai abranger e tratar de enfermidades e distúrbios da medula espinhal, cérebro, sistema nervoso periférico, sistema nervoso autônomo, músculos e vasos sanguíneos que afetam as crianças e normalmente são diagnosticadas ou tem sua investigação inicial, na consulta pediátrica de rotina.
E os atendimentos vão desde os transtornos relativamente simples, como cefaleias, hiperatividade, déficit de atenção, problemas com sono e terror noturno até os mais complexos como distúrbios neurodegenerativos, autismo, paralisia, e outros. Se uma criança tem problemas que envolvem o sistema nervoso, é aí que entra em campo o neurologista pediátrico com sua sensibilidade, conhecimento aprofundado e treinamento especializado para avaliar, diagnosticar e tratar com eficácia a criança doente.
Se isso é uma novidade para você, saiba que para se tornar um neuropediatra é necessário ter concluído antes uma residência em Neurologia ou em Pediatria e cursar por mais pelo menos 2 anos a especialização em Neurologia Pediátrica. A gente vai te contar tudinho sobre a residência e o que esperar, pra você seguir nessa carreira e caminhar na direção certa do seu sonho.
O que faz o Neurologista Pediatra?
Na maioria das vezes, as crianças são levadas pelos pais ao primeiro atendimento com esse especialista por indicação do pediatra. Eles observam um comportamento que por vezes foge ao comum ou referem dores e sintomas sentidos ou percebidos: às vezes a criança demorou para conseguir sentar-se sem apoio, teve dificuldades em aprender a engatinhar ou tardou demais a começar a falar. Esses marcos de desenvolvimento neuropsicomotor são os fatores de atenção que os responsáveis mais notam e comunicam ao pediatra. Infantes em idade escolar costumam ser pacientes recorrentes dessa especialidade: são problemas com o rendimento acadêmico, deficiência intelectual ou altas habilidades cognitivas, dislexia, dislalia, convulsões e cefaleias constantes que acendem o sinal de alerta.
Contar com um pediatra nessas horas faz toda a diferença, pois além de se preocupar com a saúde da criança, ele será capaz de orientar os pais da melhor forma durante todo o tratamento e ainda, se julgar imprescindível, indicar a neuropediatria para atuar em conjunto.
O neuropediatra, logo na primeira consulta, faz a avaliação criteriosa do paciente, muito por base dos relatos da família e das indicações do pediatra e, se necessário, faz a solicitação de alguns exames complementares, sejam eles de laboratório, imagem ou neurofisiológicos, pois eles serão a base para auxiliar no diagnóstico.
E não ache você que o Neuropediatra está sozinho, não! O seu trabalho é muitas vezes auxiliado por outros profissionais da saúde. A gente já viu que o pediatra pode andar lado a lado do Neurologista Infantil, mas nessa empreitada também pode atuar uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psiquiatras, e até geneticistas, buscando trazer conforto e tratamento a criança em atendimento.
Também não pense que só a primeira infância ou os pré-adolescentes são os que mais demandam desse especialista! Nem sempre a criança precisa estar maiorzinha e apresentar sintomas para que ele entre em ação. Há casos em que a presença do neurologista infantil é requisitada desde o nascimento e o acompanhamento se dá por muitos anos.
Como são a rotina e o mercado de trabalho do especialista em Neurologia Infantil?
Quem pensa em se enveredar pelos caminhos da Neuropediatria, certamente quer saber mais, não é mesmo? Como vai ser seu dia a dia, quais as prevalências nos atendimentos, se o cofrinho vai estar sempre cheio… É chegada hora então de esmiuçar esses pormenores!
A consulta com um Neurologista Infantil tende, num primeiro momento, a diagnosticar a causa ou doença que acomete a criança. Partindo do histórico familiar, relato da rotina e desenvolvimento, além dos sintomas e queixas, o Neuropediatra pode solicitar exames complementares e indicação de profissionais para atuar conjuntamente para determinar os próximos passos. Depois disso, o médico poderá iniciar com a medicação, cirurgia ou terapias integradas. E são muitos e variados os tratamentos aplicados pelo Neurologista Infantil, podendo variar da aplicação de medicação, rotina de exames ou indicação cirúrgica. Tudo isso pra sanar as dores, os distúrbios neurológicos infantis, mas também buscando prevenir, retardar ou diminuir disfunções motoras dos pequenos pacientes.
Além de todo esse acompanhamento de pertinho após o diagnóstico, o Neuropediatra pode indicar acompanhamento preventivo, buscando diminuir a incidência de doenças genéticas e a ajudar cada criança a atingir o seu pleno potencial, mesmo com distúrbios neurológicos.
Somado a isso tudo, cada vez mais temos o fortalecimento de áreas dentro da Neuropediatria, como a Neuroimunologia, Neurogenética, o desenvolvimento de novas tecnologias e o aprimoramento de antigas, como a realização do eletroencefalograma.
Como você viu, a Neurologia Pediátrica é uma área delicada que exige sensibilidade, porque é complexa e desafiadora. Os atendimentos aos pequenos se dão, na maior parte dos casos, em consultórios e ambulatórios, normalmente encaminhados por pediatra ou clínico. Por esse motivo, o médico especialista neste campo da medicina possui interface com inúmeras especialidades pra fazer a melhor abordagem transdisciplinar nos diagnósticos e tratamentos. Não se esqueça de que a infância é uma fase linda e única na vida do indivíduo humano, por isso, qualquer patologia que atrapalhe o desenvolvimento nesse período pode repercutir negativamente por toda a sua vida. O papel do Neuropediatra é tão importante, pois pode minimizar os impactos de doenças neurológicas na vida adulta, tornando o paciente mais autônomo e funcional na sociedade.
A carreira do médico especialista em Neurologia Infantil é permeada por desafios, mas ninguém achou que teria sombra e água fresca, né? Os atendimentos podem ser feitos em consultórios particulares, compartilhados, clínicas especializadas e associadas a convênios médicos.
O campo de atuação desse profissional também inclui hospitais exclusivamente para atendimento pediátrico, hospitais públicos e particulares. É no Sistema Único de Saúde (SUS) e nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) dos grandes municípios ou unidades de saúde estaduais e federais – nesse pacote a gente tem postos, ambulatórios, pronto-atendimento e hospitais gerais – que a demanda de recém-formados em Neurologia Infantil é bem absorvida e demandada.
A rotina de plantão existe e pode ser o plus dado na trajetória do médico, tanto pra aumentar seus rendimentos financeiros quanto pra adquirir mais experiência e pegar mão nos atendimentos mais complexos. Com a expansão do EAD, o neuropediatra também pode atuar em cursos de formação, realizar teleatendimentos, lecionar em universidades, participar de pesquisas de institutos consagrados como a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) ou atuar em empresas farmacêuticas privadas, nacionais ou internacionais, na busca de novas medicações para patologias neurológicas infantis.
Não muda muito em relação a outras especialidades, o salário inicial daqueles que estão caindo no mercado logo após a formação, que gira em torno de R$5.500,00 por 16 horas semanais, segundo levantamento salarial atualizado em 2020 com dados oficiais do mercado de trabalho no Brasil segundo Novo CAGED, eSocial e Empregador Web, divulgados pela Secretaria da Previdência e Trabalho do Ministério da Economia (antigo MTE – Ministério do Trabalho) e cálculos estatísticos do site salario.com.br.
Mas, vamos combinar: tudo depende de você, dos locais onde vai atuar, da quantidade de plantões assumidos, do tamanho da empresa e da região do país. A única certeza é que pra encher o cofrinho tem que trabalhar muito! Não é muito diferente do que você tem feito até agora, né? Mas, a realização pessoal e a possibilidade de melhoria na qualidade de vida dos pequeninos podem ser uma recompensa a mais pra quem deseja atuar nesse campo.
A residência médica em Neurologia Pediátrica
Agora chegou a hora de saber como faz pra chegar lá e dar de cara com seu sonho! Os médicos que desejam se inserir na Neurologia Pediátrica têm um longo e árduo caminho pela frente. O interessado deve cursar primeiro a residência médica em Pediatria (3 anos) ou em Neurologia (3 ou 4 anos). Ambas são especialidades de acesso direto – uma boa notícia, né?
Passando essa etapa, é o momento de escolher uma instituição e passar pelos processos de aprovação, bastante parecidos com os da residência feita anteriormente: provas de múltipla escolha, prática e entrevista e aí sim, estará pronto pra cursar por mais 2 anos a Área de Atuação da Neurologia Pediátrica.
Na USP (Universidade de São Paulo), por exemplo, os residentes da Neuropediatria tem atividades intensas de atendimento ambulatorial e emergencial no HC (Hospital das Clínicas) e rodam, nos dois anos de estudos, em estágios supervisionados no pronto-socorro do ICr, nos berçários do IC e do ICr bem como nas enfermarias do ICr, Incor (Instituto do Coração) e de outras divisões dos diferentes Institutos do complexo HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) que atendam crianças que necessitem de cuidados neurológicos. Apenas uma observação: na USP-SP, a especialização ocorre em 3 anos, diferente do habitual!
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