Um estudo duplo cego randomizado, conduzido pela USP-RP, demonstrou benefício na redução de oxigênio suplementar, redução da internação e redução da PCR (um marcador de atividade inflamatória) no grupo que usou colchicina X placebo. O grupo estudado estava internado na enfermaria e em uso de oxigênio (mas não na UTI, sem necessidade de ventilação mecânica). A segunda fase desse estudo incluirá esse perfil de paciente mais grave.
O que é a colchicina?
A Colchicina é uma medicação com ação anti-inflamatória usada em alguns doenças como Gota, síndrome de Behcet e doenças autoinflamatórias. Essa medicação é um derivado alcaloide de uma planta (Colchicum autumnale) e ela age por meio diversos mecanismos, sendo o principal deles a inibição irreversível de tubulina levando a redução de atração de células (quimiotaxia de neutrófilo) e reduzindo fatores inflamatórios como prostaglandinas e leucotrienos. Seu uso é via oral (comprimidos) e tem uma rápida absorção e distribuição por todos os tecidos, sendo administrada duas a três vezes ao dia.
Os principais efeitos colaterais são:
– Náuseas, diarreia, vômitos;
– Queda de plaquetas e leucócitos;
– Neuromiopatia (principalmente, quando associados à Ciclosporina);
– Queda de cabelo;
– Amenorreia (ausência de menstruação);
– Disfunção do sistema nervoso central.
Lembretes fundamentais:
– Sempre avaliar a função renal do paciente;
– Diarreia pode ser indicação de redução da dose/suspensão;
– Evitar uso associado com Ciclosporina, pelo risco de neuromiopatia.
Em excesso, substância pode ser tóxica
A colchicina é um medicamento oral utilizado há décadas no tratamento da gota, “uma doença inflamatória que acomete sobretudo as articulações e ocorre quando a taxa de ácido úrico no sangue está em níveis acima do normal (hiperuricemia)”, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia. No entanto, o uso indiscriminado e sem supervisão médica envolve sérios riscos e pode levar à morte, já que a medicação, em alta quantidade, é tóxica para o corpo.
A colchicina pode reduzir o risco de complicações relacionadas ao COVID-19
Os resultados positivos do estudo COLCORONA mostram que a colchicina é o único medicamento oral eficaz para o tratamento de pacientes não hospitalizados. Voluntários tratados com o fármaco ficaram livres da suplementação de oxigênio, em média, três dias antes do que os pacientes que receberam apenas o protocolo terapêutico padrão do hospital.
Outra vantagem do fármaco, segundo os pesquisadores, é o fato de seus eventos adversos serem amplamente conhecidos pelos médicos, sendo o principal deles a diarreia. Mas é importante ressaltar que, no caso da COVID-19, os benefícios foram observados apenas em pacientes hospitalizados e com algum nível de comprometimento pulmonar. Não é recomendado o uso indiscriminado do fármaco, nem para prevenção e nem para tratar sintomas leves da doença.
O Montreal Heart Institute (MHI) anunciou que o ensaio clínico COLCORONA forneceu resultados clinicamente convincentes da eficácia da colchicina para tratar a COVID-19. A colchicina reduziu em 21% o risco de morte ou hospitalizações em pacientes com COVID-19 em comparação com o placebo. A análise dos 4.159 pacientes nos quais o diagnóstico de COVID-19 foi comprovado por um teste de PCR nasofaríngeo mostrou que o uso de colchicina foi associado a reduções estatisticamente significativas no risco de morte ou hospitalização em comparação ao placebo. Nestes pacientes com diagnóstico comprovado de COVID-19, a colchicina reduziu as hospitalizações em 25%, a necessidade de ventilação mecânica em 50% e as mortes em 44%. O tratamento de pacientes com risco de complicações com colchicina, assim que o diagnóstico de COVID-19 é confirmado pela PCR, reduz o risco de desenvolver a forma grave da doença e, consequentemente, diminui o número de hospitalizações.
“Nossa pesquisa mostra a eficácia do tratamento com colchicina na prevenção do fenômeno da ‘tempestade de citocinas’ e na redução das complicações associadas ao COVID-19”, disse o Dr. Jean-Claude Tardif, Diretor do Centro de Pesquisa MHI, Professor de Medicina da Université de Montreal e pesquisador principal do estudo COLCORONA. “Temos o prazer de oferecer o primeiro medicamento oral do mundo cujo uso pode ter um impacto significativo na saúde pública e potencialmente prevenir complicações COVID-19 para milhões de pacientes.”
Conclusão
Apesar de utilizada há séculos, a comprovação por estudos científicos criteriosos fazia falta, pois a colchicina apresenta um perfil de efeitos colaterais bem extenso e doses tóxicas eram frequentemente prescritas. Entretanto, devido aos avanços nos estudos, conclui-se que a colchina talvez seja uma das substâncias que melhor ilustra a frase atribuída a Paracelso (1493-1541): “Todas as substâncias são venenos; não existe uma que não seja veneno. A dose certa diferencia um veneno de um remédio”.
Referências
[1] Colchicine reduces the risk of COVID-19-related complications: https://www.icm-mhi.org/en/pressroom/news/colchicine-reduces-risk-covid-19-related-complications
[2] Anti-inflamatório colchicina acelera recuperação de pacientes com COVID-19 hospitalizados: https://agencia.fapesp.br/anti-inflamatorio-colchicina-acelera-recuperacao-de-pacientes-com-covid-19-hospitalizados/33890/
[3] Colchicina, do papiro egípcio a possível tratamento contra o coronavírus: https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-01-27/colchicina-do-papiro-egipcio-a-possivel-tratamento-contra-a-covid-19.html
[4] Sobre o uso da Colchicina no tratamento da Covid-19: https://pfarma.com.br/coronavirus/6206-colchicina-covid.html
Texto retirado de:
https://academiamedica.com.br/blog/efeitos-da-colchicina-contra-a-covid