O câncer de pele não melanoma (CPNM) é um dos cânceres mais frequentes. De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), cerca de 1 milhão de novas lesões ocorreram em 2018 em todo o mundo. O carcinoma basocelular (CBC) é o tipo mais comum de CPNM que geralmente afeta pessoas brancas e é encontrado principalmente em áreas do corpo expostas ao sol. Embora o CBC comumente seja um tumor sem risco de vida, de crescimento lento e raramente cause metástase, pode causar comorbidade aos pacientes, além de comprometer regiões anatômicas.
Atualmente, o tratamento padrão para o CBC ainda é a cirurgia. No entanto, existem procedimentos não cirúrgicos que também foram aplicados, como métodos de remoção física (curetagem, criocirurgia ou eletrodissecação), medicamentos tópicos (por exemplo, 5-fluorouracil, imiquimod ou mebutato de ingenol), radioterapia, inibidores da via de hedgehog ou terapia fotodinâmica.
Uma limitação importante da terapia fotodinâmica tópica é a penetração limitada dos precursores nos tecidos. Microagulhas são dispositivos minimamente invasivos usados para promover a administração intradérmica de drogas. Microagulhas dissolúveis contêm drogas associadas a misturas de polímeros, dissolvendo-se após a inserção na pele, permitindo a liberação da droga.
Nesse contexto, buscando um modo mais eficaz de combater o câncer de pele utilizando a terapia fotodinâmica, pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, em colaboração com a Queen’s University of Belfast (Reino Unido), desenvolveram microagulhas que podem levar fármacos diretamente ao tumor para tratar o câncer de pele.
O estudo, publicado no periódico Journal of Biophotonics, compreende o desenvolvimento e a caracterização de um modelo piramidal de dissolução de microagulhas (500 μm) preparado com 5% p/p de ácido aminolevulínico e 20% p/p de Gantrez AN‐139 em mistura aquosa.
A formação e distribuição da protoporfirina IX, o principal fotossensibilizador utilizado na terapia fotodinâmica para tratar o carcinoma basocelular, foram avaliadas em modelos de camundongos com tumor usando imagens de campo amplo de fluorescência, espectroscopia e microscopia confocal.
A inovação é composta de um arranjo que contém 361 microagulhas, em formato de pirâmide, com 0,5 milímetro de altura. Durante a aplicação, o arranjo é posicionado na superfície do tumor e pressionado por 30 segundos. Ele permanece inserido no tumor para que as microagulhas se dissolvam por uma hora. Passado esse tempo, as microagulhas se dissolvem e o fármaco é absorvido pelo tumor. A partir de então, a região é iluminada, dando início ao processo de terapia fotodinâmica
As microagulhas demonstraram excelente resistência mecânica penetrando cerca de 250 μm com pequena alteração de tamanho in vitro, e a intensidade de fluorescência foi 5 vezes maior em 0,5mm em média em comparação com o creme in vivo (sendo 10 ± 5 a.u. para microagulhas e 2,4 ± 0,8 a.u. para creme).
Os resultados, portanto, demonstraram que microagulhas dissolúveis superaram a aplicação de creme tópico na distribuição de protoporfirina IX, sugerindo que essa abordagem de entrega intradérmica é extremamente promissora, especialmente para o tratamento de lesões de pele mais espessas usando terapia fotodinâmica. Após esses resultados promissores, a próxima etapa deve agora ser realizada em relação à eficácia desta abordagem em estudos clínicos.
Original: https://www.news.med.br/p/medical-journal/1385229/nova+terapia+pode+ajudar+a+combater+o+cancer+de+pele+utilizando+microagulhas+dissoluveis+para+entregar+farmacos+diretamente+ao+tumor+via+terapia+fotodinamica.htm